Crítica | Estranha Forma de Vida

Crítica | Estranha Forma de Vida

É curioso ver um cineasta consagrado como Pedro Almodóvar investir em curtas-metragens, mas é interessante como o diretor usa o formato para experimentar, criando obras que fogem do seu lugar seguro, sem abandonar a sua essência. Se em “A Voz Humana” Almodóvar dirigiu pela primeira vez um filme em língua inglesa, em “Estranha Forma de Vida” ele explora um clássico gênero do cinema americano: o faroeste.

No curta-metragem o diretor mostra uma história de amor que é revivida pelo reencontro de dois homens. Jake (Ethan Hawke) é o xerife de uma pequena cidade no oeste americano que investiga a morte de uma mulher. Silva (Pedro Pascal) é um fazendeiro que aparece no município para visitar o antigo amante e agora xerife do local, mas com segundas intenções, pois seu filho é suspeito de estar envolvido no crime.

O encontro entre os ex-amantes reacende antigos sentimentos, mas também desconfiança de ambos os lados. O roteiro do próprio Almodóvar explora muito bem a natureza de cada um dos personagens. No entanto, o mais interessante de “Estranha Forma de Vida” é como o diretor respeita as convenções criadas pelo gênero faroeste. Assim, por mais que o cineasta utilize uma história de amor com protagonistas passionais, a trama utiliza o principal clichê do western no qual o conflito só pode ser resolvido através da bala.

O único elemento que se sobressai ao gênero é a inclusão de um fado, interpretado por Caetano Veloso, no início do filme que é dublado por um coadjuvante. Essa música serviu como inspiração para o título ”Estranha Forma de Vida” e a letra ajuda a definir o sentimento existente entre os protagonistas. Já a bela trilha original composta por Alberto Iglesias, colaborador frequente de Almodóvar, ajuda a definir o tom agridoce e melancólico da narrativa.

Outro elemento importante de ressaltar é o figurino, especialmente porque um dos financiadores do filme é o estilista Yves Saint Laurent. Então de certo modo ”Estranha Forma de Vida” é também uma peça publicitária, mas que Almodóvar comanda com alma de artista, impondo o seu estilo ao curta-metragem. O grande destaque é a roupa verde de Silva, que chama a atenção pelo tom chamativo que contrasta com o uniforme azul básico do xerife Jake.

Por último, é importante destacar as atuações de Ethan Hawke e Pedro Pascal. Cada um deles impõe o seu estilo de atuar ao respectivo personagem. Assim temos um Jake mais durão, seguindo mais a formação clássica do faroeste, enquanto Silva é uma pessoa mais passional, que não tem vergonha de assumir os seus sentimentos.

Assim, “Estranha Forma de Vida” é uma obra cuja o único problema é sua duração. No final fica uma sensação de “quero mais”, mas ainda em seus poucos 30 minutos Pedro Almodóvar apresenta uma trama cativante e interessante, que apesar de seguir o estilo clássico do faroeste, apresenta os principais elementos narrativos da filmografia do diretor espanhol.


Uma frase: – Silva [para Jake]: “Você nunca me amou. Nunca amou ninguém em sua vida.”

Uma cena: O jantar entre Jake e Silva.

Uma curiosidade: A exibição do curta nos cinemas é seguida de uma entrevista exclusiva com o diretor Pedro Almodóvar.


Estranha Forma de Vida (Extraña forma de vida)

Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar
Elenco: Ethan Hawke e Pedro Pascal
Gênero: Curta-metragem, Drama, Faroeste
Ano: 2023
Duração: 31 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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