A Nostalgia Era Melhor Antigamente: Batman: O Retorno

Seja bem vindo à coluna A Nostalgia era Melhor Antigamente, na qual eu covardemente analiso histórias escritas em outro contexto e aponto incongruências inaceitáveis em filmes sobre uma mulher que desenvolve habilidades de alta costura depois de ser lambida por gatos de rua.
No episódio de hoje, veremos que o Batman tem critérios muito específicos na hora de salvar inocentes, descobriremos que Gotham deve ter muitos prestadores de serviços misteriosamente desaparecidos e entenderemos as semelhanças entre a política de Gotham City e do Brasil.
Batman: O Retorno
Roteiro: Sam Hamm e Daniel Waters
Direção: Tim Burton
Nota: dedico esta edição especial de Natal ao querido amigo Ramon Prates, verdadeira força motriz por trás deste prestigioso site
Nossa história começa 33 anos atrás, com um bebê sendo atirado em um rio pois cometeu o imperdoável crime de não corresponder às expectativas de seus pais milionários.

Mas o plano dos dois vai por água abaixo, ou melhor, não vai, porque o carrinho do bebê flutua no rio até chegar ao espaçoso e bem ventilado esgoto de Gotham City, onde é recebido por simpáticos pinguins que, como se sabe, têm no esgoto o seu habitat natural.
De volta ao presente, e por presente eu quero dizer o Natal de 1992, o inescrupuloso magnata Max Shreck aproveita a inauguração da árvore de Natal de Gotham para fazer lobby junto ao prefeito para construção de uma usina nuclear. Subitamente, contudo, a cerimônia é interrompida por criminosos com temática circense, porque provavelmente sobraram fantasias do filme anterior e o diretor Tim Burton não quis desperdiçar.

Mas não há o que temer! A ágil e competente polícia de Gotham chega quase que imediatamente ao local e prontamente… não faz absolutamente nada. O Comissário Gordon, que por algum motivo esqueceu que é o comandante de toda a força policial e está na viatura patrulhando o local como um recruta, limita-se a passar um rádio mandando ligar o Bat-Sinal.
Enquanto isso, nosso herói Bruce Wayne está em sua mansão sentado sozinho no escuro e olhando para o chão, porque realmente a gente não tinha muita coisa pra fazer antes de inventarem a Internet. Seu momento de ócio contemplativo é interrompido quando o Bat-Sinal brilha no céu, acionando um refletor no muro da mansão, que aciona um segundo refletor, que por sua vez projeta um imenso morcego de luz na parede da sala, o que deve gerar algumas perguntas constrangedoras quando ele recebe convidados em casa.

Em questão de minutos, Bruce Wayne veste sua roupa de morcego, entra no Batmóvel e chega ao local do ataque, demonstrando que Gotham não tem problemas com engarrafamentos nem mesmo às vésperas do Natal. Em seu trajeto, nosso herói até derruba alguns criminosos, mas opta por não socorrer nenhuma das dezenas de pessoas sendo atacadas, alvejadas e até incendiadas, decidindo parar somente para salvar a bela secretária Selina Kyle, que está sendo ameaçada com um taser por um dos refugos do filme anterior.

Todo esse alvoroço, no entanto, não passou de uma distração para possibilitar o sequestro do proprietário de loja de departamentos/entusiasta de usinas nucleares Max Shreck pelo infame vilão/lenda urbana/apreciador de guarda-chuvas bélicos Pinguim.
Veja bem: o garoto desprezado pelos pais três décadas antes foi criado pelos pinguins de esgoto, que o ensinaram a falar, a ler e a comandar criminosos com temática circense — mesmo sem ter um centavo para remunerá-los — e ele agora deseja ser reintegrado à sociedade.
Por algum motivo não muito bem explicado, o Pinguim decide que Max é a pessoa certa para promover essa reintegração, e que a melhor forma de obter sua ajuda é atacar a cidade com palhaços fortemente armados, torcer para que ele fuja para a viela escura onde está sua armadilha, capturá-lo, levá-lo ao esgoto e então pedir sua ajuda.

Max, por sua vez, sente que o fato de estar rendido em um esgoto e cercado por pessoas fortemente armadas que acabaram de aterrorizar a cidade não é incentivo suficiente para dar sua colaboração, e questiona por que então deveria fazê-lo, ao que o Pinguim responde elencando evidências de crimes cometidos por Max e suas empresas, desde lixo tóxico até o assassinato de um ex-sócio.

Diante de tudo isso, Max não vê outra alternativa e faz o que qualquer um faria em seu lugar: propõe que o maníaco homicida sequestrador estranho à sociedade e sem qualquer contato com seres humanos normais há mais de três décadas se candidate à prefeitura.

Enquanto isso, Selina Kyle chega em casa depois ser salva com exclusividade pelo seu Batman Personalité, apenas para ser lembrada, por uma mensagem que ela mesma deixou na própria secretária eletrônica, de uma atividade pendente no escritório.
Ok, ela sabia que ia esquecer de resolver um problema no trabalho. Poderia então, sei lá, anotar numa agenda, deixar um post it na própria mesa ou amarrar um barbante no dedo, mas não: ela preferiu deixar um recado na própria secretária eletrônica, para que fosse lembrada somente quando chegasse em casa, sendo assim obrigada a fazer todo o caminho de volta ao escritório.

Chegando lá, Selina é flagrada pelo chefe Max Shreck, que também retornou ao escritório depois de ter decidido que lançará como candidato um psicopata repugnante sem qualquer experiência, aptidão ou competência para o cargo, e eu apenas agora me toquei que esse filme de 1992 foi profético pra caramba.
Pois muito bem, Selina explica que está preparando a documentação de uma importante reunião que Max terá com Bruce Wayne dia seguinte. Ela chega até mesmo a confessar que descobriu a senha e acessou as pastas sigilosas do computador do chefe sem sua autorização, como se isso fosse lhe render pontos pela proatividade.

Não satisfeita e ainda acreditando que está apenas sendo prestativa, Selina casualmente declara ter encontrado indícios de crimes cometidos por Max na tal usina nuclear, que na verdade não gera energia, mas sim suga eletricidade do grid da cidade para si.
É um mistério, contudo, como ele conseguiu manter secreto um projeto que certamente envolveu centenas de pessoas, laudos e licenças e que, principalmente, gira em torno de uma usina de energia que não gera energia.
Mas deixar evidências dos crimes que comete não é algo que preocupe Max, porque diante da confissão de Selina ele decide empurrá-la pela janela sem se preocupar com coisas menores como possíveis testemunhas e câmeras ou mesmo o fato de que a tentativa de homicídio se deu em seu próprio escritório.

Digo “tentativa de homicídio” porque, embora tenha despencado do alto de um imenso prédio, Selina não morre. Seu corpo inerte é lambido por todos os gatos de rua da cidade, e as famosas propriedades curativas da saliva felina trazem a moça de volta à vida.

Será que Max vai procurar o corpo de Selina para jogar na privada? Será que o sinal 5G vai chegar no esgoto de Gotham? Não perca a continuação da nossa análise na semana que vem!
Edit: a segunda parte já está no ar aqui.
REITER! LEAVE MEU BATEMA ALONE!!11
Cadê a continuação?
Cadê a continuação, porra?
baralho, bicho, quero mais textos seu nessa pocilga.
Ainda não saiu porque a renovação do meu contrato estava sendo negociada, mas agora vai.