Crítica | Conclave (2024)

Crítica | Conclave (2024)

A Igreja Católica é uma instituição religiosa que luta para se manter relevante e não se transformar em algo anacrônico com o passar dos anos. Uma de suas principais tradições é o “Conclave”, eleição feita para a escolha de um novo Papa quando o atual morre ou se aposenta. O grupo de cardeais de todo o mundo se reúne em Roma em total isolamento, até que a escolha seja finalizada. O que ocorre durante esse processo totalmente sigiloso atiça a curiosidade de muita gente e é um tema abordado pelo livro de 2016 do autor Robert Harris, que foi adaptado para o cinema pelo diretor Edward Berger.

A história gira em torno do “Conclave” do título, através do ponto de vista do Cardeal Thomas Lawrence (Ralph Fiennes), que por ser o sacerdote Decano (o mais antigo do grupo) fica responsável por conduzir as eleições. Assim ele tem que cuidar para que todos sejam bem recebidos e que o ritual seja seguido à risca, principalmente em relação ao isolamento, além de cuidar dos eventuais conflitos que surgem durante o processo.

O roteiro de Peter Straughan respeita os rituais e a parte técnica ajuda o espectador a imergir dentro do processo. Os figurinos são muito bons e mostram a função de cada grupo de personagens, onde os cardeais usam vermelho e as freiras usam azul. A cenografia retrata o isolamento que a solidão dentro dos quartos causa especialmente no protagonista, onde vemos novamente o vermelho simbolizando a urgência dos eventos da narrativa. Além disso, nos cenários vemos os símbolos religiosos e obras de arte que remetem ao catolicismo. Esses elementos são muito bem explorados pela fotografia, que apresenta belos planos.

No entanto, o que mais chama a atenção no roteiro são as reviravoltas. A narrativa é muito bem construída para deixar o espectador ansioso. O clima de tensão é constante e através do ponto de vista do Cardeal Lawrence sentimos as complicações do processo da escolha do novo Papa. Surgem os conflitos de egos, mas o destaque é a questão do conservadorismo, pois é algo que não é unanimidade dentro da instituição a forma como lidar em temas como aceitação dos gays e de outras religiões.

Outros pontos importantes são o machismo e o patriarcado, pois até hoje a Igreja Católica aceita apenas homens como Papa e os cardeais também são apenas do sexo masculino. Daí o destaque para a Irmã Agnes, interpretada por Isabella Rossellini, que mesmo com pouco tempo em tela deixa a sua marca e importância dentro da narrativa.

O elenco é sem dúvidas o principal destaque de “Conclave” e com certeza Ralph Fiennes é o melhor em cena. Obviamente que ele tem mais tempo em tela, mas sua atuação é muito interessante ao mostrar todas as nuances do Cardeal Lawrence. O protagonista lida com sua própria dúvida em relação à fé e de como fatores externos podem interferir na escolha do próximo Papo. Sua função é definir o quanto eles devem ou não afetar o isolamento do grupo de cardeais.

Por último é importante ressaltar a trilha sonora de Volker Bertelmann, vencedor do Oscar pela trilha de “Nada de Novo no Front”, que explora os sons graves dos violoncelos para destacar a urgência da narrativa. Em alguns momentos isso se transforma em uma “muleta musical” da narrativa, indicando algo na tela que é importante o espectador prestar a atenção. Felizmente durante o desenrolar de “Conclave” o compositor apresenta temas mais melódicos e que remetem de alguma forma à Igreja Católica.

Dessa forma, o diretor Edward Berger apresenta um excelente longa-metragem em “Conclave”, onde além de analisar as nuances do protagonista, explora as reviravoltas da narrativa sem ficar preso a elas. É um filme que surpreende e ao mesmo tempo apresenta reflexões muito relevantes sobre a fé e o mundo atual, e como isso é colocado à prova a todo momento não só as pessoas, mas a própria instituição. Além é claro de nos lembrar que apesar da religião, a Igreja Católica é formada por homens, e esses são humanos e mortais como qualquer um.


Uma frase: – Cardeal Lawrence: “A supervisão desta eleição é um dever que eu nunca esperei ter de cumprir.”

Uma cena: Quando a Irmã Agnes se manifesta no refeitório durante uma discussão entre os cardeais.

Uma curiosidade: A palavra conclave é derivada do significado latino de “um lugar que pode ser trancado”, ou vir (juntos) e clavis (chave).


Conclave

Direção: Edward Berger
Roteiro: Peter Straughan
Elenco: Ralph Fiennes, Stanley Tucci, John Lithgow, Sergio Castellitto e Isabella Rossellini
Gênero: Thriller conspiratório, Drama, Mistério, Thriller
Ano: 2024
Duração: 120 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *