Crítica | Capitu e o Capítulo

Crítica | Capitu e o Capítulo

Dom Casmurro” de Machado de Assis é sem dúvidas um dos livros mais importantes da literatura brasileira. Em “Capitu e o Capítulo” o diretor Julio Bressane apresenta uma versão intimista e peculiar da obra literária. Talvez uma boa definição para o filme seria de que ele é um ensaio cinematográfico, onde o cineasta pega alguns trechos importantes com o objetivo de captar a essência da narrativa.

O problema é que a visão de Julio Bressane talvez seja um pouco intimista demais e nem sempre fica claro para o espectador qual o seu objetivo. Tudo bem, a interpretação faz parte de qualquer tipo de arte, contudo a estética de “Capitu e o Capítulo” não dá tanta margem para muitos significados dentro do próprio filme.

Uma das questões é que conhecer a obra de Machado de Assis talvez seja essencial para se apreciar o filme de Bressane. Ao utilizar apenas trechos do livro, que são apresentados em algumas cenas nem sempre com uma conexão entre elas, o espectador que não conhecer a trama pode se perder dentro da narrativa.

Essas cenas são construídas de maneira visual interessante e sem dúvidas a fotografia de “Capitu e o Capítulo” é o aspecto técnico mais bem utilizado no filme. A cenografia é simples, mas os detalhes ajudam na imersão do universo da época da narrativa. Um bom exemplo é uma rima visual na qual vemos no início Capitu (Mariana Ximenes) e Bentinho (Vladimir Brichta) conversando e vemos o reflexo dela no espelho, mostrando sua dualidade. Então no final vemos o contrário, ele que tem a imagem duplicada, assim agora é a sua vez de se sentir dividido.

No entanto, as atuações usam uma mistura de tom teatral com momentos nos quais os atores parecem apenas declamar trechos do livro. São performances físicas e minimalistas, pegando um tom mais farsesco, mas que falham ao demonstrar as emoções mais fortes da trama.

Também é incluído um papel de narrador, que é o próprio Bentinho em uma versão mais velha interpretada por Enrique Diaz. Esse recurso serve para aproximar o filme do livro, mas ele atrapalha mais com suas divagações do que realmente acrescenta elementos interessantes à narrativa. O personagem surge em uma biblioteca e cada vez que aparece na tela tira o espectador de dentro do universo da história.

Outro elemento que atrapalha “Capitu e o Capítulo” é a inserção de trechos de outros filmes entre as cenas. Em alguns momentos parecem ser produções caseiras, que poderiam ser algum pensamento ou devaneio de algum personagem. Mas na prática só servem para confundir mais o espectador, pois muitos desses trechos remetem a algo pessoal do próprio Julio Bressane, como pedaços de outras obras cinematográficas suas. Além disso, também aparecem algumas obras de arte, que dentro do contexto da narrativa não parecem acrescentar nada à narrativa.

Dessa forma “Capitu e o Capítulo” se torna uma obra difícil de ser apreciada, já que além de ter um tom experimental, o diretor Julio Bressane inclui elementos no filme que mais atrapalham do que ajudam a adicionar significado à sua obra.


Uma frase: – Capitu: “Mentiroso!”

Uma cena: Quando Capitu e Bentinho conversam na frente de um espelho.

Uma curiosidade: O título parte de um pequeno poema que Haroldo de Campos declamou ao próprio Julio Bressane, em 1984. ‘O importante no Dom Casmurro não é a Capitu, mas o capítulo…’.


Capitu e o Capítulo

Direção: Julio Bressane
Roteiro: Julio Bressane e Rosa Dias
Elenco: Mariana Ximenes, Enrique Diaz, Vladimir Brichta, Djin Sganzerla, Saulo Rodrigues, Josie Antello e Claudio Mendes
Gênero: Drama
Ano: 2021
Duração: 75 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *