Crítica | Duna: Parte 2

Crítica | Duna: Parte 2

Recentemente o diretor Denis Villeneuve declarou que no cinema, para ele, os diálogos seriam o menos importante. Contar uma história através dessa mídia, nesse sentido seria, sobretudo, apresentar um espetáculo de som, imagem e fúria para sua audiência. 

Duna: Parte 2 é sem dúvida um fiel representante dessa visão do diretor. Aqui Villeneuve nos entrega um dos grandes épicos de ficção científica já produzidos para o cinema. Épico, aliás, não é um termo aqui utilizado de maneira imprecisa. Duna, o filme – assim como o livro – é uma narrativa grandiosa sobre poder em escalas literalmente cósmicas que tem temas como religião, amor e vingança no seu centro. 

Para aqueles a quem Duna: Parte 1 não agradou, Duna: Parte 2 será uma grata surpresa. Fica, a propósito, muito claro que Villeneuve decidiu dedicar o primeiro filme justamente a uma necessária construção de ambientação e personagens sem a qual a magnitude pretendida pela parte 2 sairia prejudicada. Um filme, assim, não funciona sem o outro. 

Assim, para aqueles que não apreciam tanto a já conhecida câmera contemplativa de Villeneuve, Duna: Parte 2 será também mais atraente. Aqui as tramas que enlaçam e emaranham cada personagem e situação se desenvolvem de maneira muito mais orgânica e até dinâmica. A fotografia quase que naturalista de Greig Fraser, bem como o figurino e o cenário conferem ao filme – assim como foi no primeiro – um tom que em alguns momentos até mesmo nos faz esquecer de quão fantástica é o enredo da história. Villeneuve, claro, sabe juntar e conduzir muito bem cada um desses elementos para contar exatamente a história que ele deseja. 

Merece destaque, também, os efeitos visuais do filme. Em tempos no qual a tela verde impera, é somos constantemente bombardeados por efeitos de computação gráfica de péssima qualidade e que acabam com qualquer possibilidade de suspensão da descrença, Duna se destaca com folga nesse quesito. Tudo que vemos em tela, desde objetos maps mundanos, passando por naves e máquinas gigantes, até os imponentes e majestosos Shai Halud, parece crível e palpável. Os efeitos sonoros e a mixagem de som, também, são um espetáculo à parte e, como já dito, cada um desses elementos técnicos é trabalhado com imenso cuidado pelo diretor e sua equipe para que a experiência de assistir à Duna seja de fato próxima à visitar Arrakis.

O elenco de Duna: Parte 2 não fica em segundo plano dentre os elementos que conferem qualidade à película. Embora alguns atores – como é o caso de Josh Brolin e até mesmo Zendaya – sejam subutilizados, todos aqui desempenham bem seu papel. Com participações que, ainda que tenham pouco tempo de tela – como a de Christopher Walken, no papel do Imperador – não deixam de ser cativantes.

Mas quem se destaca mesmo são Javier Bardem, no papel do líder Fremen Stilgar e do protagonista Timothée Chalamet. Bardem surpreende ao encarnar Stilgar como uma espécie de apóstolo e zelota empenhado em fazer uma certa campanha de marketing para o Messias em quem ele escolheu acreditar. Quase sempre que ele reforça a santidade de Muad’Dib para seus pares Fremen, ele o faz com leveza deixando transpirar um tom até mesmo cômico que em nenhum momento soa estranho ou fora de prumo. Mas acima de tudo, é a crença de Stilgar que nos faz acreditar em seu Lisan al Gaib.

Mas é claro que nada disso funcionaria se não tivéssemos um “Messias” à altura. Aqui, Timothée Chalamet consegue nos apresentar a um Paul Artreides muito mais maduro e interessante do que no primeiro filme. Um homem atormentado mas nem por isso menos decidido. Alguém que, como demanda a estrutura clássica da jornada do herói, a todo momento rejeita seu chamado, porém não o faz sem motivo e sem que isso seja sentido por nós ao assistir ao filme. Através de sua atuação acreditamos na jornada do jovem aristocrata estrangeiro que se torna o Messias e líder rebelde de um povo guerreiro endurecido pelas intempéries de um dos planetas mais inóspitos do universo. Sem seu excelente trabalho, tudo em Duna: Parte 2, seria muito difícil de acreditar. 

Não que o filme não tenha problemas. O ritmo poderia ser melhor, algumas ambientações mais bem construídas e apresentadas, e as sequências de ação talvez merecessem mais imaginação, mise en scenè e inventividade. Porém, nada disso compromete a experiência de forma significativa que, dessa vez, chega a seu clímax sem dúvida de maneira acachapante.


Uma frase: “Você já deveria saber que há apenas um lado”.

Uma curiosidade: O filme foi integralmente filmado em IMAX.

Uma cena: Stilgar parece quase se esquecer, de bradar o nome Lisan al Gaib.


Duna: Parte 2 (Dune: Part Two)

Direção: Denis Villeneuve
Roteiro: Denis Villeneuve e Jon Spaihts
Elenco: Timothée Chalamet, Zendaya, Rebecca Ferguson, Josh Brolin, Austin Butler, Florence Pugh, Dave Bautista, Christopher Walken, Léa Seydoux, Stellan Skarsgård, Charlotte Rampling e Javier Bardem
Gênero: Ação, Aventura, Drama
Ano: 2024
Duração: 167 minutos

Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

Um comentário em “Crítica | Duna: Parte 2

  1. Para mim o mais importante elemento do filme é a parte política, ao fazer uma crítica ao fanatismo e as religiões como um todo. Isso ficou sensacional. Eu achei o ritmo muito bom, mas dinâmico que o filme 1, que realmente precisava primeiro construir a ambientação. Achei as cenas de ação muito boas e a luta final sem trilha criou uma tensão muito boa.

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