Crítica | A Última Noite (2021)

Crítica | A Última Noite (2021)

O que você faria se a noite de Natal fosse o seu último dia de vida? É mais ou menos com essa premissa que “A Última Noite”, de Camille Griffin, se desenvolve. Inicialmente temos uma comédia natalina onde vemos um grupo de amigos se reunindo na casa de um deles para celebrar o feriado, mas aos poucos descobrimos mais sobre o que realmente está acontecendo.

Os anfitriões são Nell (Keira Knightley) e Simon (Matthew Goode), pais de 3 filhos, que reúnem os amigos na residência da família no interior da Inglaterra. No início do filme vemos os amigos indo de carro para o local enquanto o casal termina de fazer os últimos ajustes para o evento. O clima em cada veículo é diferente, mas todos parecem apreensivos de alguma forma em relação ao Natal e se realmente deveriam ir.

A Última Noite” usa temas natalinos na trilha sonora, tanto na original composta por Lorne Balfe quanto no uso de canções já existentes. Esse recurso ajuda a criar a atmosfera da data e também coloca o espectador no clima de Natal proposto pelo filme. Em alguns momentos a trilha de Balfe assume um tom mais melancólico e dramático, que funciona na maior parte do tempo, mas em outros exagera no drama e influencia negativamente na cena.

Na maior parte do tempo, o filme de Camille Griffin assume um tom de comédia ácida onde explora o drama dos personagens em torno de uma ceia de Natal que descobrimos ser o último dia de vida deles. Existe um veneno circulando pelo ar que mata as pessoas, então o governo distribui pílulas para que as pessoas possam morrer de maneira indolor. 

Se normalmente esse tipo de evento sempre cria sentimentos emocionais das pessoas, como imaginar essa situação onde essa será literalmente a última ceia que o grupo de amigos vai passar juntos? E o que eles dirão para os filhos? E como lidar um com os outros, simplesmente curtir o dia ou aproveitar para dizer coisas que nunca tinham dito antes? Através dessas questões o roteiro, também escrito por Camille Griffin, explora bem os dramas e conflitos dos personagens, criando momentos constrangedores, cômicos e dramáticos, transitando de maneira satisfatória entre eles.

O elenco está muito bem e cada um dos personagens tem o seu momento de destaque, mas sem dúvidas quem surpreende é o jovem Roman Griffin Davis (de Jojo Rabbit), que interpreta Art, filho de Nel e Simon. Apesar de ser apenas um pré-adolescente, Art é um dos poucos que questiona o comportamento das pessoas em relação a como lidam com a situação. Ele está inconformado e não quer tomar a pílula distribuída pelo governo. 

Seria a obra de Camille Griffin uma metáfora sobre a covid-19? Bom, não são situações tão similares, mas no início da pandemia e com o alto número de mortes antes da criação da vacina, o clima era de tensão e de “fim do mundo”, talvez pode ter sido uma influência. 

Em alguns momentos vemos personagens afirmando que deveriam ter votado no Partido Verde e reclamando dos conservadores. O fim do mundo de “A Última Noite” foi gerado por um veneno espalhado no ar, então provavelmente alguma grande empresa não tomou os cuidados com o meio ambiente que há anos ouvimos falar das consequências, praticamente não tomando nenhuma atitude para solucionar a questão. Fica clara a crítica de Camille em relação ao tema, mas por outro lado o final de seu filme deixa em aberto uma interpretação totalmente problemática.

[button-red url=”#” target=”_self” position=””]Aviso de SPOILERS[/button-red]

Art é um dos personagens que mais questiona em relação à atitude dos pais de tomar a pílula. Eles falam que o governo ouviu a ciência, então podem confiar, mas o jovem fala que os cientistas podem ter errado ou algo do tipo. No final do filme, todos os personagens morrem tomando a pílula, menos Art, que teoricamente morreu infectado pelo veneno. Mas na última cena ele acorda. Em tempos de negacionismo da ciência (terra plana, anti-vacina), o que Camille quis dizer com esse final? É interessante mostrar que o jovem é questionador, como se fosse um “rebelde”, especialmente pela pouca idade e experiência de vida. Por outro lado, pode dar margem à validação daqueles que questionam a ciência, e isso é extremamente ruim.

[button-red url=”#” target=”_self” position=””]Fim do SPOILER[/button-red]

Em síntese, “A Última Noite” é um longa-metragem interessante que subverte a “fórmula” das comédias natalinas, incluindo drama e humor ácido ao mostrar um grupo de amigos lidando com o fim do mundo na última ceia natalina. Mesmo com pouca duração, a diretora apresenta os personagens de maneira satisfatória e o elenco dá conta do recado. A obra de Camille Griffin peca pelo final problemático e por não desenvolver algumas questões de maneira mais aprofundada, mas ainda assim o saldo final é positivo.


Uma frase: – Bella: “Devíamos ter votado no Partido Verde.”

Uma cena: As conversas durante a ceia de Natal. 

Uma curiosidade: Os três filhos da diretora Camille Griffin: Roman Griffin Davis, Gilby Griffin Davis e Hardy Griffin Davis, interpretam os filhos de Nell (Keira Knightley) e Simon (Matthew Goode). 


A Última Noite (Silent Night) 

Direção: Camille Griffin
Roteiro: Camille Griffin
Elenco: Keira Knightley, Matthew Goode, Roman Griffin Davis, Annabelle Wallis, Lily-Rose Depp, Sope Dirisu, Kirby Howell-Baptiste, Lucy Punch e Rufus Jones
Gênero: Comédia, Terror, Drama
Ano: 2021
Duração: 92 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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