Crítica | A Voz Humana (The Human Voice)
O novo filme de Pedro Almodóvar, A Voz Humana (The Human Voice), é um dos melhores retratos do isolamento e da vivência do luto afetivo. O melhor de Almodóvar e Tilda Swinton em 30 minutos.
Existem muitas formas de viver o luto, encarar as perdas e tentar superar momentos desesperadores, que fazem o ser humano ter sentimentos dolorosos, aqueles que tornam até os dias mais ensolarados em um céu cinzento e triste. A ponto de desejar uma tragédia de proporção bíblica para que a felicidade alheia pare de incomodar.
De uma maneira que é fácil sentir empatia ou reconhecer determinados movimentos, o curta trata de contar a história de uma mulher que está vivendo um isolamento após ter sido abandonada por um homem — esse, deixa com ela um cão e algumas peças de roupa, como se não fosse suficiente já ter gerado tanto desgosto para a ex — e, de maneira metodológica, o filme mostra todas as fases do luto quando vivemos um dos momentos mais tortuosos de qualquer relação: Isolamento, raiva, barganha, depressão e aceitação.
A maior parte A Voz Humana é retratada em uma casa ao estilo hipster e sem teto, que dá a entender que é falsa, praticamente construída em um galpão que divide a ação durante os monólogos. Acredito que a ideia tenha sido aclimatar o espectador numa espécie de peça teatral ou fazer com que ele sinta que o personagem vive, concretamente, dentro de um cenário. É nesse suposto palco que Tilda Swinton se entrega maravilhosamente, contracenando com o obediente cachorro abandonado e um moderno fone de ouvido usado durante os monólogos.
O filme tem apenas 30 minutos, mas é melhor desenvolvido do que muito longa metragem por aí. E digo mais: Não é um conteúdo “diferentão”, mas é necessário um pouco de paciência para aceitar que o filme já começou. Não se frustre à toa, vale muito a pena prestar atenção nesse primeiro terço da peça. Supostamente muita coisa deveria ser explicada em um filme que tem pouco tempo, mas te convido a pensar comigo por um momento: Nós somos falantes quando estamos isolados e sofrendo? Nem sempre.
Tenha paciência que o show é garantido.
Sabe o que eu acho?
Em uma época em que vivemos o distanciamento social para sobreviver ao perigo, assistir a um filme que explora o isolamento que vivemos naturalmente — muito antes da pandemia ser ‘modinha’ — A Voz Humana é uma ideia que explicita muito bem o quanto já sofremos em segredo há tanto tempo. Eu sei que tantos outros filmes e séries têm sido feitos aproveitando o momento para serem bem vendidas, mas Almodóvar conseguiu trabalhar muito bem um conteúdo que é muito próximo da realidade.
A personagem adula, tenta mostrar que já superou tudo e está seguindo em frente, sente raiva, paralisa, barganha. Por fim, decide aceitar o que sua natureza verdadeiramente manda. Quem de nós nunca passou por isso? Acredito que a maioria. A mulher só queria uma despedida cara-a-cara com um relutante ex-companheiro.
Pessoalmente, acredito que ela ganhou muito mais tendo o cachorro como companhia, por que não consigo respeitar quem abandona um animal de estimação.
Cena: Tilda Swinton sendo lambida pelo cachorro, na orelha, e permanecendo imóvel.
Frase: “Você sempre voltou, até três dias atrás.”
Curiosidade: Primeiro filme em língua inglesa feito por Pedro Almodóvar.
A Voz Humana (The Human Voice)
Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar
Elenco: Tilda Swinton
Gênero: Drama
Ano: 2021
Duração: 30 minutos
Eu fiquei com um “gostinho de quero mais” no final desse filme.
30 minutos foi muito pouco.