Crítica | A Qualquer Custo (Hell or High Water)

Crítica | A Qualquer Custo (Hell or High Water)

O filme A Qualquer Custo tinha tudo pra ser mais uma fórmula batida de polícia e ladrão, mas o diretor, David Mackenzie, explora muito bem as várias camadas da história e faz o espectador perguntar-se: o que estamos dispostos a fazer pela família?

Dois irmãos decidem assaltar um banco para pagar uma dívida que têm com a própria instituição. A mesma que retirará deles a propriedade em que vivem caso eles não paguem o compromisso bancário. O filme retrata a situação dos americanos pobres que serão sempre pobres, pagando um alto preço para sobreviver, enquanto o Governo financia apenas bancos.

Do outro lado há dois policiais: o primeiro, um homem branco, próximo da aposentadoria. O segundo, descendente de índios. As etnias combinadas geram, por si só, um simbolismo dramático. E não é sem ironia que o segundo policial comenta o fato de os bancos americanos roubarem propriedades de “homens brancos” tal qual aconteceu com os índios, no passado.

Grande atuações, com destaque para Jeff Bridges, como o xerife Marcus Hamilton. Com uma interpretação incrível ele mostra detalhes do personagem, como o cansaço do policial, advindo muito mais da experiência do que pela idade. Além disso, Marcus faz piadas com o parceiro pela descendência indígena do colega, ótima representação do preconceito americano.

Chris Pine e Ben Foster fogem do desgastado papel de cowboy e dão mais camadas a seus personagens, principalmente na relação de irmãos. Toby Howard (Pine) é o mais velho e com uma causa nobre: deixar a propriedade para os filhos. Já o irmão mais novo, Tanner (Foster), já cumpriu pena na prisão e sempre esteve envolvido com o crime. Dois perfis opostos: o primeiro é mais calmo e planejado, enquanto que o segundo é agressivo e apressado. Mesmo com uma dificuldade natural em demonstrar sentimentos afetuosos, ainda assim o telespectador consegue enxergar o amor fraterno entre ambos.

A beleza da relação familiar é retratada também pela trilha sonora, de Nick Cave e Warren Ellis, comovente e melancólica. A mesma beleza contrasta com o clima decadente do interior dos Estados Unidos que junta-se com a história de dois irmãos que lutam, ainda que de maneira criminosa, para manter a propriedade em que vivem. Não passam despercebidas as propagandas, em outdoors, que oferecem crédito fácil para quitar dívidas, uma grande ironia, afinal. Na fotografia, a beleza natural do lugar é muito bem capturada.

O filme é sobre sentimentos, sejam sobre família ou sobre a luta contra o Sistema. Ou, ainda, sobre trabalhar da melhor maneira possível. O roteiro de Taylor Sheridan (Sicário: Terra de Ninguém) é envolvente e cria personagens carismáticos em um universo que mistura chapéus de cowboys e sotaques para mostrar um pouco da natureza humana.

Lutar para garantir um futuro melhor, com oportunidades justas, vencer a pobreza e a escassez. Essa é a resposta para a pergunta formulada no primeiro parágrafo deste texto. O filme trata do dilema entre cuidar da família ou sucumbir à violência e ganância do Sistema. O que é certo ou errado na luta pela sobrevivência? Será que eles conseguirão conviver com as consequências de suas ações?

* Texto revisado por Elaine Andrade


Uma frase: – Elsie: “Até agora, vocês são culpados apenas de estupidez”

Uma cena: O último assalto a banco dos irmãos Howard.

Uma curiosidade: Apesar de o filme se passar no Texas, nenhuma cena foi filmada no estado. Partes dele foram feitas no Casino Route 66, com a participação de patrões e funcionários do local.

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A Qualquer Custo (Hell or High Water)

Direção: David Mackenzie
Roteiro: Taylor Sheridan
Elenco: Chris Pine, Ben Foster, Gil Birmingham, Dale Dickey, Katy Mixon, Kevin Rankin, Taylor Sheridan, Margaret Bowman, Marin Ireland, John-Paul Howard e Jeff Bridges
Gênero: Ação, Crime, Drama
Ano: 2016
Duração: 102 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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