Review | House of the Dragon – S01E02 – The Rogue Prince

Em The Rogue Prince, House of Dragon dá continuidade ao forte tom político, sem abrir mão da beleza visual

The Rogue Prince, título do segundo episódio de House of Dragon, define bem aquilo que o episódio pretende tratar. Qualquer um que já jogou Dungeons & Dragons sabe que traduzir o termo Rogue, para português, não é uma tarefa exatamente simples. Chamar de ladrão, ou similares, é simplificar e reduzir demais as coisas. Rogue talvez estaria mais para marginal, não apenas no sentido criminoso, mas na raiz do termo que indica alguém que vive de certa forma às margens das normas estabelecidas ou simplesmente as desafia a todo momento. Estamos falando, afinal, de Daemon Targaryen, um dos principais e mais interessantes personagens dessa série, aqui, vivido muito bem por Matt Smith, com o estranho carisma que lhe é peculiar.

[button-red url=”#” target=”_self” position=””]Aviso de SPOILERS[/button-red]

Os comentários a seguir falam sobre acontecimentos encontrados em The Rogue Prince, o segundo episódio da primeira temporada de House of the Dragon.

Reduzir Daemon a um vilão ou mesmo um antagonista é reduzir demais aquele que parece ser um dos personagens mais atraentes e aparentemente complexos da série. Mas ele, sem dúvida, é um Rogue. 

O episódio inicia e logo descobrimos através de um diálogo que o irmão do Rei, insatisfeito com a decisão de Viserys de indicar Rhaenyra como herdeira ao trono, rebelou-se contra a coroa, roubou um ovo de Dragão, anunciou que iria tomar uma segunda esposa (sua amante e prostituta, Mysaria) e que ela estaria grávida de um herdeiro. Convocou seus fiéis soldados – os capas douradas, a já temida e implacável guarda de Porto Real que havia lhe sido concedida pelo seu irmão e que ele, Daemon, treinara de acordo com sua personalidade -, e tomou Stepstone, uma importante fortaleza de Westeros. Enquanto o Grande Conselho parece tratar o evento como apenas mais uma “travessura” do príncipe, Corlys Velaryon exige do rei uma resposta militar. Diante do desafio, Viserys decide enviar uma comitiva a Stepstone com o principal objetivo de recuperar o ovo de Dragão, uma poderosa arma, conforme lembram os membros do Conselho.

Rhaenyra, que por sua vez havia se intrometido na reunião, mais cedo, sugerindo que dragões fossem usados para espalhar terror ao Engordador de Caranguejos (esse sim, um bandido e pirata que vinha desafiando o poder da coroa nas fronteiras), questiona que ovo Daemon teria roubado, e descobre que se trata justamente do ovo que ela pessoalmente havia escolhido para ser de seu irmão recém-nascido que morrera recentemente logo após o parto. Isso, é claro, a deixa muito pouco satisfeita. É evidente como Daemon arquitetou magistralmente sua provocação ao irmão e à coroa, e também como ele é muito bom nisso. 

Após uma discussão acerca de quem levaria a Guarda Real para recuperar o ovo, o rei decide por enviar a sua Mão, Otto Hightower. Otto, ele sabe, possui o comedimento necessário para lidar com o volátil Daemon que, como é também sabido, deseja sobretudo que sua provocação seja respondida com violência para que ele possa instaurar o caos e conflito que tanto deseja. Porém, assim que a comitiva chega a Stepstone, Daemon logo demonstra que, seu talento para provocar, é algo que não deveria ser subestimado nem mesmo pelo fleumático Otto Hightower. E é nesse momento que Matt Smith brilha. Em cada expressão facial, em cada silêncio, em cada insulto proferido, vemos um personagem a um só tempo fascinante, sedutor, nobre, decidido, desafiador e, sobretudo, perigoso. Daemon não apenas é um mestre da batalha, mas também parece ser muito hábil, ainda que de uma forma um tanto quanto truculenta, ser bastante hábil no jogo da política. 

Quando uma batalha está prestes a eclodir entre a Guarda Real e a Guarda da Cidade, eis que surge Rhaenyra cavalgando sua dragonesa Syrax, imponente em seu poder e majestade, se impondo diante de Caraxes, o perigoso Dragão vermelho de Daemon que a tudo observa aterrorizando os inimigos do príncipe. Majestosamente, após apear de Syrax, Rhaenyra caminha por entre os homens armados e maiores do que ela graciosamente em direção ao seu tio. Ela é apenas uma criança, ainda, mas já é maior que todos aqueles homens ali. Em valeryano, Rhaenyra confronta Daemon e exige a devolução do ovo. Ao que, Daemon, diante de sua sobrinha por quem nutre um afeto e admiração todo especial, simplesmente decide seu jogo, devolvendo o ovo. 

Raramente costumo fazer resumos, como isso, do que aconteceu em um episódio de uma série. Porém, essa sequência, a mais importante do episódio, me pareceu importante de ser descrita. Afinal, essa parece ser uma sequência na qual se sintetizam todos os mais importantes elementos que a série pretenderá explorar. Como, a partir da estranha relação entre Daemon e  Rhaenyra uma espiral de caos e violência irá se desenrolar.

Ainda, o interessante é ver como política e família seguem profundamente entrelaçados nesse segundo episódio, mantendo o tom que a série precisa. Mais ainda é perceber o simbolismo do ato de Daemon perante Rhaenyra. Ao lhe entregar o ovo ele está, ainda que com um olhar que mistura desafio e orgulho,  entregando o poder dos Targaryen nas mãos dela. Parece que o Rogue Prince, afinal, encontrou enfim uma igual, ou pelo menos, uma rainha digna de sua deferência.

House of the Dragon

Temporada: 1ª
Episódio: 02
Título: The Rogue Prince
Roteiro: Ryan Condal
Direção: Greg Yaitanes
Elenco: Paddy Considine, Matt Smith, Emma D’Arcy, Rhys Ifans, Steve Toussaint, Eve Best, Sonoya Mizuno, Fabien Frankel, Milly Alcock, Emily Carey e Graham McTavish
Exibição original: 28 de agosto de 2022 – HBO