Crítica | Guerra Civil

Crítica | Guerra Civil

Em um futuro não tão distópico, um grupo de repórteres corre contra o tempo para cobrir ações cruciais de uma guerra. Contrariando o bom senso, os jornalistas rumam diretamente para a zona de conflito e arriscam a própria vida para contar as histórias de um país devastado pelos combates. Em Guerra Civil, o diretor e roteirista Alex Garland une ficção com pitadas assustadoras de realidade, ao mesmo tempo em que mostra o lado solitário dos profissionais de imprensa que cobrem conflitos armados.

Estrelado por Kirsten DunstWagner Moura e Cailee Spaeny, o longa retrata uma guerra civil deflagrada nos Estados Unidos, após 19 dos 50 estados americanos se separarem do governo federal. Bebendo na fonte alucinante de The Bang Bang Club (Repórteres de Guerra – 2010), Guerra Civil consegue gerar no espectador a empatia necessária para se compreender o trabalho jornalístico em tempos de guerra e, ao mesmo tempo, sentir a adrenalina que esses profissionais experimentam durante a ação.

Sem narrar diretamente o que houve no país, o espectador interpreta os acontecimentos apenas com frações de diálogos e, como em um quebra-cabeças entre a ficção e o real, subentende o contexto polarizado ao extremo a ponto de culminar em uma guerra civil.

Dunst,  uma jornalista fotográfica, lidera o grupo de repórteres que tem a missão de chegar até a capital americana, Washington, o centro político do conflito. Destaque para sua atuação coesa e preciosista como uma experiente repórter de guerra. Interpretando Lee, Dunst traz à tela todo o peso das coberturas jornalísticas em áreas de combate, e o custo emocional que esse trabalho tem para aqueles que se propõem a serem observadores de fatos brutais.

Impossível falar de Guerra Civil e não jogar confetes em nosso conterrâneo, Wagner Moura. Assistir Moura atuar é sempre um prazer, especialmente em um filme com tanta visibilidade. No longa, Moura interpreta Joel, um repórter louco o suficiente para ser fissurado na adrenalina que as coberturas de guerra proporcionam. Joel faz um contraponto com Lee na medida em que ele, para o bem ou para o mal, sublima as terríveis experiências e Lee as acumula com um pesar inexorável.

Destaque para a atuação de Jesse Plemons (Assassinos da Lua das Flores e Ataque dos Cães) que, mesmo com pouquíssimo tempo de tela, produz uma das melhores e mais tensas cenas do longa. Também vale realçar as impressionantes cenas de combate, nas quais o espectador se sente como parte da equipe de repórteres, compartilhando da tensão, do medo e da necessidade de registrar os acontecimentos.

Guerra Civil é um alerta sobre a crescente polarização política e ideológica no mundo e a ascendência da extrema-direita como alternativa irreal para os problemas governamentais, no capitalismo tardio. A atuação séria e comprometida dos jornalistas do longa é um excelente contraponto à fragilização intencional da imprensa como forma de tornar a verdade dos fatos algo maleável. Quando não se sabe mais o que é verdadeiro e o que é falso, o resultado é a manipulação de massas com uma escalada para a desumanização e a barbárie.


Uma frase: – Joel: “Nós somos americanos, ok?”

– Soldado: “ Ok. Que tipo de americanos são vocês?”

Uma cena: Joel surtando enquanto militares passam atrás.

Uma curiosidade: Os sons de tiros são reais, tendo sido usadas balas de festim em vez de introduzir os sons na pós-produção.


Guerra Civil (Civil War)

Direção: Alex Garland
Roteiro: Alex Garland
Elenco: Kirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny, Stephen McKinley Henderson, Sonoya Mizuno e Nick Offerman
Gênero: Ação, Suspense
Ano: 2024
Duração: 109 minutos

Elaine Fonseca

Jornalista, servidora pública e nerd.

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