Crítica | O Protocolo de Auschwitz

“aqueles que não se lembram do passado estão condenados a repeti-lo”
George Santayana – filósofo e escritor
O cinema já abordou o tema sobre os campos de concentração de judeus feito pelos nazistas durante a 2ª guerra mundial em exaustão, mas infelizmente ainda tem muita coisa a ser dita a respeito, ainda mais em tempos de negação que vivemos. “O Protocolo de Auschwitz”, dirigido por Peter Bebjak, mostra uma parte importante da história que não é muito conhecida do grande público.
A trama apresenta a jornada Freddy e Walter, dois jovens judeus eslovacos presos no campo de concentração de Auschwitz. No dia 10 de abril de 1944, após um planejamento meticuloso e com a ajuda e a resiliência de seus colegas internos, eles conseguiram escapar do local. A fuga é movida pelo sentimento de esperança de que eles consigam ajuda para os outros presos, que continuam sendo torturados pelos nazistas por informações sobre os fugitivos.
A narrativa alterna bem entre a fuga dos dois jovens com o que ocorre em Auschwitz, onde os outros presos são torturados à exaustão. Essa alternância é importante para mostrar a importância de que a jornada de Freddy e Walter seja bem sucedida. O filme não poupa o espectador do drama e do horror do campo de concentração, contudo o diretor Peter Bebjak não exagera no tom para não cair no melodrama. Os atores estão muito bem e passam de maneira acertada a emoção da situação terrível que estão vivenciando.
“O Protocolo de Auschwitz” acerta bastante em sua parte técnica ao captar de maneira impressionante os tons de cinza dos campos de concentração, quase parecendo ser um filme em preto e branco. A fotografia usa muito a câmera na mão, dando à narrativa um tom quase documental. As cenas que se passam a noite são as mais interessantes, onde o uso da luz é fundamental para o tom da trama. Por exemplo, quando vemos vermelho no fundo dos prisioneiros enxergamos ainda mais o perigo e urgência da situação que eles estão passando.
No entanto, o que mais impressiona no filme não são as torturas, mas sim a conclusão da jornada de Freddy e Walter. Aqui é necessário dar um pouco de SPOILER, apesar da história ser inspirada em eventos reais.

No arco final de “O Protocolo de Auschwitz” os jovens conseguem ajuda de estranhos para fugir e encontram com a resistência e a Cruz Vermelha. Em seguida eles realizam um relatório completo sobre o genocídio e a situação no campo de concentração, só que graças a propaganda nazista e ao teor angustiante e assustador do documento, as pessoas ficam em dúvida se acreditam no relato. Dessa forma, também não tomam nenhuma providência imediata, então imaginamos quantas vidas poderiam ter sido salvas. Ainda assim, o manuscrito foi fundamental para o resgate de pessoas e para que o mundo ficasse sabendo dos horrores que aconteciam nesses campos de concentração.
Sendo assim, fica difícil assistir “O Protocolo de Auschwitz” e não pensar no negacionismo histórico que ocorre com a divulgação de fake news. Podemos pensar na situação do Brasil, por exemplo, em que ainda hoje acreditam que a Ditadura Militar foi boa para o país e não houve tortura e coisas do tipo. Como citado no início do texto, e também do filme, se não lembrarmos do passado vamos cometer os mesmos erros, e é isso que vem ocorrendo ao redor do mundo. Pensando nisso, o diretor Peter Bebjak incluiu falas mentirosas de diversos líderes de extrema direita espalhados pelo planeta, inclusive do nosso presidente Jair Bolsonaro. Ou seja, a obra cinematográfica de Bebjak ainda é atual e a trama ganha mais força pela sua importância histórica, mais do que do próprio filme em si.

Uma frase: – “Vocês estão dispostos a passar por tudo isso, por dois judeus eslovacos?”
Uma cena: Um nazista batendo com um bastão em alguma coisa, então a câmera movimenta e vemos um homem enterrado no chão apenas com a cabeça do lado de fora.
Uma curiosidade: O filme é baseado na obra de Alfred Wetzler chamada “What Dante Did Not See” e foi o representante da Eslováquia para concorrer ao Oscar 2021 de melhor filme estrangeiro, mas não conseguiu a indicação.

O Protocolo de Auschwitz (The Auschwitz Report)
Direção: Peter Bebjak
Roteiro: Peter Bebjak, Tomás Bombík e Jozef Pastéka
Elenco: Noel Czuczor, Peter Ondrejicka, John Hannah, Wojciech Mecwaldowski, Jacek Beler, Michal Rezný, Kamil Nozynski e Christoph Bach
Gênero: Drama, História
Ano: 2021
Duração: 94 minutos