Crítica | Back to black

Crítica | Back to black

Amy Winehouse. Voz. Talento. Alcoolismo. Drogas. Prêmios. Paparazzis. Parece estranho começar um texto assim, apenas com essas palavras jogadas. Não só parece, como é. Alguém que conheceu um pouco sobre a marcante cantora britânica que nos deixou em 2011, aos 27 anos, é capaz de associar esses termos à vida da artista. No entanto, é bastante problemático que um filme considere suficiente montar uma cinebiografia apenas jogando essas informações sem, de fato, conseguir mostrar em tela como essas questões impactaram a sua história.

Em Back to Black, assistimos o período da vida de Amy Winehouse (Marisa Abela)  no início da sua carreira até a consagração do álbum que dá nome ao filme, passando nesse caminho por sua tumultuada vida de bebidas, drogas e relacionamento tóxico com o marido Blake (Jack O’Connell). Mas este é um longa que fracassa por não conseguir acrescentar qualquer novidade sobre a vida da artista, não ser capaz de mergulhar no seu complexo universo particular e muito menos abordar a força do talento deste fenômeno pop dos anos 2000.

O roteiro de Matt Greenhalgh, que também escreveu o interessante “O Garoto de Liverpool”, revela fragilidade ao depender que personagens nos informem, por exemplo, que Amy já começou a se tornar uma cantora famosa, ao citar premiações recebidas por ela numa conversa aleatória. A montagem também prejudica a história ao deixar o espectador quase sem noção de passagem de tempo, o que com certeza não é um recurso planejado. 

Há uma certa covardia na abordagem de temas polêmicos. A bulimia da artista, a relação com o pai e alguns outros temas que mereciam ser tratados com maior aprofundamento são apenas palavras soltas e diálogos dispersos durante a história. Não é que o filme esconda que Amy tenha problemas graves, especialmente com bebidas, mas porque trata de forma superficial.

A direção de Sam Taylor-Johnson (O Garoto de Liverpool, 2009) salva-se quando decide mostrar Amy em ação nos palco, mas tropeça ao incluir cenas que não fazem diferença na história. Num certo momento, a diretora insere uma sequência na piscina que deveria fortalecer o relacionamento entre dois personagens, mas que se mostra descartável. E só a completa falta de inspiração explica as imagens escolhidas por Sam Taylor-Johnson para acompanhar a apresentação da música Back to Black.

Marisa Abela e Jack O’Connell são os únicos que têm tempo suficiente para construir camadas aos seus personagens. Abela começa com uma atuação inconsistente, mas que cresce durante o segundo ato e se destaca no terceiro, notadamente quando Amy se apresenta nos palcos. O’Connell é competente na construção de Blake, apresentando bem a sua personalidade divertida e também egoísta. Lesley Manville e Eddie Marsan, como a avó Cynthia e pai Mitch, fazem o que podem com seus personagens no pouco espaço de tela.

Back to Black parece um filme escrito e concebido a partir de uma biografia do Wikipedia e da interpretação das letras das músicas de Amy. Além de não nos dizer nada de notadamente novo sobre a artista, o longa ainda tem a proeza de empalidecer o grande fenômeno que foi a cantora britânica.

O filme perde também a oportunidade de contar uma história que fizesse jus não só a uma personalidade marcante, humana, trágica, e que atraiu a atenção de tantos olhares no mundo, mas também a uma artista de voz única e poderosa, sua mescla vibrante de jazz, ska, soul e outros ritmos, suas letras sinceras e cortantes e sua exuberante estética particular.


Uma frase: “Eu não sou Rock ‘n’ Roll, eu sou Jazz”

Uma cena: Amy canta “Me & Mr Jones” num show para grande público

Uma curiosidade:  O jornalista esportivo brasileiro João Castelo-Branco, correspondente da ESPN Brasil na Inglaterra, mora em Londres desde 1989 e é frequentador de pubs do bairro de Camden Town. Ele teve duas interações marcantes com Amy Winehouse. No primeiro, ainda não tão famosa, ela pediu para participar de uma partida de sinuca na qual ele estava e jogou no chão um copo com água oferecido por ele por não ser bebida alcoólica. No filme, Amy também pede para participar de uma partida de sinuca num pub do mesmo bairro. No segundo, já mais famosa, flertou com o João num restaurante brasileiro e pediu ao garçom para entregar a ele um guardanapo com nome e telefone. O jornalista era comprometido na época e não retornou contato com a cantora.

Fonte: https://uolesportevetv.blogosfera.uol.com.br/2018/08/10/telefone-em-papel-reporter-da-espn-relembra-xaveco-de-amy-winehouse/


Back to black

Direção: Sam Taylor-Johnson
Roteiro: Matt Greenhalgh
Elenco: Marisa Abela, Eddie Marsan, Jack O’Connell, Lesley Manville e Sam Buchanan
Gênero: Biografia, Drama
Ano: 2024
Duração: 122 minutos

Carlos Willow

Jornalista, publicitário, analista de comunicação no setor público e empresário. Nascido em Salvador (BA), criado no Imbuí, mas morando em Brasília (DF) desde 2009. Fã incondicional de cinema, viciado em séries e em TV desde menininho, assistindo aos filmes e “enlatados” da Sessão da Tarde até o Corujão.

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