Review | Station Eleven (minissérie)

Review | Station Eleven (minissérie)

Station Eleven é uma incursão diferenciada em um mundo pós-apocalíptico. Se você gosta do tema, mas está saturado de zumbis, pessoas normais que se transformam em assassinos sanguinários e do holocausto nuclear, essa experiência pode ser para você.

Notícias sobre um vírus mortal se espalham, porém o governo e parte da mídia querem esconder o perigo da população. Mas quem está no meio do caos percebe que as coisas são piores do que se imagina. Com uma transmissão absurdamente rápida e uma letalidade brutal, mais de 90% da população do planeta é dizimada.

Acompanhamos a terrível chegada de todo esse desespero a partir da perspectiva de Kirsten e Jeevan. Durante uma apresentação da peça de Rei Lear o ator principal tem um infarto. Jeevan, um homem de cerca de 30 anos, é o primeiro da plateia a perceber e tenta ajudá-lo. Em vão. Arthur Leander morre enquanto fazia o seu trabalho. Uma das atrizes mirins da peça, Kirsten, é esquecida na comoção do momento e fica sem alguém para levá-la para casa. Jeevan se habilita para a tarefa. No caminho, recebe uma ligação da irmã médica dizendo que o vírus é real e o mundo pode mesmo acabar.

Jeevan tenta levar a garota para casa, mas não há ninguém lá dentro e ela não consegue contato com os pais. Ele decide ficar com ela e ir até a casa do irmão, não sem antes passar no mercado e fazer um estoque. Até esse momento poucos levam muito a sério a situação, tanto que o mercado está completamente vazio.

Mas os indícios do dramático destino do planeta estão em cada canto. Hospitais lotados, pessoas morrendo em seus carros e um ar de desesperança nos olhos de vários.

E a partir do momento que Station Eleven pula no tempo cerca de 20 anos e mostra Kirsten em uma companhia de teatro itinerante começamos a entender a abordagem única do seriado.

Um dos pontos fortes dele é justamente sua estrutura narrativa que vai e volta no tempo de forma fluida e revela como certos atos podem ter um forte impacto lá na frente. E ainda consegue aumentar a carga emocional de várias cenas e deixar mistérios no ar.

Recebemos uma informação no final do primeiro episódio e passamos todos os outros tentando entender o que de fato aconteceu. A resposta vem só no último episódio e da melhor forma possível. Esse é um exemplo de como eles souberam utilizar os pulos no tempo para potencializar a história. É oferecido um quebra-cabeça que é solucionado aos poucos.

Station Eleven fascina por conseguir abordar o fim do mundo de uma forma mais esperançosa, lírica e realista até certo ponto. Vemos que 20 anos depois do caos as pessoas conseguiram seguir em frente, mostrando a resiliência do ser humano e a importância de se fazer parte de um grupo. Nesse caso, um grupo de atores shakespearianos que ganha a vida se apresentando em pequenos lugarejos e não deixando a arte morrer.

Em muitas situações os personagens agem de forma verossímil. Ninguém ganha magicamente uma capacidade de ser o rei da sobrevivência e do manejo de armas. Aqui eles tem dúvidas, medos, anseios e afeto. Sim, acompanhamos momentos em Station Eleven de atos de gentileza que emocionam. São conversas resignadas de pessoas entendendo a situação extrema em que se encontram e buscando meios de sentirem bem.

Há muitas sequências e diálogos que reiteram a importância da arte para o ser humano. Além dos personagens atores temos Miranda, que escreve uma história em quadrinhos sem pensar em fazer sucesso. Ela escreve porque quer, porque precisa produzir. E esse livro – chamado Station Eleven – só tem 5 cópias e possui uma enorme relevância dentro da trama.

É interessante como quase todos aqui tem importância. Se inicialmente parece que tudo vai se concentrar em Jeevan e Kirsten, depois vemos um desenvolvimento digno da maioria. E aí ficamos com vontade rever os 10 episódios para prestar mais atenção em certos detalhes.

Station Eleven não é uma minisserie sobre o mundo pos-apocalíptico com ação ou conflitos do bem contra o mal. Há sim a criação de um tipo de culto com ideais particulares cujas origens serão bem explicadas. E conseguiremos entender os propósitos deles também. A minissérie foge do maniqueísmo barato.

Impressiona como Station Eleven cativa desde o início com seus personagens, com a trilha sonora, com a inteligência do roteiro e com momentos derradeiros que são preparados nos primeiros episódios e finalizados no ótimo desfecho.

Eis algo único, algo artístico sem ser pedante. Uma vibe meio Leftovers só que menos “cabeça”, digamos assim.

Como um bom admirador do tema, eu não poderia ter ficado mais satisfeito.



Station Eleven (Estação Onze)

Criado por: Patrick Somerville
Emissora: HBO Max
Elenco: Mackenzie Davis, Daniel Zovatto, David Wilmot, Himesh Patel, Matilda Lawler, Nabhaan Rizwan, Philippine Velge, Lori Petty, Danielle Deadwyler, Gael García Bernal, Joe Pingue, Deborah Cox, Prince Amponsah
Ano: 2021

Bruno Brauns

Fã de sci-fi que gosta de expor suas opiniões por aí! Oinc!

3 comentários sobre “Review | Station Eleven (minissérie)

  1. Também fiquei bastante satisfeito com a série, foi uma ótima surpresa. São muitos fatores, mas acredito que o principal é a ideia de focar em peças teatrais num apocalipse. E todo o culto em cima do livro, e as pessoas que se separaram e precisam se encontrar e as loucuras que surgem e mistérios, tudo bem amarrado e resolvido num desfecho que é emocionante.

    Bem redondinha. Uma excelente pedida realmente

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