Crítica | As Tartarugas Ninja: Caos Mutante

Crítica | As Tartarugas Ninja: Caos Mutante

Criados por Peter Laird e Kevin Eastman nos anos 1980 primeiro em HQs, As Tartarugas Ninja já tiveram diversas adaptações para a televisão e cinema, tanto em live-action quanto em animação. Em “Caos Mutante” o diretor Jeff Rowe (de “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas”) juntamente com a dupla de produtores e roteiristas Seth Rogen e Evan Goldberg apresenta uma versão bem interessante dos personagens em que foca mais no fato deles serem adolescentes e em sua origem.

Além disso, a animação segue um estilo visual que ganhou força após “Homem-Aranha no Aranhaverso”, que mistura elementos 2D com 3D, deixando o realismo computadorizado dos desenhos da Pixar de lado. Esse formato se assemelha mais à imagens de uma revista em quadrinhos em movimento. “As Tartarugas Ninja: Caos Mutante” é belíssimo, captando e misturando bem o caos urbano de uma grande cidade com a escuridão sujeira dos túneis de esgoto. Ao mesmo tempo transforma esse espaço do esgoto em um ambiente familiar que serve de residência para as tartarugas e seu pai, o Mestre Splinter. Os animadores também brincam ao alternar técnicas, como por exemplo ao mostrar os traços mais sérios e adultos dos protagonistas quando eles fingem ser heróis tipo o Batman, fazendo referência a origem deles nas hqs de Laird e Eastman.

Na animação vemos que o quarteto Leonardo, Donatello, Michelangelo e Raphael sonham em poder conviver com os humanos, mas o Mestre Splinter sempre os lembra que quando tentou isso foi atacado por eles. Eles então têm a ideia de derrotar Superfly, um mutante que anda fazendo roubos pela cidade. Dessa forma os humanos iriam aceitá-los por serem heróis. Para colocar isso em prática eles contam com a ajuda da adolescente April O’Neil, que sonha em se tornar jornalista e essa história pode ser o seu ponto de partida.

Um dos trunfos do roteiro de “As Tartarugas Ninja: Caos Mutante” gira em torno das motivações de Superfly. Ele é mutante como as tartarugas e tem um grupo de seguidores, que também são seres modificados. Então inicialmente surge um reconhecimento entre eles por ambos serem seres rejeitados pelos humanos. Só que o vilão é extremo, ele não quer ser aceito e sim acabar com a humanidade.

Todos os personagens são bem explorados e mesmo os secundários têm o seu momento para brilhar. É interessante ver o fascínio das tartarugas pelos humanos e a felicidade quando eles encontram outros seres iguais a eles. O roteiro explora muito bem essa relação e o relacionamento entre pai e filhos deles com Mestre Splinter, que é superprotetor. Outro elemento importante para isso funcionar é o elenco de vozes. Temos adolescentes de verdade dublando as Tartarugas Ninja, o que dá mais verossimilhança aos personagens. Ice Cube dá uma incrível multidimensionalidade a Superfly, enquanto Jackie Chan mostra um ótimo lado paternal de Splinter.

As cenas de ação e aventura são muito bem construídas, explorando muito bem os cenários e os movimentos dos personagens. Esses momentos são bem inventivos e a fotografia capta tudo sem confusão e cortes sem necessidade, fazendo com que o espectador entenda bem o que está acontecendo na tela.

Por último, é importante ressaltar um outro elemento que se destaca na animação: a trilha sonora composta por Trent Reznor e Atticus Ross. Essa dupla é uma das mais inventivas da atualidade e aqui eles mostram um de seus melhores trabalhos. Os temas misturam o caos urbano com outros mais melancólicos, com uma incrível coesão. As batidas de bateria e os sintetizadores ditam o ritmo frenético de algumas cenas, criando um senso de urgência muito interessante. Além disso, a influência dos anos 1980 funciona como elemento de nostalgia, mas sem parecer caricata. Ela se junta de maneira orgânica a outras referências pop da época de forma muito bem construída.

Dessa forma, todos esses elementos juntos transformam “As Tartarugas Ninja: Caos Mutante” na melhor adaptação já feita dos personagens de Peter Laird e Kevin Eastman. A mistura de humor e ação funciona de maneira orgânica, além de captar bem o espírito adolescente. O visual é incrível e junto com a trilha transformam a animação de Jeff Rowe em uma das grandes surpresas de 2023.


Uma frase: “Matem os Shreks!”

Uma cena: A primeira vez que as Tartarugas Ninja resolvem lutar contra bandidos.

Uma curiosidade: Em contraste com a norma para animação, o elenco gravou seus papéis de voz juntos em grupos, em vez de independentemente um do outro. Uma única sessão de gravação pode incluir até sete atores. Esse ambiente permitiu que o elenco se enfrentasse, além de empregar muita improvisação em suas apresentações.


As Tartarugas Ninja: Caos Mutante (Teenage Mutant Ninja Turtles: Mutant Mayhem)

Direção: Jeff Rowe
Roteiro: Seth Rogen, Evan Goldberg, Jeff Rowe, Dan Hernandez e Benji Samit; história de Brendan O’Brien, Seth Rogen, Evan Goldberg e Jeff Rowe
Elenco: Micah Abbey, Shamon Brown Jr., Nicolas Cantu, Brady Noon, Ayo Edebiri, Maya Rudolph, John Cena, Seth Rogen, Rose Byrne, Natasia Demetriou, Giancarlo Esposito, Jackie Chan, Ice Cube, Paul Rudd, Austin Post e Hannibal Buress
Gênero: Animação, Aventura, Ação
Ano: 2023
Duração: 99 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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