Crítica | O Crime é Meu (Mon crime)

Crítica | O Crime é Meu (Mon crime)

Em “O Crime é Meu” o diretor francês François Ozon explora um tom cômico e teatral em uma trama que se passa nos anos 1930 que faz uma mistura de filme noir com comédia. O cineasta também ironiza com a situação do machismo onde a protagonista busca igualdade em um mundo dominado por homens, problema que persiste até a atualidade. Tudo isso com muito sarcasmo e humor francês, contudo o clima ingênuo prejudica um pouco a narrativa.

A protagonista do filme é Madeleine Verdier (Nadia Tereszkiewicz), uma jovem aspirante a atriz que não parece ter muito talento. Ela mora junto com sua amiga advogada Pauline (Rebecca Marder) e ambas passam por dificuldades financeiras sem conseguir pagar o aluguel. Madeleine se torna suspeita de ter assassinado um famoso produtor, então junto com Pauline montam um plano na qual a senhorita Verdier assume a autoria do crime.

Dessa forma ela ganharia as manchetes dos jornais, tornando-se famosa e com isso teria oportunidades de trabalho como atriz e sua amiga a chance de advogar outros casos. A ideia é de que pelo fato de ser mulher ela teria matado o homem em legítima defesa, pois ele teria a atacado. A verdade é que Madeleine realmente se encontrou com o produtor e foi tacada por ele, mas ela fugiu sem cometer nenhum crime.

O roteiro do próprio François Ozon abusa do humor pastelão e ironiza a investigação policial. As atuações exageradas meio teatrais contribuem com o tom farsesco da narrativa. No entanto, enquanto Madeleine é julgada ela tem algumas falas interessantes que ecoam na atualidade, dando um pouco de seriedade e crítica a “O Crime é Meu”. Isso é interessante por um lado, mas por outro fica a dúvida de qual a real intenção de Ozon com a história apresentada.

Outro elemento peculiar do filme é a entrada de uma personagem protagonizada por Isabelle Huppert que surge na segunda metade de história e dá um fôlego para a história se encaminhe para um encerramento. A atriz está ótima e rouba a cena, indo no limite do caricato para contribuir ainda mais para o tom cômico da narrativa.

A trilha sonora de Philippe Rombi também é um elemento fundamental em ditar o tom da narrativa de “O Crime é Meu”. Em alguns momentos o compositor apresenta temas que lembram música dos anos 1930, prestando homenagem à época. Em outros ele mostra músicas que remetem um tom emotivo, que funciona bem, como na cena do julgamento de Madeleine, especialmente em seu discurso final. Mas é quando ele investe em composições alegres e mais rápidas, evocando o humor pastelão, é a hora em que a trilha funciona melhor.

Na parte técnica o filme apresenta uma boa cenografia, especialmente em alguns momentos na rua com uma mistura de locação real e cenários que retratam bem o período da história. O figurino também é competente, com belas roupas usadas principalmente pelas personagens femininas. Já a fotografia e montagem chamam a atenção nos momentos de flashback, que são mostrados em preto-e-branco e com uma razão de aspecto que remetem aos filmes dos anos 1930.

Através desses elementos é possível afirmar que “O Crime é Meu” é um bom filme, que tem seu diferencial no tom cômico e no talento e carisma do elenco, principalmente da protagonista Nadia Tereszkiewicz. Contudo, a ingenuidade da narrativa e a dúvida sobre as intenções de François Ozon não deixam totalmente claras o quanto o longa-metragem está criticando a situação das mulheres na luta contra o machismo ou se está apenas fazendo graça com isso.


Uma frase: – Madeleine: “Seria possível, em 1935, uma mulher conduzir sua carreira e sua vida em completa igualdade?”

Uma cena: O julgamento de Madeleine.

Uma curiosidade: Este filme é uma adaptação livre da peça de 1934 “Mon crime”, de Georges Berr e Louis Verneuil, que já foi adaptada duas vezes por Hollywood: A Mentirosa (1946) e Confissão de Mulher (1937).


O Crime é Meu (Mon crime)

Direção: François Ozon
Roteiro: François Ozon
Elenco: Nadia Tereszkiewicz, Rebecca Marder, Isabelle Huppert, Fabrice Luchini, Dany Boon e André Dussollier
Gênero: Comédia, Policial, Drama
Ano: 2023
Duração: 102 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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