Review | Doctor Who 9×02: The Witch’s Familiar

Review | Doctor Who 9×02: The Witch’s Familiar

Se o primeiro episódio da nona temporada de Dr. Who abriu prometendo muito, a sua contraparte não entrega o que prometeu.

O primeiro episódio (The Magician’s Apprentice) encerrou com um cliffhanger que prometia concluir a trama em grande estilo, colocando o Doutor diante de um imenso dilema – a propósito, dilema este que o primeiro episódio inteiro nos induz a comprar -, que poderia alterar profundamente o tempo, e o próprio personagem… mas não foi isso que aconteceu. ao invés disso Steven Moffat preferiu uma solução menos arriscada, mas que faz o episódio duplo de estréia dessa temporada ter toda a cara de um daqueles velhos enlatados de TV.

Doctor-sentado-na-poltrona-de-DavrosPegando uma caroninha.

Em The Witch’s Familiar descobrimos o que aconteceu com Clara e Missy, e logo percebemos que haverá pouca, ou nenhuma relação, com o “dilema” do Doutro mostrado ao fim do primeiro episódio. Sim, mais uma vez, a audiência foi enganada. Nem tudo é desapontamento, porém. Mais uma vez Michelle Gomez rouba a cena, dessa vez em uma desempenho até melhor do que o de Capaldi. Claro que o episódio ainda conta com alguns momentos memoráveis de embate do Doutor com os Daleks, mais ainda assim não restam dúvidas que, comprado ao episódio anterior, o Doutor não está exatamente bem acomodado na situação.

Não há dúvida que as decisões do roteiro comprometem bastante o desenvolvimento do Doutor nesse episódio, ao ponto dele oscilar entre uma já costumeira genialidade, para uma aparente ignorância que de forma estranha esconde uma outra possível genialidade (que no final das contas não faz tanto sentido assim…). Afinal, eu consigo pensar[i] em uma série de outras formas mais criativas de se aproveitar o resultado da jogada entre Davros e o Doutor.

Doctor-DAvros“Eu sou apenas um velhinho moribundo e inofensivo.”

A propósito, Julian Bleach também brilha mais uma vez no papel de Davros. Sua interpretação consegue ficar ainda mais envolvente do primeiro para o segundo episódio, e a presença de Capaldi – ainda o melhor de todos os Doutores, na minha opinião – contracenando com ele ressalta o talento do ator: não é fácil interpretar um vilão tão estereotipado e ao mesmo tão maquiavélico e complexo com tanta credibilidade e dignidade. Enfim, são os vilões o grande destaque desse segundo episódio. Pois é vilões. É claro que Missy logo volta a aprontar das suas nos fazendo lembrar quem ela é de fato.

Pois se o Doutor é o Feiticeiro do primeiro episódio, é evidente que Missy é a Bruxa, e o seu familiar, seu bichinho de estimação, não é outro senão Clara Oswald. Ponto negativo para Jenna Coleman que não está em seu melhor momento. Havia sido anunciado que a temporada passada seria a última de Coleman seria a última dela, mas sua personagem retornou no especial de Natal e voltou para a nona temporada. Uma decisão errada de Moffat e da própria atriz. A história de Clara havia se concluído bem no final da temporada passada, e agora ela retorna totalmente perdida no contexto geral da série, servindo apenas como uma espécie de narradora da genialidade do Doutor para a audiência. Nunca um companheiro do Doutro foi tão insignificante[ii].

Missy-Familiar“Cante, meu pequeno canário. Cante.”

O que o episódio não responde, contudo, é o mistério acerca do testamento do Doutor. Era de se esperar. Seria muito difícil responder à enorme quantidade de perguntas levantadas no primeiro episódio de forma satisfatória apenas nessa segunda parte. Moffat gosta de prolongar certos mistérios e encerrá-los ao fim das temporadas. A história do testamento do Doutor deve dar o tom de toda a temporada, e vamos esperar que dessa forma os roteiristas da série tenham espaço para nos provar que não requentaram um recurso já usado recentemente – o da ameaça da morte do Doutor – apenas para fabricar uma tensão fajuta.

O que o episódio parece querer mostrar é que a compaixão é a maior arma do Doutor, e não sua fraqueza; e estabelecer melhor a nova personalidade do mais recente Doutor. Na última temporada a grande pergunta dele era se ele era bom ou mal. Davros responde a essa pergunta de uma forma bastante inspirada. E esse diálogo é sem dúvida o ponto alto do episódio. O Doutor, afinal, não é um bom Doutor. E essa é uma resposta extremamente irônica e satisfatória.

Doctor-Ray-banA melhor proteção contra radiação cósmica!

Outra coisa que o episódio duplo estabelece é que o novo Doutor abandonou a sua clássica chave de fenda sônica. (whoaa!! Como assim??). É… os fãs ficarão reticentes com isso. Afastar o Doutor de sua chave de fenda é como separar um Jedi de seu sabre de luz. Mas sempre vale dar crédito à Moffat. Apesar de erros ele tende a acertar como mais frequência. Abandonar a clássica chave de fenda parece ser um gesto que, apesar de arriscado, é também corajoso, e pode apontar que os produtores estão sempre dispostos a se renovar em Dr. Who e ir além do mais do mesmo. Um substituto para a chave de fenda sônica logo é apresentado. Evidenciado, na verdade, pois ele já havia sido introduzido na primeira parte, mas com tanta coisa acontecendo ficava difícil se dar conta dele. Vamos esperar para ver. Renovação, afinal, é a alma de Dr. Who.



Posters-TheMagicianApprenticeSérie: Dr. Who
Temporada:
Episódio: 02
Título: The Witch’s Familiar
Roteiro: Steven Moffat
Direção: Hettie MacDonald
Elenco: Peter Capaldi, Jenna Coleman, Michelle Gomez, Julian Bleach
Exibição original: 26 de Setembro de 2015 – BBC One

 

 


 

[i] Claro, essas ideias podem ser legais apenas em minha cabeça… e é sempre mais fácil falar do que fazer, mas… nahhh… you could do a lot better, Moffat!. Ah sim, os efeitos especiais também comprometem muito a solução final do episódio. A sensação que eu tinha era de ver uma privada transbordando… not cool… not cool, at alll….

[ii] Colocando os pingos nos “i”s aqui na nota de fim, que é mais conspícuo, e tende a ser menos polêmico: a verdade é que Clara Oswald é reduzida a um mero animalzinho de estimação, amado pelo Doutor como um dono ama seu Yorkshire, e usado pelo seu amigo diabólico, psicótico e sem escrúpulos – que não gosta muito animais – para dar uma lição a se amigo que insiste em preferir seres inferiores aos de sua espécie. A evidente preguiça de Coleman em atuar compromete mais ainda as suas cenas que contam com falas – como é típico em Dr. Who – que se não bem interpretadas fatalmente descambam para o piegas.

Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

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