A Nostalgia Era Melhor Antigamente: Batman ’89 (parte 1)

A Nostalgia Era Melhor Antigamente: Batman ’89 (parte 1)

Seja bem vindo à coluna A Nostalgia era Melhor Antigamente, na qual eu covardemente analiso histórias escritas em outro contexto e aponto incongruências inaceitáveis em filmes sobre pessoas que combatem o crime usando uma roupa que não lhes permite sequer virar o pescoço.

No episódio de hoje, veremos que o Batman não gosta de fofoca com seu nome, descobriremos uma operação de jogo ilegal sendo mantida com a conivência das autoridades de Gotham City e entenderemos por que a jornalista Vicki Vale tem tanta dificuldade de se reposicionar no mercado.

Batman (1989)

Roteiro: Sam Hamm e Warren Skaaren

Direção: Tim Burton

Nota: dedico este texto aos meus queridos amigos Thales Martins e Ultrabadernista, que mesmo com essa homenagem sincera e carinhosa vão reclamar e me chamar de hater

Nossa história começa com um casal de pais extremamente irresponsáveis que, saindo com seu filho de uma sessão de cinema em uma cidade com histórico de violência e criminalidade, acredita ser uma boa ideia cortar caminho por uma viela escura ocupada por pedintes, prostitutas e usuários de substâncias entorpecentes. Mas não vamos julgar, esse tipo de comportamento parece ser algo cultural em Gotham City.

De forma absolutamente inesperada eles acabam sendo assaltados, o que também parece ser uma atividade usual por aquelas bandas. Ir a Gotham e não ser assaltado é como ir a Roma e não ver o Papa.

Mas não há o que temer! Gotham City é protegida pelo destemido Homem Morcego, que do alto observa atentamente toda a ação criminosa e faz… nada. Os bandidos armados rendem uma família e nosso herói não intervém em nenhum momento, afinal não é como se essa situação pudesse resultar em algum tipo de tragédia como por exemplo dois homicídios e uma criança traumatizada com a morte dos pais, não é mesmo?

Vale lembrar que neste filme o Batman ainda não trabalha em conjunto com a polícia, de forma que não tem nem a desculpa de ser funcionário público

Depois de escapar com toda tranquilidade, os bandidos param para avaliar o produto do roubo. Papo vem, papo vai, eles começam a falar sobre o Batman, que só então decide aparecer, presumivelmente porque não tem nada contra assaltos, mas não gosta que fiquem falando dele pelas costas.

Sabendo que criminosos são supersticiosos e covardes, nosso herói usa de uma complexa técnica para incutir medo em seus corações, que consiste em ficar parado e lentamente estender os braços para cima enquanto abre a capa. Parece-me que usar o elemento surpresa seria uma estratégia mais eficaz, mas o herói profissional aqui não sou eu, então presumo que ele saiba o que está fazendo.

Eu faço algo bem parecido quando estou tentando dobrar um lençol de elástico e ninguém fica com medo

Porém, se o objetivo era amedrontar os malfeitores, a estratégia não deu muito certo, pois os dois sem nenhuma cerimônia atacam o herói, que então usa uma outra técnica pouco ortodoxa de combate ao crime que será vista algumas vezes ao longo do filme: tomar um tiro no peito e cair no chão.

De novo: o profissional aqui não sou eu, ele deve saber o que está fazendo

Mas o Cavaleiro das Trevas se levanta e, após fazer mais uma vez a pose do lençol de elástico, finalmente decide atacar os malfeitores para em seguida… ir embora. Parece que o problema realmente era com os sujeitos falando dele pelas costas, porque nosso herói não prende ninguém nem se preocupa em devolver os pertences da família assaltada.

Enquanto isso, em outra parte da cidade, o jornalista Alexander Knox está sendo ridicularizado por seus colegas de redação por… fazer o trabalho de um jornalista e investigar esse tal morcego que está amedrontando criminosos (especificamente aqueles que falam dele pelas costas, como vimos).

“Por que você não faz jornalismo de verdade, como uma lista dos tweets mais engraçados da semana?”

A única a acreditar no potencial da história de Knox é a fotógrafa Vicki Vale, que tem sérios problemas de autoestima e anda por aí com uma cópia da revista Time contendo as fotos de uma reportagem séria que ela fez, assim provando que seu trabalho não se resume a fotografar para revistas de moda.

Pois bem, Vicki quer se reposicionar no mercado, deixando para trás o glamour das fotos de moda e focando em matérias sobre homens vestidos de morcego que tomam tiros em telhados.

Firmada a parceria, Knox então propõe que os dois compareçam à festa do famoso milionário Bruce Wayne, pois sabe que entre os convidados estará o Comissário Gordon, que como chefe da polícia de Gotham deve ter informações sobre o Batman.

Muito embora não more na cidade nem conheça o anfitrião, Vicki convenientemente tem os convites, então os dois vão ao evento na mansão Wayne, que tem tudo que uma boa festa deve ter: boa comida, muita bebida e… um cassino. Não, sério mesmo, não é uma mesinha de pôquer entre amigos, Bruce Wayne tem em sua casa um cassino profissional com roleta, blackjack e crupiê.

Aliás, faz todo sentido que o prefeito, o chefe de polícia, o promotor e metade da força policial da cidade tenham sido convidados, porque você não consegue manter uma operação de jogo de azar na sala da sua casa se não tiver a conivência das autoridades.

Usando um belo vestido de debutante, Vicki Vale atravessa toda a festa, passando por dúzias de pessoas, até chegar no anfitrião Bruce Wayne, que ela não sabe quem é pois é uma péssima jornalista (e uma bicona de festa pior ainda).

E é claro que, dentre todos os presentes, a repórter decide perguntar justamente ao próprio Bruce Wayne se ele pode apontar quem é Bruce Wayne — o famoso milionário herdeiro de uma família tradicionalíssima que deve aparecer na capa da revista Caras toda semana mas que ela não faz ideia de quem seja.

Enquanto assina um documento para um garçom pois claramente é o anfitrião da festa, Bruce decide ser desnecessariamente babaca e responder que não sabe. Aliás, por que é mesmo que Vicki quer saber quem é Bruce? O objetivo dela ali não era conversar com Gordon sobre o Batman?

Mas enfim, enquanto Vicki passa vergonha, Alexander Knox mostra que é o único no filme que tem alguma ideia de como funciona o jornalismo e tenta extrair do Comissário as informações que eles de fato foram buscar ali. No entanto, Gordon acaba sendo salvo pelo gongo, pois precisa se retirar da festa após receber a informação de um ataque à empresa de fachada de Carl Grissom, o chefão do crime que todo mundo sabe que é chefão do crime mas ninguém prende.

Isso não escapa ao faro jornalístico de Knox, que decide chamar Vicki para que ambos acompanhem a diligência policial. O que ele tem de bom repórter, no entanto, lhe falta em senso de direção, pois os dois por algum motivo não se dirigem à porta por onde entraram ou simplesmente seguem o Comissário até a saída, mas sim entram mais e mais na mansão Wayne até chegar em uma sala com armas e armaduras de variados períodos históricos.

Depois de fazer pouco caso das culturas ali representadas e chamar o anfitrião de “cara mais inútil dos EUA”, Vicki e Knox são surpreendidos pelo próprio Bruce Wayne, que finalmente revela ser o dono da casa. Vicki, demonstrando que não lhe falta noção apenas de jornalismo mas também da própria realidade, decide puxar papo perguntando ao multimilionário herdeiro de um grande conglomerado de indústrias o que ele faz da vida.

Para sorte de todos os envolvidos, o diálogo estapafúrdio é interrompido pela chegada do mordomo Alfred, que informa Bruce Wayne acerca da súbita saída das forças policiais. Sinal de problemas, o Batman precisa entrar em ação rapidamente!

Ou não tão rápido assim, pois primeiro ele aproveita para espiar os convidados com seu moderno equipamento de Bat-Voyeurismo

Depois de checar o derrière da sua convidada pelas câmeras, nosso herói finalmente se dirige à indústria Axis, onde a polícia está competindo com os capangas de Carl Grissom para decidir qual das equipes tem a pior mira. Enquanto eles disputam quem atira em mais canos e tonéis, nosso herói confronta Jack Napier, o mafioso que usa um discreto paletó roxo em uma operação furtiva na calada da noite.

Após o embate entre os dois, Napier acaba se desequilibrando e caindo num imenso tonel contendo um líquido verde com substâncias químicas desconhecidas (ou, talvez, suco de umbivis).

Diante dessa fatalidade, nosso destemido herói e as forças da lei de Gotham simplesmente decidem encerrar o expediente mais cedo. Ninguém se preocupa em averiguar se Napier sobreviveu à queda, procurar pelo seu corpo ou chamar a SAMU. Aparentemente todos concordam que bandido bom é bandido com labirintite e caso encerrado.

Será que os policiais encerraram o expediente mais cedo para pegar uma última rodada de vinte e um na Mansão Wayne? Será que a consequência da queda de Jack Napier no tonel de caldo de cana vai além da diabetes tipo 2? Não perca a continuação da nossa análise na semana que vem!

Atualização: a continuação já está no ar aqui, ó.

Lionel Leal

Canto como Lionel Messi, jogo bola como Lionel Richie.

5 comentários sobre “A Nostalgia Era Melhor Antigamente: Batman ’89 (parte 1)

  1. Que fique bem claro, mais filmes devem ser analisados por essa ótica. A quantidade de filme ruim que passa batido pq “aih é só um filme” e relevam a quantidade de besteira produzida is too damn hight.

  2. * “o chefão do crime que todo mundo sabe que é chefão do crime mas ninguém prende” – no Brasil isso só funcionou pra Lula kkk
    * Bat-Voyeurismo também poderia ser chamar Bat-Big-Brother: BBB
    * derrière: BINGO!

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