Resenha de Livro | Grande Sertão: Veredas

Resenha de Livro | Grande Sertão: Veredas

Quem sou eu para elaborar uma resenha propriamente dita de Grande Sertão: Veredas, monumental obra de nossa literatura já muito estudada e debatida por especialistas? A intenção é meramente fazer um relato da minha experiência ao reler o livro 15 anos após a primeira vez. Antes de efetivamente iniciar a leitura, tive contato com textos que analisam Grande Sertão: Veredas de maneira mais profunda, ajudando muito na compreensão.

A história do autor Guimarães Rosa impressiona. Desde muito criança ele se interessou por diversos idiomas e se tornou fluente em vários, como alemão, espanhol, inglês, italiano e francês. Ele se formou em medicina e chegou a clinicar por alguns anos. Foi aprovado em um concurso do Itamaraty e virou diplomata. Inclusive, esteve em Hamburgo entre 1938-1942, quando conheceu sua segunda esposa, Aracy de Carvalho. Aliás, Aracy de Carvalho foi homenageada por Israel por ter salvo vários judeus durante a Segunda Guerra. O nome dela está no Jardim dos Justos entre as Nações.

Essa obsessão por línguas é algo que fica evidente em Grande Sertão: Veredas. Um dos motivos que fazem o livro ser tão admirado é justamente a sua linguagem. É inegável que o primeiro contato com o livro é difícil, afinal estamos diante de algo extremamente original e diferenciado. Demora algumas páginas para nos acostumarmos com o estilo do escritor, recheado de invenções de vocabulário e misturas de arcaísmos com palavras comuns usadas pelos jagunços.

Mesmo prestando total atenção enquanto lia, eventualmente sentia que deixava passar alguma informação importante e retornava algumas linhas. Há quem recomende ler em voz alta. Costuma ajudar.

Mas não é só a linguagem que torna Grande Sertão: Veredas um desafio literário. Este é um livro de 610 páginas que não é dividido por capítulos. Pode ser um tanto assustador. Além disso, trata-se de uma narração em primeira pessoa, não-linear e cheia de digressões.

Não é desafiador? E também fascinante.

Depois do estranhamento inicial me senti absorvido pela trama. Acompanhamos as idas e vindas do jagunço Riobaldo pelo sertão. É uma história recheada de perigos e surpresas. Uma verdadeira aventura brasileira que se passa em lugares como o Liso do Sussuarão e os entornos do Rio São Francisco entre a Bahia e Minas Gerais.

Temos aqui atos de vingança, pactos com o capiroto, disputas pelo poder, tragédias, exemplos de como a natureza pode superar o ser humano e há também espaço para momentos de um lirismo tocante e inesperado.

Guimarães Rosa fez duas viagens para conhecer o Sertão, mas ele também conhecia o mundo. Os professores de literatura costumam dizer que o autor mostra aqui um regionalismo universalista. O sertão é realmente o mundo e “viver é negócio perigoso” em qualquer lugar.

Riobaldo, Diadorim, Joca Ramiro, Zé Bebelo, Hermógenes, Ricardão… os personagens de Grande Sertão: Veredas ganham vida própria e fazem dessa travessia algo único. É preciso um pouquinho de coragem para virar a primeira página e de persistência para se acostumar com tamanha inovação de Guimarães Rosa. Depois será de fato recompensador.


Título: Grande Sertão: Veredas
Autor: João Guimarães Rosa
Editora: Nova Fronteira
Páginas: 608
Ano: 1956

Bruno Brauns

Fã de sci-fi que gosta de expor suas opiniões por aí! Oinc!

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