Crítica | Era Uma Vez um Gênio

Crítica | Era Uma Vez um Gênio

George Miller é um diretor cujo estilo é difícil de se classificar, já que ele dirigiu obras bem distintas como Mad Max: Estrada da Fúria e Happy Feet: o Pinguim, só para citar algumas mais recentes. O primeiro é um filme de ação, enquanto o segundo é uma comédia musical voltada para o público infantil. Talvez para o cineasta o que realmente importe seja o poder da narrativa, que por acaso é um dos temas do seu novo longa-metragem chamado “Era Uma Vez um Gênio”.

O filme é protagonizado pela personagem Alithea, interpretada por Tilda Swinton, que é uma professora de literatura especializada em mitologias. Durante uma viagem a Istambul para uma palestra, ela encontra um objeto que revela um gênio que lhe oferece três desejos em troca de sua liberdade. Pelo fato de conhecer bem a história literária por trás de narrativas envolvendo “três desejos”, a protagonista sabe das armadilhas por trás disso. Assim, ela pede para que Djinn, o gênio, conte suas reais intenções.

Era Uma Vez um Gênio” assume o formato ao explorar a dinâmica da conversa entre Alithea e Djinn no quarto do hotel enquanto ele conta para ela seu passado. Dessa forma o espectador embarca em uma viagem através do passado para entender melhor a personalidade do gênio e o papo também nos faz conhecer mais sobre a protagonista.

O roteiro de George Miller e Augusta Gore explora de maneira interessante reflexões sobre temas como amor e principalmente sobre o poder da narrativa. Como Alithea é uma estudiosa sobre literatura, para ela muita coisa contada por Djinn parece familiar às fábulas mitológicas que ela estudou.

O problema é que as histórias contadas pelo gênio não têm um bom ritmo e em alguns momentos se tornam um pouco entediantes. O significado das tramas é interessante, mas a história em si nem tanto. Essa questão pode ser explicada através do próprio roteiro, que não apresenta situações atraentes, e também pela montagem, pois muitas vezes a narrativa é interrompida pela conversa entre Alithea e Djinn. Essa paralisação muitas vezes quebra a fluidez da trama e faz com que o espectador não faça a imersão total no universo do filme.

Por outro lado, a dinâmica entre Idris Elba e Tilda Swinton é muito boa e sustenta “Era Uma Vez um Gênio”. Os atores são ótimos e tem química entre si. Idris tem uma performance mais física, enquanto Tilda foca mais nas falas. A atriz é capaz de construir os personagens mais diversos e peculiares, e sua Alithea mantém esse padrão. A protagonista é “estranha”, mas ao mesmo tempo totalmente verossímil. Sua racionalidade contrasta com a fantasia das histórias de Djinn e isso dita o tom da narrativa do filme.

A parte técnica de “Era Uma Vez um Gênio” é muito competente, onde o visual é o principal destaque, tanto no design de produção, com belos cenários, quanto nos efeitos visuais. O CGI é bem utilizado e um bom exemplo é a criação de uma diferença de altura entre Alithea e Djinn, apesar de não terem na realidade. Esse efeito é criado de maneira orgânica, que faz o espectador acreditar que realmente existe uma desigualdade de tamanho entre eles e não algo realizado via computação gráfica.

A fotografia e os movimentos de câmera também são inteligentes na criação de uma boa dinâmica entre a conversa dos personagens dentro de um quarto de hotel, onde passam a maior parte do tempo em tela. Pena que isso seja prejudicado pela montagem. Outro ponto que deixa a desejar é a trilha sonora de Junkie XL, que abusa do minimalismo e não apresenta nenhum tema marcante para o filme.

Em síntese, “Era Uma Vez um Gênio” é um filme correto em que o diretor George Miller apresenta uma boa premissa e reflexões interessantes sobre o poder da narrativa, mas sem dúvidas era um longa-metragem que tinha potencial para ter um resultado final melhor.


Uma frase: – Alithea: “Não existe história sobre desejos que não seja uma fábula”

Uma cena: A primeira aparição de Djinn.

Uma curiosidade: O nome “Alithea” significa “verdadeira” em grego antigo e vem da deusa grega da verdade Aleteia (também conhecida na mitologia romana como Veritas).


Era Uma Vez um Gênio (Three Thousand Years of Longing)

Direção: George Miller
Roteiro: George Miller e Augusta Gore
Elenco: Idris Elba e Tilda Swinton
Gênero: Drama, Fantasia, Romance
Ano: 2022
Duração: 108 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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