A Nostalgia Era Melhor Antigamente: Batman ’89 (parte 2)
Continuação do post da semana passada, no qual comentei a primeira parte do filme Batman (1989).
No post anterior descobrimos que a polícia de Gotham acha que bandido bom é bandido que não interrompe jogo de pôquer, que o Batman usa técnicas inovadoras de combate ao crime e que Vicki Vale não tem a mínima noção do que faz um jornalista.
Hoje nós vamos conhecer um perigoso vilão que se aproveita de mulheres inebriadas, admirar a capacidade de convencimento do Coringa e descobrir os horrores de um caso de micose.
Batman (1989)
(segunda parte)
No dia seguinte à festança no Cassino Wayne, Alexander Knox está mais uma vez tentando exercer seu papel de jornalista, mas Vicki não quer saber de trabalhar pois ela tem um encontro com Bruce Wayne — lembra dele? O sujeito poucas horas atrás ela estava chamando de “o cara mais inútil dos EUA”.
No encontro, nosso honrado e íntegro herói não vê qualquer problema em embebedar uma mulher e levá-la para a cama sem que ele mesmo tenha bebido um copo sequer.
Enquanto isso, vemos que Jack Napier sobreviveu à queda, não graças à preocupação dos agentes da lei, e arrumou um cirurgião para corrigir os efeitos colaterais que a gente tem quando mergulha num tonel de caldo de cana. Surpreendentemente não é diabetes, mas sim a transformação em um palhaço do crime.
Antes de procurar o cirurgião, contudo, ele deve ter ido a uma lavanderia, porque está usando o mesmo paletó roxo de bom gosto que vestia no momento do acidente, no qual não se observam quaisquer manchas verdes.
Corta mais uma vez para a mansão Wayne, onde Bruce, depois de se aproveitar de uma mulher claramente embriagada, está confortavelmente dormindo de cabeça para baixo, pois ele tem comprometimento com o personagem e não quer ser chamado de morcego nutella.
Na manhã seguinte, não satisfeito em ter se aproveitado da moça, Bruce já começa a encaminhar o ghosting, esquivando-se com desculpas esfarrapadas de todas as tentativas dela de marcar um segundo encontro.
De volta à redação, Knox está — como sempre — querendo trabalhar na investigação sobre o Homem Morcego, mas Vicki desenvolveu algum tipo de Síndrome de Estocolmo e está obcecada pelo seu abusador. Pesquisando a seu respeito ela não encontra nada porque o arquivo foi apagado, o que por si só já é meio bizarro e renderia uma boa reportagem, mas a jornalista decide que o melhor a fazer é segui-lo à distância enquanto tira fotos.
Por alguma razão, o maior detetive do mundo, acostumado a andar nas sombras e a lidar com bandidos de toda espécie, não percebe que está sendo seguido desde a sua casa isolada onde não costumam passar carros até uma viela no centro da cidade. Lá, Bruce deixa flores no lugar onde anos atrás seus pais foram assassinados, as quais Vicki recolhe porque não tem um pingo de respeito ou bom senso.
Saindo de lá, Bruce e sua stalker se dirigem à Prefeitura, onde os gangsteres da cidade reuniram todos os jornalistas para uma coletiva de imprensa — pois em Gotham o crime organizado é organizado mesmo.
Aliás, o crime é tão organizado que a coletiva foi convocada para que os gangsteres possam comunicar que o recém falecido chefe do crime Carl Grissom lhes passou todos os seus negócios, de modo que eu imagino que os traficantes, assaltantes, assassinos e milicianos de Gotham tenham CNPJ, registro na junta comercial e livros contábeis.
O pronunciamento oficial é então subitamente interrompido quando um dos acionistas majoritários da Crime Organizado S.A. é assassinado pelo Coringa e sua temível gangue de… mímicos.
Mas a gangue dos mímicos malfeitores não perde por esperar, pois lembre-se: nosso herói está no local! Após ver esse cruel assassinato ocorrendo bem na sua frente, Bruce faz… nada. De novo.
Bom, para ser justo, os policiais (e os próprios gangsteres atacados) também não fazem nada, ficam apenas olhando enquanto o Coringa dá um discurso. Imagino que seja porque eles gostam muito de mímica e estavam entretidos demais para fazer outra coisa.
Depois que os bandidos fogem sem serem incomodados, Vicki Vale volta ao que importa, ou seja, sua obsessão. A essa altura ela já esqueceu o Batman e o atentado a mão armada que acaba de presenciar: ela quer apenas saber de Bruce Wayne, então pede a Knox que descubra o que há de especial no beco onde viu seu abusador depositar flores.
Note que essa é a única informação de que dispõe: ela não sabe datas, eventos, pessoas, nada, mas aparentemente o Google de 1989 era bem melhor que esse de hoje. Ou isso ou o assassinato dos Wayne é fato bem conhecido do público em geral — mas não da jornalista que, pelo visto, não gosta de ler jornal.
Enquanto isso, nós descobrimos que o Coringa se encantou com Vicki após ver uma foto sua, o que, por algum motivo, faz com que ele decida envenenar produtos cosméticos com uma variação da substância que lhe desfigurou e que faz com que as pessoas — literalmente — morram de tanto rir.
Como não há forma de saber quais produtos foram envenenados, a população é instruída a não utilizar quaisquer cosméticos, obrigando âncoras de telejornal a apresentar o programa de cara limpa, com espinhas no rosto e descabelados.
A preocupação, contudo, não parece atingir membros do Ministério Público, pois na cena imediatamente seguinte vemos o promotor Harvey Dent deslumbrante com sua cútis aveludada e brilhantina no cabelo.
Quem também parece ter mais vaidade que apreço à vida é a própria Vicki, que está aguardando Bruce Wayne em um museu que por alguma razão também é restaurante. Ocorre no entanto que ela foi enganada: Bruce segue firme no seu ghosting e o encontro é na verdade uma farsa engendrada pelo Coringa.
O vilão então surge com seus capangas, que agora foram convencidos a praticar crimes só pela zueira mesmo, sem qualquer perspectiva de lucro, e se põem a destruir todas as obras de arte do local e matar os presentes com gás venenoso.
Finalizada a destruição sem sentido que certamente vai derrubar as ações da Crime S.A. na bolsa de valores, o Coringa passa a conversar com Vicki, que consegue manter uma calma notável mesmo depois de vê-lo assassinar dezenas de pessoas no museu, na prefeitura e por toda a cidade com seus cosméticos envenenados.
Nada disso parece abalá-la. Vicki só demonstra medo quando o Coringa revela ter desfigurado sua própria amante — mas que na real nem está tão desfigurada assim, parece que está só com uns cravos e um pouco de micose.
Desesperada com esse grave caso de acne, a repórter tenta se defender jogando água no vilão, que então finge sentir grande dor com esse ataque vil. Vicki se compadece e chega quase a abraçar o Coringa, afinal não é porque você é um maníaco homicida que merece algo tão violento e cruel como água na cara.
É nesse momento que nosso herói faz sua entrada triunfal pelo alto, resgata a repórter e… foge. Sim, o Batman ignora solenemente o maníaco homicida e seus asseclas que acabaram de promover uma chacina e estão mantendo toda a cidade em pânico com cosméticos envenenados. Ele apenas entra no seu carro e vai embora.
Será que até o fim do filme o Batman impedirá um crime ou prenderá uma pessoa que seja? Será que os cremes anti acne estão na lista de produtos envenenados? Não perca a conclusão da nossa análise na semana que vem!
Atualização: a continuação já está no ar aqui, ó.
Gimme MORE
“praticar crimes só pela zueira” e com uma excelente inspiração musical de Prince, uma trilha sonora fantástica para esse tipo de crime.
VC DESTRUIU MINHA INFÂNCIA!
MALDITO!
CONTINUE ASSIM!
Rapaz, deu até vontade de baixar o filme pra ver esses absurdos dos quais não me lembro mais e dar risada!