Crítica | Asteroid City

Crítica | Asteroid City

Com um elenco astronômico e uma fotografia genial e muito característica, Asteroid City é um prato cheio para fãs de Wes Anderson (diretor e roteirista), mas talvez seja algo impalatável para o público geral. 

Ambientado nos anos 1950, estranhos personagens chegam a uma cidadezinha desértica para um concurso estudantil de ciência espacial. O encontro celebra a queda de um meteorito milenar e é interrompido pela aparição de um alienígena. Os militares de prontidão decidem promover uma quarentena para que o mundo não descubra o fato.

Com um apelo teatral – cenários inverossímeis e diálogos bizarros -, Asteroid City surpreende ao revelar, logo de início, que trata-se de uma peça e não de um filme. Uma história dentro da história. Um apresentador de TV (Bryan Cranston, o saudoso Mr. White, de Breaking Bad) conduz o público às coxias do espetáculo, separando o longa em dois universos: a peça em si e os bastidores. 

Para além de um trabalho primoroso – como sempre – na fotografia, figurino, cenários, Wes Anderson e seu co-roteirista, Roman Coppola, exageram no non-sense. O filme tenta retratar um ambiente de espetáculo, contudo é um eufemismo chamar de atuações teatrais as interpretações robóticas da maioria dos personagens trazidos à tela. À exceção de Tom Hanks e das crianças e adolescentes, cuja espontaneidade devolve um pouco de humanidade à trama, qualquer que seja ela.

Impressionante mesmo é a quantidade de talentos que Anderson reúne para o longa. Muitos deles fazem aparições relâmpago como Margot Robbie e Willem Dafoe. Contudo, nem mesmo o elenco estelar consegue transformar o longa em algo prazeroso. Chato e arrastado, o filme não se aprofunda em temas trazidos à tona como o luto e relacionamentos abusivos. 

O que funciona é a crítica sagaz à idiotice padrão das Forças Armadas americanas e ao comportamento frio de homens em relação ao luto, às fragilidades emocionais e aos cuidados parentais. Scarlett  Johansson, que interpreta a atriz de cinema Midge Campbell – uma espécie de Marilyn Monroe no longa -, também representa a caricatura de todas as mulheres abusadas e violentadas pelo patriarcado. Ela desperta, em especial no público feminino,  uma melancolia imensa, tirando-o momentaneamente do tédio que é o filme.


Uma frase: “Às vezes, acho que me sentiria melhor fora da atmosfera terrestre.”

Uma cena: Midge Campbell na banheira.

Ema curiosidade: Em sua cena de nudez, Scarlett Johansson disse não ter nenhum problema para fazer o nu frontal. No entanto, ela disse ter sido estranho, já que Wes Anderson estava muito envergonhado ao dirigir a cena.


Asteroid City

Direção: Wes Anderson
Roteiro: Wes Anderson; história de Wes Anderson e Roman Coppola
Elenco: Jason Schwartzman, Scarlett Johansson, Tom Hanks, Jeffrey Wright, Tilda Swinton, Bryan Cranston, Edward Norton, Adrien Brody, Liev Schreiber, Hope Davis, Stephen Park, Rupert Friend, Maya Hawke, Steve Carell, Matt Dillon, Hong Chau, Willem Dafoe, Margot Robbie, Tony Revolori, Jake Ryan e Jeff Goldblum
Gênero: Drama, Comédia, Romance
Ano: 2023
Duração: 105 minutos

Elaine Fonseca

Jornalista, servidora pública e nerd.

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