Maratona Star Wars | Episódio VI – O Retorno de Jedi
Assistir Star Wars – assim como a contracepção e o esquartejamento – exige método.
Qualquer fã da saga estelar já deve ter se pegado indagando qual é a ordem certa para se apresentar os filmes e se vale a pena fazer maratona e ver tudo de uma vez ou se é preferível dar algumas pausas para a assimilação do que se vê na tela. A resposta para essas questões é controversa, e poderíamos encher uma biblioteca com todo o mimimi contendo o saber já produzido nos fóruns sobre esses assuntos. Vamos ao concreto: dentro das trilogias, ninguém discorda que os filmes devem ser vistos na ordem que foram produzidos. Mas o que poucos foram desocupados o suficiente conseguem explicar é o porquê disso. Esqueça o óbvio: não é porque a história tem começo-meio-fim. Tarantino e Nolan já mostraram com sucesso que a narrativa não precisa se prender à linearidade. Nada impediria uma experiência mutcho loca de ver o Vader dizer que é pai do Luke antes mesmo de saber quem é esse tal de Luke e de onde ele veio. Mas não é só isso.
A necessidade de se assistir os filmes na ordem que foram filmados tem a ver com um dos trunfos da obra de George Lucas que pouca gente comenta. Muito antes de Harry Potter ou Boyhood, Star Wars já era uma obra que crescia junto com seus fãs. Imagine o petiz que tinha dez anos de idade em 1999, quando saiu A Ameaça Fantasma. O filme tinha personagens divertidos, aventura, uma trama leve e simples, sem muito mistério, onde o vilão tem cara de vilão… Enfim, um filme para um garoto de 10 anos. Em 2002, quando saiu O Ataque dos Clones, esse mesmo menino já tinha 13 anos, já queria um clima um pouco mais sombrio, algo um pouco mais complexo, um relacionamento romântico pra ele trabalhar sua identificação-projeção (passa o Homem-Legenda e grita: PUNHETA)… Enfim, é um filme cheio de hormônios, um filme recém-adolescente! Mas aos 16, idade que nosso petiz tinha quando saiu A Vingança dos Sith (2005), o filme já poderia/deveria trabalhar com sentimentos mais complexos (o conflito Obi-Wan/Anakin guarda semelhanças com o processo freudiano de “matar o pai”, mas isso é tema pra outro texto…). O último filme dessa trilogia era – inegavelmente – mais maduro do que o primeiro. Mesmo que o espectador assistisse A Ameaça Fantasma já mais velho, ele sentiria que ao longo dos três filmes houve uma curva de maturação. E é por esse motivo que digo algo que vai chocar os mais puristas: O Retorno de Jedi é o pior filme dos seis produzidos até agora.
Guardem seus ovos e vegetais podres por alguns momentos, meus caros, e vamos aos fatos: O Retorno de Jedi é de 1983, 6 anos após o filme fundador da série – depois chamado de “Uma Nova Esperança”. Logo, a gente esperava que também passasse por um processo de amadurecimento. Afinal, O Império Contra-Ataca (1980) tinha feito isso com louvor.
Ultrapassou aquela aventura espacial simples, maniqueísta, que reinventava vários clichês dos contos de fada e abusava da estrutura consagrada da jornada do herói, e entregou um drama de personagens mais profundos, um clima mais cinzento, com um final que não é feliz. O final de O Império Contra-Ataca nos deixa de pé, tensos demais para piscar, com a expectativa lá no alto.
E o início d’O Retorno de Jedi entrega o prometido: o resgate de Han Solo no Palácio do Jabba é uma das melhores sequências iniciais de toda a saga. Os personagens estão entrosados, o roteiro é perspicaz, a direção é dinâmica. São quase 40 minutos irretocáveis. Mas isso gerou um problema: como manter o ritmo? E foi aí que a maionese desandou. Uma nova Estrela da Morte? Ok… O Império podia ser mais criativo, tentar alguma coisa diferente de “faz aquilo que deu errado, só que maior”, mas vá lá… Colocaram uma dificuldade a mais, de modo que a ação se dividiria em três frentes: Luke ia enfrentar o Imperador e o lado negro. Bacana! A história precisava disso. Lando comandaria a batalha espacial. Não vou reclamar. Todo fã de Star Wars que se preze sabe que, quanto mais Lando, melhor.
Mas Han Solo e Leia iam à Lua Florestal de Endor para desativar os escudos, e lá encontravam a pior solução de roteiro de todos os tempos: os Ewoks.
Já consigo ver meu amigo Dario balangando o beiço para dizer “eles são tão fofinhos!”. Não interessa. Pense em nosso amigo de 16 anos. O filme vinha respeitando as mudanças de vida que ele vinha passando. Star Wars era fantástico, ele podia até comentar com aquela gatinha da escola sem passar por débil mental.
E aí vieram aquelas criaturinhas peludas transformando sua aventura juvenil em algo que estampa lancheiras dos garotos do pré-primário. Os Ewoks estão para Star Wars como aquela sua tia que chama de Bulunga no meio dos teus amigos descolados está para sua vida: Podia até ser bonitinho, mas estava fora de lugar. Não funcionava, te envergonhava. Se ainda tivesse uma função na trama… Mas parecia ser só uma tentativa patética de vender bonecos de pelúcia.
Diante disso, o drama de Luke, o sacrifício da Rogue Squad, tudo isso ficava pequeno. Os Ewoks estavam lá pra te lembrar que você deveria estar estudando para ser alguém na vida, ao invés de assistir esses filmes de fantasia… Nesse aspecto, até o spin-off Caravana da Coragem é melhor que O Retorno de Jedi. Pelo menos ele é honesto, você sabe desde o princípio quem é o seu público-alvo.
O Retorno de Jedi é o pior filme da saga Star Wars por não respeitar nossa inteligência, mas – acima de tudo – por nos envergonhar, ao não aceitar que nós crescemos.
Vivi para ler alguém defender Caravana da Coragem
Isso aí foi mais “polêmico” que dar 2 bacons para Willow.
ahhahahaah
Fechar a Maratona com um texto com este, é coroar com chave de ouro essa iniciativa. Que venham mais pela frente!
que homem!