Crítica | Tia Virgínia

Crítica | Tia Virgínia

É impossível assistir “Tia Virgínia”, novo filme do diretor Fabio Meira, e não se identificar com algum dos temas retratados na história. A protagonista interpretada por Vera Holtz é aquela mulher que não se casou e por causa disso ficou responsável por cuidar da mãe idosa e tomar conta da casa dos pais. No dia do Natal a família se reúne na residência, assim as irmãs Vanda (Arlete Salles) e Valquíria (Louise Cardoso) chegam ao local, cada uma com sua própria família, e não demora para que surja um clima de animosidade.

O roteiro escrito pelo próprio Fabio Meira explora bem as nuances dessa família equilibrando bem drama e comédia de forma coesa. Os comentários irônicos, críticas e micro agressões não demoram para criar um conflito dramático comum em quase qualquer núcleo familiar. E obviamente quem mais sofre com isso é a protagonista Tia Virgínia.

Aos poucos descobrimos mais sobre a dinâmica familiar e como Virgínia guarda ressentimento das irmãs por ter que cuidar sozinha da mãe e da casa. Só que ela não gosta quando elas fazem críticas a sua forma de lidar com a situação, querendo alterar no dia a dia da residência, sendo que em breve irão embora, deixando tudo novamente nas mãos solitárias de Virgínia. É claro que existe um sentimento de amor entre a protagonista e o restante da família, talvez justamente por isso seu sofrimento seja ainda maior.

O diretor Fabio Meira faz um ótimo estudo de personagens onde a direção do elenco é fundamental para que a história funcione. E as atrizes fazem um trabalho magnífico, especialmente Vera Holtz. Ela apresenta a Tia Virgínia de forma humana e multidimensional, uma mulher que está no limite graças às responsabilidades impostas pelas irmãs de forma indireta e que aos poucos se dá conta do quanto desperdiçou sua própria vida por causa disso. É curioso observar a lenta mudança no comportamento da protagonista, apresentando sinais de um surto psicológico e delírios em relação à realidade.

É interessante também acompanhar os movimentos sutis de câmera da fotografia de Leonardo Feliciano que exploram bem o cenário da residência da Tia Virgínia. Apesar da limitação física da casa, a movimentação é eficaz em captar os detalhes da movimentação dos atores ou alternar o ponto de vista de cada um deles enquanto observa o que o outro está fazendo. Isso é importante para ajudar a captar como os personagens observam a protagonista e aos poucos notam as mudanças de atitude dela.

Em síntese, “Tia Virgínia” entrega uma experiência extremamente familiar, tanto no sentido de família quanto em reconhecer traços da trama em nossas próprias vidas. Através do estudo de personagens enxergamos muitos temas como solidão na terceira idade, responsabilidade no cuidado de idosos e principalmente sobre saúde mental. O grande trunfo do longa-metragem de Fabio Meira é sem dúvidas a atuação de Vera Holtz, que desenvolve a protagonista de forma brilhante.


Uma frase: – Vanda: “Então esquece o passado que você não gosta. Eu só lembro das coisas boas.”

Uma cena: Quando Virgínia tem uma crise de riso.

Uma curiosidade: O filme estreou no 51º Festival de Gramado, em 13 de agosto de 2023, recebendo 06 prêmios.


Tia Virgínia

Direção: Fabio Meira
Roteiro: Fabio Meira
Elenco: Vera Holtz, Arlete Salles, Cláudia Missura, Louise Cardoso, Vera Valdez, Antônio Pitanga, Daniela Fontan, Iuri Saraiva e Amanda Lyra
Gênero: Comédia, Drama
Ano: 2023
Duração: 98 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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