Review | Os Anéis do Poder – 1×01: A Shadow of the Past

Review | Os Anéis do Poder – 1×01: A Shadow of the Past

Se você, assim como eu, se encantou por Tolkien e pela Terra Média com os filmes de Peter Jackson provavelmente estava com grandes expectativas para Os Anéis do Poder. E isso era justificado, afinal a Amazon Prime já investiu mais de 1 bilhão de dólares no projeto e desde o início prometeu algo grandioso.

Infelizmente, esses dois episódios lançados não foram suficientes para me dar a esperança de que em algum momento experimentarei as incríveis sensações que a trilogia de O Senhor dos Anéis me proporcionou.

Isso quer dizer que os episódios são ruins? Não exatamente, mas eles possuem uma considerável quantidade de problemas que prejudica e muito a experiência. Se a ideia era conquistar o público logo de cara é seguro dizer que poderiam ter feito algo bem melhor.

[button-red url=”#” target=”_self” position=””]Aviso de SPOILERS[/button-red]

Os comentários a seguir falam sobre acontecimentos encontrados em A Shadow of the Past, o primeiro episódio da primeira temporada de Os Aneis do Poder

Os Aneis do Poder se passa cerca de 3000 anos antes do que vemos em O Senhor dos Aneis. Essa é a chamada Segunda Era e alguns dos acontecimentos aqui retratados são abordados no livro Silmarillion.

Veremos a forja dos anéis do poder e o impacto deles na Terra Média. E também o possível retorno de Sauron, a personificação do mal.

Pena que não há muita coisa para se aproveitar em termos de história nesse início. O foco é mesmo o visual.

Não há como negar a exuberância dos aspectos técnicos de Os Anéis do Poder. Já no primeiro episódio somos brindados com lugares absolutamente magníficos que fazem jus à mente criativa de Tolkien. Com locações na Nova Zelândia, CGI de altíssimo nível e enquadramentos inspirados, é possível dar pause em praticamente qualquer momento e apreciar imagens de rara beleza.

E acho que os elogios terminam por aqui.

A Shadow of the Past nos apresenta a vários personagens importantes, mas nenhum tem a capacidade de nos conquistar. Eu terminei o episódio completamente indiferente a todos eles e os motivos são vários.

Galadriel é aquela heroína que de tão obsessiva se torna irritante e impossível de se identificar. Ela quer encontrar Sauron e acabar com o mal de uma vez por todas. Seus companheiros acreditam que esse mal não existe e que tentar encontrá-lo é uma arriscada perda de tempo. Arriscada porque ela resolve ir até os lugares mais longínquos e hostis da Terra Média e das maneiras mais perigosas possíveis. Um exemplo? Escalar o provável pico mais alto da região em meio a uma intensa nevasca.

Mas ela é a Galadriel e isso não é nada para ela. E que tal enfrentar um troll de gelo e matá-lo fazendo pose para câmera? Ou pular de um barco no meio do oceano e nadar umas três maratonas aquáticas como se não fosse nada?

Elfos são imponentes e destemidos, mas eles são de carne e osso. Mesmo em um universo onde a fantasia existe ela é tão fodona que se torna inverossímil. A minha suspensão da descrença tem limite. Isso aqui tem uma pegada de heroi indestrutível no estilo Capitã Marvel e Superman que já me saturou.

Prefiro os heróis problemáticos, falhos, que sofrem, sangram e que questionam suas capacidades e as missões que precisam seguir.

As coisas pioram quando faço comparações com A Casa do Dragão, por exemplo. Já no piloto daquele seriado percebemos o bom desenvolvimento de Rhaenyra, Daemon e Viserys e ficarmos investidos na trama.

Aí o problema é claramente dos criadores inexperientes de Os Aneis do Poder. O que eles tem em seus currículos? Apenas a colaboração não creditada no roteiro de Star Trek: Sem Fronteiras. Ou seja, nada.

Dizem que a Amazon Prime chegou a esnobar Peter Jackson, que se ofereceu para ser um tipo de consultor do universo Tolkien. A tal da oportunidade perdida.

Pelo menos as cenas com os ancestrais dos hobbits foram um pouco melhores.

Apesar de também exalar clichês, até que gostei da Pé-Peludo Nori. Ela é uma jovem que se sente um peixe fora d’água e almeja se aventurar mundo afora. Colher amoras e fugir de um lobo é pouco para ela. Interagir com um ‘gigante’ que caiu do céu em um tipo de cometa é algo mais aventureiro.

Aliás, esse é um dos poucos momentos intrigantes do episódio, pois nos faz tentar adivinhar quem é esse ser estranho. Seria Sauron? Seria Gandalf?

Caso seja Sauron é uma ótima oportunidade de entregar algumas reviravoltas. Aguardemos.

E quanto a história? Bem, não há muita coisa a ser dita.

Esse é um enredo frágil que fica ameaçando engrenar e jamais consegue. A ideia de ter personagens percebendo sinais do retorno de Sauron é promissora, mas faltou permitir que nos importemos de fato com eles e seus dramas particulares.

Espero que na sequência da temporada Galadriel, Arondir e Nori sejam melhor desenvolvidos, que de suas bocas saiam diálogos um pouquinho mais naturais e que suas atitudes sejam menos teatrais. Para um seriado funcionar é essencial criar empatia com seus personagens, algo que esteve longe de acontecer nesse início.

Nunca imaginei que passar uma hora na Terra Média pudesse ser tão decepcionante.



O Senhor dos Aneis: Os Aneis do Poder (The Lord of the Rings: The Rings of Power)

Temporada:
Episódio: 01
Título: A Shadow of the Past
Roteiro: John D. Payne, Patrick McKay
Direção: J.A. Bayona
Elenco: Morfydd Clark, Markella Kavenagh, Robert Aramayo, Ismael Cruz Cordova
Exibição original: 01 de setembro de 2022 – Amazon Prime

Bruno Brauns

Fã de sci-fi que gosta de expor suas opiniões por aí! Oinc!

4 comentários sobre “Review | Os Anéis do Poder – 1×01: A Shadow of the Past

  1. Gostei de sua crítica. Porém, discordo bastante. Jeremy Jahns teve uma opinião idêntica à sua. Recomendo o vídeo dele no YouTube.

    Eu gostei bastante do primeiro episódio, e o clima me remeteu imediatamente ao Silmarillion, que, diferente de LotR, é uma história bem High Fantasy, mesmo. Embora concorde que haja diálogos bastante expositivos, e que a obsessão de Galadriel é apresentada com pouca sutileza, a personagem não deixou de me cativar. Nori, mais ainda, me conquistou desde o primeiro momento. Claro que há, ali, alguns espalhamentos bastante óbvios com LotR (Nori, por exemplo, exerce a mesma função de Bilbo ou Frodo, como o “hobbit” que desafia sua cultura e parte em busca da Aventura). Claro que, intencionalmente, Galadriel é uma personagem mega-fodona que coloca três Mulheres- Maravilha e duas Capitães Marvel no bolso. Mas não é nada mt diferente do que fazem com Legolas nos filmes. Os elfos, não são, segundo Tolkien, seres que podem ser simplesmente definidos como de “carne e osso”. Eles são algo equivalente aos anjos na mitologia judaico-cristã, ou mesmo após heróis da mitologia grega, como Hércules ou Odisseus. Então, embora eu reconheça o exagero na caracterização de Galadriel, sua “fodonisse” não me incomodou em nada. Mas, sem dúvida, entendo quando você diz que é uma personagem que, para parte da audiência, pode ser difícil de se identificar.

    Em se tratando de um seriado, acho que boa cabe dar uma chance para que as personagens sejam desenvolvidas, e irão, normalmente, se dá ao longo de uma temporada. Creio que, só mais à frente, teremos condições de julgar melhor essas questões em específico.

    Por enquanto o que foi ali apresentado me encheu os olhos, e me devolveu imediatamente à Terra-Média. Tanto aquela que conheci antes pelos livros, quanto, depois, pelos filmes.

    1. Grande Mário Bastos.

      Acho que escolhi a expressão errada ao me referir aos elfos. O intuito era reforçar a noção de que eles não tem poderes que os tornem indestrutíveis.

      Quanto ao Legolas, de fato… mas particularmente eu não teria interesse em ver uma história em que o personagem principal fosse ele. De qualquer forma, no livro ele mostrou um pouquinho de vulnerabilidade ao se apavorar com a presença do Balrog em Moria.

      A primeira impressão para mim foi ruim, mas como você falou, tempo tem de sobra para que os personagens sejam melhor desenvolvidos. Eu estava com os episódios de A Casa do Dragão ainda muito frescos na minha cabeça e esperei por algo de nível semelhante.

      E realmente, o video do Jahns mostra uma opinião muito parecida. E ele ficou realmente decepcionado, triste até! teve que tomar um whisky para fazer o review haha

  2. Eu vou discordar de você também meu caro, eu acho que esperar que em um primeiro ep de uma série grande já se tenha uma grande história emaranhada é um pouco demais e o que Galadriel faz aqui não é nada de absurdo comparado a tantos outros personagens de fantasia que vemos por ai. Na real, ela nem fez muito pra mim.

    E esse arquétipo de personagem obstinado com uma missão que tomou para si eu até entendo que não lhe agrade, faz parte.

    Eu vi esse primeiro episódio um pouco atrasado depois de tantos comentários mistos e, apesar de nem estar interessado nessa série antes, acabeu gostando mais do que esperava.

  3. Na trilogia do Senhor dos Anéis acho que só Frodo pode ser classificado como um “herói falho”, pois os outros são todos “fodões”, cada um dentro dos limites do seus respectivos personagens.

    E eu nem achei Galadriel, achei que ela entra nesse quesito “herói falho” justamente por ser a única que parece conseguir enxergar que Sauron ainda está vivo e que paga um preço por isso. Ela tem lá a “dívida” com o irmão que a faz ficar obcecada com o assunto. Não sei se isso se aplicaria também aos elfos, mas acredito que a mensagem da série tenha a ver com empoderamento feminino e que as mulheres nunca são levadas a sério. Com isso sua insistência pode ser vista apenas como “maluquice” ou uma “obsessão”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *