Crítica | O Clube das Mulheres de Negócios

Crítica | O Clube das Mulheres de Negócios

O que aconteceria se o mundo fosse dominado pelas mulheres? É através dessa premissa que a diretora e roteirista Anna Muylaert desenvolve “O Clube das Mulheres de Negócios”, seu novo longa-metragem. A história se passa no clube do título, onde poderosas mulheres se reúnem para tratar de negócios. A trama começa quando o jornalista novato Candinho (Rafael Vitti) e o experiente fotógrafo Jongo (Luís Miranda) comparecem ao local para fazer uma reportagem sobre as mulheres.

É interessante prestar atenção nos detalhes para entender as nuances da narrativa. A primeira coisa que se destaca é o figurino, onde vemos as mulheres usando roupas sérias e “masculinizadas”, enquanto alguns homens usam trajes sexualizados, justos e curtos. É curioso ver Candinho com roupas coloridas e uma camisa curta, mostrando a barriga. Ou então os garçons do clube, usando shorts colados e blusas justas.

As intenções de Muylaert são claras: criticar e ironizar o machismo e o patriarcado existente na nossa sociedade. Ao ver essa troca de valores existe uma mistura de choque e estranheza, assim a diretora faz uma ótima mescla entre drama e comédia.

Para incluir um elemento dramático a mais, o roteiro de “O Clube das Mulheres de Negócios” inclui o detalhe que a proprietária do clube Cesárea (Cristina Pereira) coleciona tigres. Três deles fogem e assim aos poucos se inicia o caos dentro do local. É interessante notar a negação em torno do problema por parte dela, algo que pode fazer alusão ao comportamento masculino dos poderosos em negar as mudanças climáticas, por exemplo.

Outro elemento importante é o comportamento das mulheres em relação aos homens. Vemos mulheres mais velhas com homens mais novos, ou quando uma delas pede para que não se usem palavrões em respeito aos homens. A construção das cenas é tão interessante que em alguns momentos é até possível sentir um pouco de “pena” em relação aos personagens masculinos.

Através desses elementos, Muylaert faz uma sátira interessante, incluindo absurdos que nos fazem refletir sobre os problemas apresentados pela narrativa. A crítica social é ácida e extremamente atual. E ela funciona não só por conta do ótimo roteiro, mas principalmente pelas atuações.

O elenco é muito bom e conta com nomes importantes da comédia brasileira de várias gerações como Luis Miranda, Cristina Pereira, Katiuscia Canoro e Louise Cardoso, com veteranas do drama como Irene Ravache. Essa mistura é fundamental para o tom entre a comédia e o drama funcionar, mas é o absurdo das situações que domina a narrativa.

Talvez “O Clube das Mulheres de Negócios” não seja tão impactante quanto “Que Horas Ela Volta?”, mas mostra o quanto a filmografia de Anna Muylaert é consistente na temática de crítica social e principalmente na qualidade. A diretora apresenta um trabalho que infelizmente ainda é muito atual e que nos faz refletir sobre o papel da mulher dentro da sociedade.


Uma frase: – Jongo: “A gente foi educado pra não reagir, cara.”

Uma cena: Quando Candinho é assediado durante uma entrevista.

Uma curiosidade: Venceu o prêmio Júri da Crítica no 52º Festival de Cinema de Gramado em 2024.


O Clube das Mulheres de Negócios

Direção: Anna Muylaert
Roteiro: Anna Muylaert
Elenco: Rafael Vitti, Luis Miranda, Cristina Pereira, Irene Ravache, Louise Cardoso, Katiuscia Canoro,  Grace Gianoukas, Polly Marinho, Helena Albergaria, Shirley Cruz, Ítala Nandi, Maria Bopp, Verônica Debom, André Abujamra, Fernando Billi, Tales Ordakji e Nani de Oliveira Clodd Dias
Gênero: Comédia, Drama, Thriller
Ano: 2024
Duração: 95 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *