Crítica | Anônimo (Nobody)

Crítica | Anônimo (Nobody)

Bob Odenkirk começou sua carreira como roteirista de programas de comédia como o Saturday Night Live, mas sua consagração foi com o papel de Saul Goodman na série Breaking Bad, que em seguida ganhou seu próprio seriado chamado Better Call Saul. Em “Anônimo” ele assume uma nova faceta: o de herói de filme de ação, seguindo um caminho similar a de outro ator que se “reinventou” na “melhor idade”: Liam Neeson.

A trama de “Anônimo” mistura elementos de “Busca Implacável”, estrelado por Neeson, com o drama de “Beleza Americana” e segue uma linha de filmes de ação similar a franquia John Wick – protagonizada por Keanu Reeves. Bob Odenkirk interpreta Hutch Mansell, um homem comum que segue um cotidiano ordinário, repetitivo e entediante, retratado muito bem na montagem inicial da obra cinematográfica comandada por Ilya Naishuller. Um dia a rotina é quebrada por uma invasão à casa de Hutch, onde ele hesita em revidar os invasores, o que desperta algo que estava adormecido em sua vida.

Descobrimos que Hutch Mansell trabalhou como um assassino para a CIA, mas abandonou a profissão para levar uma vida comum. O crime em sua residência desperta esse passado e ele arruma uma forma de colocar toda essa raiva acumulada para fora. O problema é que ele desconta sua frustração no filho de um mafioso russo, então a vingança desse homem ameaça a sua família e faz com que ele saia da aposentadoria de vez.

Inicialmente a trama de “Anônimo” não apresenta nenhuma grande inovação, ainda mais dentro do universo de filmes de ação, então o seu diferencial se torna a presença de Bob Odenkirk. O ator faz a maior parte das suas cenas de ação, o que torna esses momentos de luta mais verossímeis e viscerais. Além disso, com seu carisma e talento ele consegue desenvolver o protagonista de maneira inteligente e interessante, fazendo com que ele explore o drama de Hutch de forma eficaz, transformando-o em uma figura humana e não apenas um assassino que cansou da aposentadoria.

O roteiro de Derek Kolstad também é eficiente em desenvolver o vilão Yulian Kuznetsov e o ator Aleksei Serebryakov rouba a cena quando está na tela. O momento que ele aparece pela primeira vez já deixa clara suas intenções, um homem que se mostra descontraído a ponto de subir no palco para cantar uma música no karaokê, mas que não hesita em matar uma pessoa que ele suspeita ser um traidor. De certa forma a trama também faz um paralelo entre Yulian e Hutch, já que ambos estariam em conflito pelo mesmo motivo: família. Acontece que o jovem morto por Mansell é irmão de Kuznetsov, o que faz para ambos o confronto ser pessoal.

No entanto, é mesmo nas cenas de ação que “Anônimo” mostra suas principais qualidades, que são dirigidas muito bem por Ilya Naishuller –- que chamou a atenção no filme “Hardcore: Missão Extrema” todo filmado em 1ª pessoa. Ele apresenta os momentos de luta de forma coesa e sem cortes rápidos, fazendo com que o espectador consiga acompanhar e entender o que é visto em tela, algo essencial no gênero. Odenkirk surpreende com seu vigor físico nos combates corpo-a-corpo e diferentemente de outros heróis de ação até que se machuca bastante após as lutas. É fascinante também ver Christopher Lloyd, o eterno Dr. Brown de “De Volta para o Futuro”, distribuindo tiros nos adversários.

Em síntese, “Anônimo” pode não ser inovador, mas é extremamente eficiente no que se propõe a fazer. Ilya Naishuller comprova seu talento como diretor de filmes de ação e aposta acertadamente no carisma e talento de Bob Odenkirk para ser o diferencial da sua obra cinematográfica. 


Uma frase: – Hutch Mansell: “Espero que esses idiotas gostem de comida de hospital.” 

Uma cena: A luta de Hutch dentro de um ônibus. 

Uma curiosidade: Em uma entrevista que antecedeu o lançamento do filme, o protagonista Bob Odenkirk afirmou que treinou por dois anos em preparação para seu papel. 


Anônimo (Nobody)

Direção: Ilya Naishuller
Roteiro: Derek Kolstad 
Elenco: Bob Odenkirk, Connie Nielsen, RZA, Christopher Lloyd e Aleksey Serebryakov
Gênero: Ação, Crime, Drama
Ano: 2021
Duração: 92 minutos 

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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