A Nostalgia Era Melhor Antigamente: X-Men – Vem o Apocalipse (primeira parte)
Seja bem vindo à coluna A Nostalgia era Melhor Antigamente, na qual eu covardemente analiso histórias escritas em outro contexto e aponto incongruências inaceitáveis em um desenho animado sobre pessoas que têm superpoderes desde o nascimento, mas a todo instante esquecem como usá-los.
X-Men The Animated Series S01E10 – Vem o Apocalipse
Escrito por Michael Edens
Direção: Larry Houston
Distribuição no Brasil pela Globofilmes
Nossa história começa na Ilha Muir, Escócia, onde o bilionário Warren Worthington III conversa com o Dr. Gottfried Adler sobre o procedimento que este desenvolveu para que os mutantes deixem de ser, bem, mutantes, já que mutação genética é claramente é uma simples questão de opção.
Para os não familiarizados com o desenho ou as HQs, uma breve explicação: no universo Marvel, “mutante” é o nome que se dá àqueles que nascem com poderes especiais e por conta disso sofrem grande preconceito da sociedade. Já quem ganha poderes depois de mais velho por pura obra do acaso não sofre discriminação alguma, porque quando é conveniente as pessoas rapidamente esquecem esse papo furado de meritocracia.
Por falar em meritocracia, embora tenha nascido mutante, Warren nasceu também muito rico, de modo que pôde arcar com os custos do desenvolvimento da “cura” e ainda ter a oportunidade de ser a primeira cobaia de um experimento sem precedentes, sem revisão pela comunidade científica e sem garantia de sucesso.
Para além da evidente metáfora com os picaretas aproveitadores que propõem uma “cura gay”, o que mais chama atenção na cena é que Warren por algum motivo decidiu vestir um uniforme de super herói para se submeter ao tratamento, o que é compreensível porque ninguém gosta de usar aquela camisola hospitalar que deixa o bumbum de fora tomando vento.
Por sinal, aqui vai mais uma breve explicação: enquanto nas HQs Warren é conhecido como Anjo, um dos membros fundadores dos X-Men, no desenho essa é a primeira aparição dele, que até então tinha zero ligação com o grupo de heróis mutantes. Faço essas considerações apenas para registrar que não existe nenhuma razão para ele estar trajado como super-herói no que deveria ser uma simples consulta médica.
Em outras palavras, ele está com esse uniforme apenas porque é um bilionário excêntrico que gosta de usar botas, luvas e um collant com uma auréola desenhada no peito – não que tenha nada de errado com isso, o importante é ser feliz.
Tão logo Warren está algemado à maca, o Dr. Adler revela que é na verdade a vilã Mística e que a “cura” é na verdade uma máquina que transforma mutantes em escravos do mutante, vilão e entusiasta de mangueiras de alumínio Apocalipse. Já Warren continua sendo só um rico otário que saiu de casa pra fazer negócio com um esperto.
Enquanto isso, em um bar ali perto, estão reunidos o Professor Xavier e os X-Men Vampira, Jean Grey e Ciclope, que viajaram até a Ilha Muir para investigar melhor toda essa história de “cura” mutante.
No mesmo estabelecimento estão também diversos mutantes interessados em se submeter ao procedimento do Dr. Adler, então nossos heróis se põem a debater sobre escolhas, autoaceitação e solidão. O assunto toca mais profundamente a heroína Vampira, que ao manifestar suas incertezas é prontamente censurada pelo intrépido líder Ciclope, que declara que “todos nós tivemos as mesmas dificuldades”.
Ok, eu entendo que cada um sabe onde o calo aperta, mas a mutação de Vampira a impede de ter contato físico com outros seres humanos, mutantes ou não, enquanto a de Ciclope o obriga a… usar óculos.
Acho essencial encorajar a autoaceitação, mas certamente haverá forma melhor de fazer isso do que dar lição de moral sobre as dificuldades dos outros quando o seu próprio seu handicap é basicamente o mesmo de um sujeito com 6 graus de miopia – sendo que a maioria dos míopes nem tem a contrapartida de disparar raios pelos olhos.
Antes que Ciclope possa checar seus privilégios, a conversa é interrompida pela chegada de Warren Worthington, já sem o uniforme, declarando aos quatro ventos que o procedimento funciona e que ele está “curado” da mutação que lhe dava asas.
É claro que o recém chegado não é de fato Warren e sim Mística disfarçada, mas nenhum dos presentes desconfia disso ou ao menos se pergunta que interesse o bilionário haveria de ter em oferecer a eles um procedimento desenvolvido com o seu financiamento, sem sequer mencionar preços ou mesmo cobertura pelo plano de saúde.
A maior parte dos clientes da casa se empolga com a notícia e manifesta interesse em se submeter ao procedimento, mas curiosamente os três primeiros escolhidos são justamente aqueles sem quaisquer mutações aparentes, o que por si só já deveria levantar nos demais a suspeita de que a tal “cura” talvez não seja tão milagrosa assim.
Diante de tudo isso, o Professor Xavier, que havia viajado para a Escócia especificamente para conversar com o Dr. Adler e investigar o tal procedimento de cura, decide… ir embora.
Será que o Dr. Adler terá seu diploma cassado? Será que o programa de milhagens do Professor Xavier dá direito à sala VIP no aeroporto? Não perca a continuação da nossa análise na semana que vem!
Atualização: a continuação já está no ar aqui!
Esse desenho foi um dos fatores que me fizeram começar a gostar de quadrinhos, junto com Batman de Tim Burton. Como vai ter agora o remake / continuação da animação, resolvi começar a assistir do início, só que ainda não cheguei nesse episódio.
Vc comentou no início do texto que “todo instante esquecem como usá-los”, mas no episódio piloto o que mais incomodou é como os poderes dos mutantes variavam em dano nos sentinelas. Tem uma hora que Ciclope dá um tiro e arranca a cabeça, em outro momento ele dá uns 10 tiros e nem arranha.