Crítica | Elementos (Elemental)
“Elementos”, nova animação da Pixar, como sempre apresenta uma premissa muito boa. Conhecemos uma cidade onde as pessoas são de um tipo de elemento: fogo, ar, terra e água. Cada um representa um povo diferente com suas respectivas tradições e formas de agir. Faísca Luz (Leah Lewis) é do povo de fogo e seus pais são imigrantes que foram embora da sua terra natal em busca de oportunidades na Cidade Elemento, criando uma comunidade no subúrbio da cidade.
A trama é inspirada na vida do diretor Peter Sohn, cuja família veio para os EUA saindo da Coréia. O longa-metragem mira na questão do sonho americano e dos imigrantes que vão para o país em busca de melhores condições de vida. É interessante ver a separação dos povos de acordo com seus respectivos elementos e de como eles não se misturam, sendo que o povo do fogo é o que mais sofre com isso.
A jornada inicial de Faísca é interessante, pois seu pai Brasa montou uma loja de produtos para o povo do fogo e quer que ela assuma os negócios da família. A questão é que ele tem problemas e inseguranças devido ao seu temperamento “esquentado”, assim ela perde a paciência facilmente com os clientes do estabelecimento, por exemplo. Além disso, ela também tem dúvidas sobre o que realmente quer da vida e se realmente tem condições de cuidar da loja do pai.
Apesar do início promissor, “Elementos” apresenta problemas no desenrolar da narrativa. O roteiro revela irregularidades ao apresentar Gota D’Água (Mamoudou Athie), um jovem fiscal da cidade que aparece na loja da família Luz e decide multar o estabelecimento devido a algumas irregularidades. A partir desse ponto surge um clima romântico entre eles, assim a trama segue uma cartilha de uma comédia romântica, onde o futuro casal inicialmente tem conflitos, mas logo surge a química entre eles.
Não teria problemas em explorar esse lado romântico da história, a questão é que isso se sobrepõe sobre os outros temas mais interessantes apresentados pela narrativa até então. Para completar o personagem Gota é um pouco exagerado e melodramático. O roteiro explora isso como forma de antagonizar com o temperamento racional e às vezes explosivo de Faísca, mas ele simplesmente não é tão interessante quanto ela.
Além disso, toda a dinâmica entre os elementos dentro da Cidade Elemento também é deixada de lado. “Elementos” apresenta apenas um personagem do povo da terra e outro do ar somente para constar, mas eles infelizmente são deixados em segundo plano sem muito aprofundamento. O que é uma pena, pois existia potencial para muita coisa ser explorada.
Assim, apesar do visual incrível, que sempre é um dos pontos fortes da Pixar, e de uma ótima premissa, “Elementos” não consegue ir muito além do caminho seguro, especialmente por explorar mais o lado romântico do que o drama dos imigrantes do povo do fogo da família de Faísca. E esse tema já foi explorado de formas mais criativas, como por exemplo em “Amor, Sublime Amor“. Ainda assim o diretor Peter Sohn entrega um bom longa-metragem, mantendo o padrão de qualidade do estúdio de animação, mesmo que não consiga explorar totalmente o potencial da premissa inicial.
Uma frase: – Fagulha: “Elementos não podem se misturar.”
Uma cena: A Faísca e Gota jogam o jogo da lágrima com a família dele.
Uma curiosidade: O filme é baseado na vida do diretor Peter Sohn com seus pais imigrando da Coréia para os EUA – sem falar uma palavra em inglês e se estabelecendo no Bronx. A família de Sohn também abriu uma mercearia chamada Sohn’s Fruits and Vegetables – semelhante à família de Faísca no filme.
Elementos (Elemental)
Direção: Peter Sohn
Roteiro: John Hoberg, Kat Likkel e Brenda Hsueh; história de Peter Sohn, John Hoberg, Kat Likkel e Brenda Hsueh
Elenco: Leah Lewis, Mamoudou Athie, Ronnie del Carmen, Shila Ommi, Wendi McLendon-Covey e Catherine O’Hara
Gênero: Animação, Aventura, Comédia
Ano: 2023
Duração: 109 minutos