Crítica | Fuja (Run)
Dizem que não existe amor maior que o materno, e é a partir desse plot que o cineasta Aneesh Chaganty (Buscando) constrói seu thriller em “Fuja (Run)”. Contando com uma excelente atuação de Sarah Paulson, a película consegue através de uma trama simples captar toda a atenção do espectador. Uma daquelas narrativas que parecem ‘batidas’, mas que tem um ritmo bastante satisfatório e, o melhor: “Um final daqueles”.
Na trama vamos conhecer uma adolescente chamada Chloe (Kiera Allen) que é PcD e utiliza uma cadeira de rodas. Vivendo apenas com sua mãe (Sarah Paulson, O Pintassilgo), sua rotina envolve basicamente estudar em casa e tomar diversas medicações. Enquanto aguarda resposta de algumas universidades, Chloe começa a suspeitar das atitudes de sua mãe e entra numa perigosa ‘investigação’ que pode revelar alguns segredos bastante assustadores.
Existia um mundo, no século passado, onde o maior medo de qualquer criança ou adolescente era ficar preso em casa sem ter o que fazer. Nos tempos atuais, podemos dizer que poucas coisas seriam mais assustadoras para um adolescente do que ficar preso em casa sem acesso a internet. Este, diria, é o primeiro dos muitos momentos de terror que “Fuja” nos reserva.
Se em “Buscando” Aneesh Chaganty fez um filme todo mergulhado no ambiente tecnológico e conectado pela internet, aqui a brincadeira é como a falta de conexão complica a vida da nossa protagonista. Só que esse não é o mote principal da narrativa. As coisas começam a complicar mesmo quando a jovem descobre que, talvez, não conheça tão bem assim a sua mãe. E o que poderia ser mais assustador para uma filha do que descobrir que a pessoa com a qual ela conviveu durante toda a sua vida, pode não ser quem ela pensava?
É fácil encontrar referências a outros grandes filmes de suspense como “Sinais” de Shyamalan ou alguns clássicos de Hitchcock. Aneesh usa algumas referências como homenagem e inclui também elementos atuais e horrores cotidianos num thriller que, mesmo não trazendo nada de diferente, consegue captar a atenção do espectador do início ao fim. Isso, por si só, já faz valer o seu tempo investido no filme.
Outra questão importante é que mesmo sem ter uma discussão tão direta sobre as PcDs, “Fuja” dá um importante recado para outros produtores e cineastas com a participação da atriz Kiera Allen. Ela, que usa cadeira de rodas desde 2014, é um exemplo de como inclusão é importante para tornar obras mais verossímeis e também representativas. Para se ter ideia, a última vez que escalaram uma cadeirante para um dos papéis principais num thriller mais importante como este foi em 1948 com o filme O Signo de Áries.
O mistério e as cenas de tensão são bem construídas e, como um bom filme do gênero, “Fuja” sabe guardar o melhor para o final. A última cena traz uma daquelas reviravoltas que farão os mais empolgados darem um gostoso grito (ainda que culpado) de satisfação.
Uma frase: “Eu te amo, Mãe. Agora abra bem (a boca)“.
Uma cena: A cena que encerra o filme, falar iria ser um grande spoiler.
Uma curiosidade: Quando Chloe liga para um serviço de informações, a voz automatizada responde “Derry, Maine” como exemplo de uma cidade e estado dos Estados Unidos. Esta é uma referência para o lugar que costumeiramente Stephen King utiliza em seus livros e filmes.
Fuja (Run)
Direção: Aneesh Chaganty
Roteiro: Aneesh Chaganty e Sev Ohanian
Elenco: Sarah Paulson e Kiera Allen
Gênero: Thriller, Mistério
Ano: 2020
Duração: 1h 30min