Crítica | Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes

Crítica | Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes

O universo de Panem e os jogos vorazes estão de volta às telas de cinema. A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, o novo filme da franquia, se passa 64 anos antes da narrativa de Katniss e Peeta. Podemos finalmente conhecer a história de Coriolanus Snow, o temido presidente que governa a nação com mãos de ferro. Com 2h45min, o longa (longa mesmo) entrega bons personagens, mas fica no limiar do fracasso.

Em um contexto pós-guerra, onde rebeldes foram vencidos e a Capital, ainda em reconstrução, realiza os Jogos Vorazes há 10 anos, encontramos o jovem Coriolanus Snow (Tom Blyth). Da linhagem nobre e política da família Snow, Cori herdou apenas a decadência e o sobrenome de peso. Em um esforço hercúleo para manter as aparências, o então estudante visa um prêmio anual que custeará sua faculdade. 

Em busca pelo destaque, Snow aproveita, desde o primeiro  momento, as circunstâncias impostas e, nessa jornada, se depara com Lucy Gray Baird (Rachel Zegler). A jovem é sorteada para ser um dos tributos do distrito 12 a participar dos temíveis e mortais jogos. Instantaneamente atraído por Lucy Gray, Snow quebra protocolos e regras em um esforço juvenil para manter a humanidade em um mundo que, há muito, desumanizou os perdedores da guerra, comparando-os a animais e dando vida, também na ficção, ao conceito de Hannah Arendt sobre a banalidade do mal. 

O mal rotineiro e que protege indivíduos, e não uma coletividade, impera na Capital. O mal, de tão banalizado, a esta altura tornou os Jogos Vorazes desinteressantes para o público, que não vê mais propósito em assistir jovens e crianças morrerem anualmente, por puro tédio. E é aí que o jovem Coriolanus percebe a oportunidade para retornar aos áureos tempos de abastança e poder.

Destaque para Hunter Schafer (Euphoria) e Peter Dinklage (Game of Thrones), que interpretam a prima de Coriolanus (Tigris Snow) e Casca Highbottom, respectivamente. Mesmo com pouco tempo de tela, conseguem trazer o peso de uma boa atuação. Viola Davis dá vida à cientista sociopata que está por trás de toda a crueldade executada nos jogos, dando ao filme o grau de insanidade que, nas produções anteriores, era do presidente Snow.

Muito mais do que um romance entre dois jovens, a franquia segue tratando de dilemas éticos e morais. Dilemas entre o individualismo e o coletivismo; ser empático ou egoísta; entre fascismo e democracia. Muito embora quem acompanha a franquia saiba a escolha final do jovem Snow, o filme consegue envolver o espectador a ponto de lamentar a escalada  do personagem até o abismo de ambição e poder no qual ele se joga.

O que torna o filme um quase fracasso – além das quase 3 horas de tela – é a cantoria de Lucy Gray. A personagem é vocalista de uma banda no Distrito 12 e, volta e meia, canta como um pássaro. Muito embora as canções sejam belas – com destaque para The Hanging Tree, música que retorna à franquia na voz de Rachel Zegler – algumas cenas musicais destoam e entediam o espectador. 

Mesmo assim, Jogos Vorazes: A Canção dos Pássaros e das Serpentes nos provoca reflexões extremamente atuais sobre o fascismo, coletividade, empatia e escalada de violência. Voltado para o público adolescente e jovem, o longa nos faz pensar sobre escolhas e como conviver com elas.


Uma frase: – Lucy Gray: “Podemos ultrapassar o limite da maldade ou não.”

Uma cena: Quando um dos tributos arranca uma bandeira da arena para cobrir os jovens mortos no jogo.

Uma curiosidade: De acordo com o diretor, Francis Lawrence, ele se convenceu em escalar Viola Davis para interpretar a vilã depois de ver um meme online. “Era uma obra de arte de fã, e alguém fez photoshop, eu acho, uma imagem dela parada perto de uma janela. Pode ser uma foto de The Help, mas ela tinha um sorrisinho sinistro e eles fizeram zombou de um pôster de terror falso como se ela fosse a vilã nisso.”


Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes (The Hunger Games: The Ballad of Songbirds & Snakes)

Direção: Francis Lawrence
Roteiro: Michael Lesslie e Michael Arndt
Elenco: Tom Blyth, Rachel Zegler, Peter Dinklage, Hunter Schafer, Josh Andrés Rivera, Jason Schwartzman e Viola Davis
Gênero: Ação, Aventura, Drama
Ano: 2023
Duração: 157 minutos

Elaine Fonseca

Jornalista, servidora pública e nerd.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *