Review | Servant – 1ª e 2ª Temporadas

Review | Servant – 1ª e 2ª Temporadas

O gênero terror costuma utilizar com freqüência temas relacionados à morte, no entanto a série “Servant” criada por Tony Basgallop consegue explorar de maneira inteligente e interessante a história sobre uma mãe que perde o bebê recém-nascido. 

Na trama conhecemos Dorothy Turner (Lauren Ambrose), uma repórter de um jornal televisivo que lida com o falecimento de seu filho Jericho de maneira peculiar. Para superar o trauma, a mulher usa um boneco no lugar da criança fingindo ser o neném, mas o detalhe é que para ela é como se o filho não tivesse morrido e o boneco fosse real. Quem sabe a verdade é seu marido Sean (Toby Kebbell) e o irmão dela Julian (Rupert Grint). A situação fica ainda mais complexa quando ela contrata a babá Leanne (Nell Tiger Free), que compra a ideia da senhora Turner.

[button-red url=”#” target=”_self” position=””]Aviso de SPOILERS[/button-red]

Os comentários a seguir falam sobre acontecimentos narrados na primeira e segunda temporadas de Servant.

1ª Temporada

Logo no 1º episódio temos uma reviravolta que na verdade faz parte da premissa de Servant. Após a 1ª noite de Leanne na casa cuidando do boneco, Jericho volta à vida de maneira misteriosa. É bom apontar o detalhe que a babá é uma moça simples e extremamente religiosa, então teria a sua fé feito esse milagre? Para Dorothy nada muda, já que para ela o bebê nunca teria morrido. O trauma da perda fez com que ela bloqueasse essa memória. Cabe então a Sean e Julian investigarem o fato, mas de maneira discreta sem envolver a polícia.

Apesar de Dorothy ser uma figura pública, seu marido e seu irmão acharam melhor não divulgar a notícia da morte do bebê. Então quase ninguém sabe do ocorrido, dessa forma a situação dos dois fica ainda mais complicada durante a investigação. O passado de Leanne é investigado e surgem mistérios, como o fato dela supostamente ter morrido ainda criança junto com os pais em um incêndio na sua residência.

Nessa 1ª temporada fica claro o padrão de qualidade técnico da série; elementos como fotografia, montagem e trilha sonora se destacam. Isso já fica claro logo no 1º episódio, que inclusive é dirigido por M. Night Shyamalan. Uma cena mostra o bebê boneco em um pequeno balanço, então quando ele vai para trás fica fora de foco e parece uma criança de verdade, mas quando balança para frente vemos claramente que é um boneco. Essa “ilusão” serve bem para ilustrar a trama do seriado.

Outro detalhe que chama a atenção na 1ª temporada é a culinária. Sean é um chef especializado em pratos chiques e exóticos, então em cada episódio o vemos cozinhando algo diferente. As condições especiais de preparo muitas vezes fazem alusão a algum outro elemento visual da narrativa, dessa forma a montagem faz um trabalho muito bom em fazer rimas visuais entre esses componentes. É difícil não ficar com vontade de experimentar os pratos, por mais exóticos que eles sejam.

O elenco também está muito bem, com destaque para Lauren Ambrose, que constrói Dorothy de maneira muito interessante ao mostrar que mesmo fragilizada com a perda do filho. Sua força em acreditar que tudo está bem a deixa em uma situação complexa que é explorada de forma ótima pela atriz. Já Toby Kebbell apresenta um Sean que fica sempre em dúvida se deve apoiar sua mulher em acreditar que o filho ainda está vivo, não importando o motivo disso, ou se deve continuar investigando para descobrir a verdade. Fica claro em como o personagem parece estar sempre no limite entre a razão e a loucura. Enquanto Rupert Grint desenvolve Julian com um jeito sempre cético e ácido como mecanismo de defesa onde acredita estar fazendo o melhor para sua irmã. Por fim temos Nell Tiger Free que mostra a ingenuidade de Leanne, onde sempre ficamos na dúvida sobre suas reais intenções já que a atriz a apresenta de maneira discreta, aumentando o mistério.

Perto do final da temporada surge um detalhe que não tinha chamado muito a atenção nos primeiros episódios, mas que é essencial para a trama: como foi que Jericho faleceu? Não fica claro, mas teoricamente tem algo a ver com Dorothy. Será que ela teria matado o próprio filho, mesmo que sem intenção? No 9º episódio temos um flashback que mostra um pouco sobre o que ocorreu, mas ainda ficam muitas questões em aberto.

A temporada termina com o batizado de Jericho e a revelação sobre o fato de Leanne fazer parte de um culto religioso. Os elementos psicológicos ficam um pouco de lado e vemos mais claramente questões sobrenaturais e religiosas. O sumiço misterioso da babá levando a criança deixa um ótimo gancho para a temporada seguinte.


2ª Temporada

Infelizmente na temporada seguinte Servant perde um pouco do seu rumo. Quanto mais o passado é explorado com mais detalhes e explicações sobre a trama, mais a narrativa é prejudicada. O mistério e os limites psicológicos entre sanidade e loucura permeiam muito bem os 10 primeiros episódios, contudo na 2ª temporada o seriado aposta na investigação da própria Dorothy sobre o sumiço do filho. Como a polícia não parece fazer a parte dela, então ela usa suas habilidades de repórter para solucionar o caso.

Ao longo dos 10 episódios descobrimos mais sobre o passado e sobre o dia em que Jericho faleceu, mas ainda não fica claro o que realmente aconteceu. São mostrados indícios de problemas de Dorothy ao lidar sozinha com a criança após seu marido viajar à trabalho, deixando-a sem ninguém. Esse detalhe também apresenta um pouco mais do sentimento de culpa de Sean sobre a morte do bebê, já que até então parecia ser algo apenas relacionado à sua mulher.

A trama perde o rumo de vez quando Leanne é encontrada, sequestrada e vira refém na residência dos Turner. A partir desse ponto os personagens perdem a coerência agindo totalmente diferente, mas sem nenhuma justificativa para isso. Os poderes sobrenaturais da babá são evidenciados, deixando o mistério de lado e contribuindo para mais problemas na narrativa, já que as explicações não conseguem ir muito além de algo envolvendo a religião.

Outro ponto negativo é que a comida, elemento de destaque na 1ª temporada, perde espaço. Em apenas um episódio, onde Sean e Dorothy montam uma pizzaria falsa para se infiltrar na residência onde Leanne se encontra, ela é utilizada. O que é uma pena, já que ela era algo essencial para a narrativa.

No final temos uma conclusão apenas correta e sem um grande gancho para a próxima temporada. Apesar de a trama ter sido prejudicada, a parte técnica se manteve muito bem. M. Night Shyamalan dirigiu novamente um episódio e sua filha Ishana dirigiu 2, sendo que um deles ela também escreveu o roteiro. Então agora é torcer para que no 3º ano Servant consiga voltar aos eixos, já que a série começou de forma tão promissora.


Servant – 1ª e 2ª Temporadas 

Criado por: Tony Basgallop
Emissora: Apple TV+
Elenco: Lauren Ambrose, Toby Kebbell, Nell Tiger Free e Rupert Grint
Ano: 2019 e 2020

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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