Crítica | Millennium: A Garota na Teia da Aranha
Millennium: A Garota na Teia da Aranha é mais um reboot do que uma continuação de Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres — longa de 2011 dirigido por David Fincher, com Daniel Craig e Rooney Mara nos papéis principais. Sete anos depois da bem sucedida adaptação cinematográfica americana de uma das histórias da hacker Lisbeth Salander, criada pelo escritor Stieg Larsson, o diretor uruguaio Fede Alvarez decide investir em confrontar o passado da anti-heroína.
O novo filme é baseado no quarto livro da série Millennium, escrito por David Lagercrantz, autor que deu continuidade aos romances policiais da saga de Lisbeth após a morte de Stieg Larsson em 2004. A narrativa explora e aprofunda um pouco mais a construção da confusa e misteriosa personalidade da hacker, que cresceu sozinha após decidir abandonar, ainda pequena, a irmã com o pai violento e abusador.
Com bem executadas cenas de ação, Claire Foy dá vida a uma nova versão de Lisbeth Salander nos cinemas, cujo olhar profundo e expressivo — que consagrou a atriz britânica na série The Crown, da Netflix — é essencial para dar a tônica deste novo longa da série, que se concentra no acerto de contas final de sua personagem com o passado. O fio condutor dessa trama é a recuperação de um programa de computador chamado Firefall, que dá acesso a um imenso arsenal bélico mundial.
Quando a hacker rouba o software que estava em poder da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, ela se depara com um grupo de criminosos intitulados “Os Aranhas”. Além deles, Lisbeth também é procurada pelo agente americano Edwin Needham — interpretado por Lakeith Stanfield, ator e rapper que ficou famoso por seu trabalho na série Atlanta — e pela equipe de polícia federal da Suécia.
Um elenco diverso e representativo — que inclui a participação de uma modelo transgênero australiana, no entanto, não fazem o reboot de Millennium nas telonas superar o longa de 2011. As atuações, em geral, são medianas. Há momentos em que a própria Claire Foy parece confundir a introspecção e a frieza de sua personagem com o automatismo de uma inteligência artificial. Já o jornalista Mikael Blomkvist, que foi tão bem explorado na pele de Daniel Craig, se torna absolutamente dispensável à trama com a apagada atuação do sueco Sverrir Gudnason.
Em termos técnicos, Millennium: A Garota na Teia da Aranha entrega boas cenas de luta e perseguição da protagonista, acompanhadas de uma belíssima fotografia, que aproveita bastante do cenário frio, cinzento e gelado das locações européias. Na caracterização, sobressaem as composições em preto e vermelho de maquiagem e figurinos de Lisbeth e Camilla Salander, vivida pela holandesa Sylvia Hoeks, que interpretou recentemente a personagem Luv em Blade Runner 2049.
Para além das comparações com o filme de 2011, o novo longa estaciona nos clichês de thrillers policiais sem surpreender o espectador, sem criar empatia e identificação da protagonista com o público. Apesar de expor fraquezas e traumas da personagem, Fede Alvarez traz lamentavelmente para os cinemas uma Lisbeth Salander ainda muito superficial, que parece ser uma heroína blindada às dúvidas e pouco consumida por seus conflitos pessoais.
Uma frase: – Camilla Salander: “Você não é Lisbeth Salander, a justiceira? A garota com a tatuagem de dragão? A garota que machuca homens que machucam mulheres? (…) Por dezesseis anos eu estive te observando. Por que você ajudou a todos, menos eu, irmã?”
Uma cena: A sequência de cenas que se passam dentro do aeroporto de Estocolmo.
Uma curiosidade: Antes de Claire Foy ser confirmada no filme, Natalie Portman e Scarlett Johansson, originalmente consideradas para o papel-título no longa anterior, estavam mais uma vez em negociações para interpretar Lisbeth Salander. A Sony também considerou Felicity Jones e Alicia Vikander para o papel de titular.
Millennium: A Garota na Teia da Aranha (The Girl in the Spider’s Web)
Direção: Fede Alvarez
Roteiro: Jay Basu e Fede Alvarez, Steven Knight, David Lagercrantz e Stieg Larsson
Elenco: Claire Foy, Sylvia Hoeks, Lakeith Stanfield, Stephen Merchant, Cameron Britton, Vicky Krieps e Sverrir Gudnason
Gênero: Crime, Drama, Thriller
Ano: 2018
Duração: 117 minutos
Gosto da personagem Lisbeth Salander, das suas nuances e construção, mas as críticas irregulares sobre esse filme não me deixaram tão curiosa assim para conferi-lo. Melhor esperar estrear no Netflix.