Crítica | A Noite das Bruxas

Crítica | A Noite das Bruxas

Mais uma vez Kenneth Branagh interpreta o detetive Hercule Poirot e dirige a nova adaptação para os cinemas de uma obra de Agatha Christie. Em “A Noite das Bruxas” o ator e diretor explora novas nuances do personagem, adotando um tom mais sombrio onde a racionalidade do protagonista é colocada em prova. Neste terceiro longa-metragem vemos Branagh mais à vontade no papel e como cineasta, indo em caminhos diferentes dos vistos anteriormente, tanto na narrativa quanto na parte técnica.

Nessa nova investigação encontramos Hercule Poirot seguindo uma vida comum aposentado da profissão de detetive. Contudo, ele recebe a visita de uma antiga amiga chamada Ariadne Oliver (Tina Fey). Ela é escritora e suas obras utilizam Poirot como protagonista, assim a personagem funciona de alguma forma como uma versão ficcional da própria Agatha Christie. A mulher diz que descobriu uma médium verdadeira e desafia o ex-detetive a acompanhá-la em uma sessão mediúnica para descobrir o segredo dela.

O evento ocorreu na residência de Rowena Drake (Kelly Reilly), uma ex-cantora de ópera que perdeu a filha recentemente. A sessão mediúnica é comandada por Joyce Reynolds (Michelle Yeoh), que afirma ter poder de se comunicar com os mortos. Um grupo de pessoas comparece ao local e obviamente acontece um crime, assim Poirot assume a investigação.

O fato do crime envolver eventos sobrenaturais é um desafio maior para Poirot, pois a investigação além de colocar em prática sua metodologia de investigação, coloca em xeque sua própria sanidade mental. Em alguns momentos o detetive tem visões, então seria isso algo real de algum fantasma se comunicando com ele ou Hercule estaria enlouquecendo?

Assim o clima de mistério da investigação assume também um tom sombrio e Branagh abraça muito bem o gênero de terror, sem deixar a essência do personagem de Agatha Christie de lado. Através dessa perspectiva diferente, o diretor se mostra mais criativo do que se apresentou em “Morte no Nilo”. Um detalhe que chama a atenção é o fato de terem sido realizadas muitas filmagens em locações, que dá mais verossimilhança à narrativa, contrastando com o excesso de tela verde do longa de 2022. Dessa forma, o cineasta explora as belezas de Veneza e o lado assustador da residência Rowena Drake.

Outro ponto importante é a fotografia, que explora bem as cores e a natureza sombria da cenografia, além de utilizar movimentos de câmera interessantes e mais inventivos dos que os vistos nos longas anteriores. É interessante, por exemplo, um momento no qual acompanhamos o ponto de vista subjetivo de Poirot enquanto ele interroga as pessoas presentes em uma sala. Ou o uso de planos holandeses para ressaltar a confusão mental do protagonista. A trilha sonora de Hildur Guðnadóttir ajuda na imersão do clima de suspense, alternando temas mais soturnos com outros mais lúdicos, porém mantendo o clima de mistério da trama no ar.

A escolha do elenco é muito acertada e todos eles têm seus respectivos momentos para brilhar, sendo até difícil destacar atores sem dar spoilers sobre a trama. Kenneth Branagh está mais uma vez excelente como Hercule Poirot e em “A Noite das Bruxas” ele explora muito bem o lado psicológico do protagonista. É interessante ver Tina Fey em um papel extremamente dramático, ainda que seu lado comediante contribua em menor escala na construção da sua personagem.

Dessa forma, “A Noite das Bruxas” é uma ótima surpresa que mostra que Kenneth Branagh encontrou uma fórmula de sucesso e que é possível explorar ainda mais as nuances do detetive Hercule Poirot. Nesse novo filme ele mostra uma inventividade muito boa ao incluir o tom de terror na narrativa, dando uma nova visão ao personagem.


Uma frase: – Hercule Poirot: “Não acredito em médiuns.”

Uma cena: A sessão mediúnica feita por Joyce Reynolds na casa de Rowena Drake.

Uma curiosidade: Filmado em locações em Veneza. Branagh queria usar o maior número possível de cenários físicos para as filmagens.


A Noite das Bruxas (A Haunting in Venice)

Direção: Kenneth Branagh
Roteiro: Michael Green
Elenco: Kyle Allen, Kenneth Branagh, Camille Cottin, Jamie Dornan, Tina Fey, Jude Hill, Ali Khan, Emma Laird, Kelly Reilly, Riccardo Scamarcio e Michelle Yeoh
Gênero: Policial, Drama, Terror
Ano: 2023
Duração: 103 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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