Crítica | Game of Thrones – 7×03: The Queen’s Justice

Crítica | Game of Thrones – 7×03: The Queen’s Justice

No qual a justiça dos Lannister se mostra amargamente poética, planos se mostram inúteis e vantagens estratégicas são perdidas.

O terceiro episódio da sétima temporada fará com que aqueles que apostaram contra Cersei lembrar que um Lannister, de fato, sempre paga seus débitos; e é justamente por isso que o Banco de Ferro de Bravos se entende tão bem com eles.

[button-red url=”#” target=”_self” position=””]Aviso de SPOILERS[/button-red]

Os comentários a seguir falam sobre acontecimentos narrados em The Queen’s Justice, o terceiro episódio da sétima temporada de Game of Thrones.

#GoT (S07E03) – The Queen’s Justice

É bom ver que nem tudo são contos de fada em uma novela de fantasia medieval.

Na verdade as coisas estão, como costumam ser nessas histórias – não creia em tudo que se lê por aí sobre fantasias, elas tendem a ser bastante soturnas e sangrentas -, e tudo isso parece convergir para um sentido maior: colocar os últimos Targaryen no mesmo caminho contra o único inimigo que realmente importa.

Afinal, o tão esperado encontro entre Jon Snow e Daenerys Targaryen não se deu da maneira esperada nas fanfics. Ainda assim, fez todo o sentido. O ponto foi bem colocado por ambos seus conselheiros, com especial destaque para Sor Davos (Liam Cunningham). Estamos falando, afinal, de duas pessoas que sacrificaram muito para chegar onde chegaram. A principal diferença entre um e outro, porém, estando aparentemente na discrição.

Ainda assim algo mais importante parece ter saído de tal encontro. Um certo tipo de respeito mútuo. Ainda tímido e incipiente, porém, frutífero. Porém o episódio dessa noite, mais do que sobre o tão esperado encontro, foi sobre Justiça. A justiça de Cersei.

Venenos e verdades amargas

O episódio dessa noite provou como não se deve subestimar uma leoa. Ela irá caçar e punir aqueles que mataram seus filhotes, ainda que inadvertidamente. Sim, pois além de fazer as Sand – literalmente – provarem de seu próprio veneno, ela também conseguiu justiça pela morte de seu cruel primogênito.

Curioso notar como sendo veneno, historicamente, a arma característica das mulheres, tenha sido esta arma escolhida para dar fim à casa Tyrrel. Por mais que fosse a mão de Jaimie a entregar o veneno sem dúvida é um ato de Cersei. A velha e maquiavélica Olenna (Diana Rigg), não cairia sem deixar marcas. E assim ela revela a Jaimie que Tyrion nunca foi o responsável pela morte de seu filho. Uma amarga e dolorosa revelação, e particularmente cruelmente feita logo após Jaimie mostrar clemência, mas que pode ser muito significativo para o futuro dos irmãos.

Virando a mesa

Mas retornemos por um momento e nos atentemos em como a política e os movimentos militares foram decisivos nessa noite.

O Banco de Bravos, há algum tempo negligenciado, volta a dar as caras – palmas para o sempre excelente Mark Gatiss mais um vez interpretando Tycho Nestoris, o representante do dinheiro bravosi – pois, afinal, como se sabe, mais do que armas são recursos que vencem guerras. Recursos como dinheiro e mantimentos.

É curioso notar como, de um lado, enquanto o Norte batalha para reunir comida para o longo inverno, Cersei e Jaimie, em uma jogada de mestre, sacrificam sua torre – Casterly Rock – para assegurar o controle sobre High Garden, a principal fonte de ouro e grãos dos sete reinos. E assim, manter o Banco de Ferro de Bravos, um importante aliado, com sua sede aplacada e confiante que estão apostando no cavalo certo.

Dessa forma, em menos de dois episódios, Cersei virou o jogo a seu favor e acabou com praticamente todas as vantagens de Daenerys. E por que isso é importante? Porque, embora tenha amadurecido muito, Daenerys ainda é em essência uma Targaryen. Sua sede de poder parece, ainda que silenciosamente, suplantar tudo o mais. Ainda que se possa colocar seus atos no encontro com Jon Snow na conta de uma justificada falta de familiaridade, não há dúvidas que um amargo sabor de arrogância estava ali presente de fundo.

Daenerys tem um único objetivo e quase uma obsessão desde o princípio que é o Trono de Ferro. Para conseguir isso ela estaria disposta a quase tudo, inclusive ignorar os avisos de Jon Snow sobre reinar em um cemitério. Agora, porém, ela parece não ter alternativa a não ser recorrer a um dos poucos que não se impressionou com sua majestade. Sua derrota contra Euron com os Greyjoy e em Casterly Rock, e a perda de duas importantes aliadas exigirá que ela forje uma aliança com os Stark. Como bem disse Melisandre (Carice van Houten) unindo, finalmente, Fogo e Gelo, como o título original da obra sempre sugeriu.

O corvo, o jovem sábio e um vilão caricato

Algumas ponderações finais. São bastante pertinentes as críticas em torno do personagem Euron Greyjoy. De fato – talvez por conta do ator ou dos roteiristas, ou ambos – ele tem sido excessivamente caricato. A trama, é sabido, necessita de vilões que a movam e possam ser detestados, como antes se deu com Joffrey e Ramsay. Euron, porém, não acerta no tom. Melhor seria, talvez, apostar não na vilania, mas no antagonismo de Jaimie Lannister, um personagem muito mais bem construído e que pode dar uma recompensa bem mais satisfatória à audiência.

Em Oldtown Sor Jorah (Iain Glen) está curado. Não era algo que eu esperava, confesso. Jorah irá se reunir a Daenerys, sem dúvida, e deve cumprir um importante papel na história da personagem. Em paralelo, graças à cura de Jorah, Sam Tarly (John Bradley) segue conquistando a admiração do Arquimeister. E com isso ele se torna um personagem com cada vez mais peso – pun intended – no grande jogo.

Por fim, mas não menos importante, falemos de Bran Stark (Isaac Hempstead Wright). Seu olhar distante ao reencontrar sua irmã pode significar duas coisas. Se tornar o Corvo de Três Olhos parece afastá-lo progressivamente de sua humanidade. Sua visão é, como se sabe, a um só tempo uma dádiva e uma maldição. Quão dolorido não deve ter sido, por exemplo, ver sua irmã ser violentada e torturada por Ramsay Bolton sem nada poder fazer a respeito disso.

Porém, seu olhar ao ver Sansa pode também significar que ele viu algo no futuro de sua irmã que o deixou um tanto quanto desconfiado. Seria a traição de Sansa a Jon Snow, devido a influência de Lorde Baelish (Aidan Gillen)? Mindinho sem dúvida vem tendo um comportamento bastante atípico, e o fato de não estarmos vendo suas maquinações não as impede de estarem acontecendo, nas sombras, no lugar que lhes é mais adequado. As respostas para isso teremos apenas mais adiante.

O próximo episódio marca o ponto de virada entre a primeira e a segunda metade da temporada. Como tudo, felizmente, tem se movido de forma muito rápida e dinâmica, é difícil dizer o que virá a seguir. E isso é definitivamente instigante. Na próxima semana saberemos quem colherá os espólios de guerra. Só nos resta, ansiosamente, esperar.


Série: Game of Thrones
Temporada: 7ª
Episódio: 03
Título: The Queen’s Justice
Roteiro: David Benioff  e D.B. Weiss
Direção: Mark Mylod
Elenco: Kit Harington, Peter Dinklage, Emilia ClarkeLiam CunninghamSophie TurnerAidan GillenNikolaj Coster-Waldau, Carice van HoutenConleth Hill, Nathalie EmmanuelIsaac Hempstead WrightLena Headey, John BradleyPilou AsbækIain Glen, Richard Dormer, Alfie Allen, Jim Broadbent, .Carice van Houten, Diana Rigg, Iain Glen, Indira Varma, Aidan GillenMark Gatiss.
Graus de KB: 2 – Mark Gatiss atuou em Exército do Pai (2016) ao lado de Toby Jones, que esteve em Frost/Nixon (2008) ao lado de Kevin Bacon.

 


 

Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

9 comentários sobre “Crítica | Game of Thrones – 7×03: The Queen’s Justice

  1. Mais um episódio sensacional, a jogada de Xadrez com o Castle Rock foi demais. É meio doido ver Cersei detonando todo mundo, vendo nossa heroína (pelo menos é minha!) tomando rasteira e, ainda assim, vibrar com tudo o que vem acontecendo.

    Será que essa temporada se encerrará com um gosto amargo?

  2. Legal que todo mundo nessa temporada tem superpoderes, e não estou falando de Arya-Mística nem Bran-Professor Xavier.
    Euron tem a capacidade de fazer uma frota gigantesca aparecer do nada e surpreender todo mundo. Duas vezes.
    Jon tem a capacidade de se teletransportar de um extremo a outro de Westeros quase instantaneamente.
    Mas a maior habilidade é a de Daenerys: ela tem o poder de ler o roteiro da série e assim saber que Jon perdeu apenas dois irmãos (Robb e Rickon). Nem Jon sabe que Bran está vivo, mas Dany deve ter HBO lá em Pedra do Dragão (na TV mesmo, não HBO GO).

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