Review | Westworld – S04E08 – Que Será, Será

Review | Westworld – S04E08 – Que Será, Será

Ficou bem claro que a quarta temporada de Westworld marcou uma tentativa de retorno a suas duas primeiras excepcionais temporadas. Tantos em termos de estrutura quantos de temas abordados. Mas a grande questão que fica ao fim da temporada é: em que medida essa tentativa foi bem-sucedida?

[button-red url=”#” target=”_self” position=””]Aviso de SPOILERS[/button-red]

Os comentários a seguir falam sobre acontecimentos encontrados em Que Será, Será, o oitavo episódio da quarta temporada de Westworld.

Como dito aqui diversas vezes ao longo dos textos acerca da quarta temporada, os produtores Jonathan Nolan e Lisa Joy optaram por retornar ao texto pouco ou nada expositivo que marcou as duas primeiras temporadas, e que fora abandonado na terceira (porém, não tanto assim). Em certo sentido pode-se considerar uma escolha legítima uma vez que é importante, em se tratando de uma produção comercial de alto orçamento, também acenar para outros públicos que não apenas aquele, digamos, com um perfil de fã de sci-fi hardcore. E também é justo afirmar que eles foram razoavelmente bem na conquista desse meio-termo. O uso expositivo de diálogos de personagens para melhor esclarecer motivações e conceitos que atravessam a temporada foi feito na medida certa. 

E embora tenha sido uma temporada muito boa (ainda que não tão boa quanto as duas primeiras), há sem dúvidas alguns problemas que merecem ser pontuados. “Que Será, Será“, o último episódio dessa temporada, talvez, sintetize melhor do que qualquer outro os problemas apontados. 

Depois de um espetacular penúltimo episódio, o último episódio peca no que diz respeito a ritmo e desenvolvimento narrativo. No esforço de concluir arcos de personagens em apenas um episódio, a execução parece abrupta. Westworld sempre apostou na elisão narrativa para contar sua história. E na maioria das vezes esse recurso (principalmente considerando tratar-se de uma série que inicialmente não apostava no didatismo) é bem-vindo. Porém, a conclusão da temporada recorre excessivamente a esse mecanismo e o resultado é um comprometimento do envolvimento da audiência com os arcos dos personagens.

A “metanoia” (para aqui fazer referência ao penúltimo episódio) de Charlores é um grande exemplo disso. Aquela que vinha sendo construída ao longo da temporada como uma espécie de supervilã megalomaníaca e tomada pela arrogância, diante do caos instaurado pelo Homem de Preto, após ver uma única mensagem de Bernard, volta-se de maneira bastante abrupta no caminho da “redenção”. Não que não faça sentido, ou mesmo seja inconsistente. O problema é que, em se tratando de uma personagem tão complexa e tão magnificamente construída por Tessa Thompson, falta uma gradatividade essencial para que nós, a audiência, nos envolvamos melhor nesse processo.

Na mesma medida, as resoluções de conflito preferem ao recorrer a um modelo de ação típico da linguagem hollywoodiana soam estranhas e fora do lugar no contexto cerebral e minimalista de Westworld. E é interessante notar como justamente o destino “final” de um dos personagens mais carismáticos da série, Stubs, é entregue de forma extremamente frustrante graças a essa inexplicável opção pela resolução através da ação hollywoodiana. Stubs merecia mais e sem dúvida Clementine não precisava estar ali. 

Outro grande problema é nitidamente Caleb, o personagem de Aaron Paul. A impressão que fica é que os escritores da série sempre o trataram mais como um recurso narrativo a ser usado para abordar certos aspectos da complexa trama da série, do que como um personagem mesmo. Caleb não nos causa empatia, e mesmo quando tem o que pretende ser uma bela cena de encerramento com sua filha, o resultado parece apenas piegas e desnecessário. 

Claro, de novo, isso não significa que se trate de um grave problema. Nem de longe isso prejudica a temporada que, similar às anteriores, não deixa de entregar à audiência sua recompensa. Afinal, o último episódio além de fechar pontas, se apresenta como uma espécie de epílogo para uma, ainda não confirmada, quinta temporada. Os caminhos já estão traçados e a grande linha narrativa que leva ao final dessa grande jornada já se encontra bem definida. E o faz, mais uma vez, explorando o imenso talento de Evan Rachel Wood e ecoando as sempre fundamentais palavras do Dr. Ford de Anthony Hopkins.

Esperemos que venha a última temporada, e que todo o projeto audacioso que é Westworld seja concluído à sua altura. Jonathan Nolan e Lisa Joy são capazes disso, não resta dúvida. Resta saber se a nova direção do recém-formado grupo Warner-Discovery, a quem a HBO pertence, assim também entenderá.



Westworld

Temporada: 
Episódio: 08
Título: Que Será, Será
Roteiro: Alison Schapker e Jonathan Nolan
Direção: Richard J. Lewis
Elenco: Evan Rachel Wood, Thandiwe Newton, Jeffrey Wright, Tessa Thompson, Aaron Paul, Angela Sarafyan e Ed Harris
Exibição original: 14 de agosto de 2022 – HBO

Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

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