Crítica | A Noite do Dia 12 (La Nuit du 12)

Crítica | A Noite do Dia 12 (La Nuit du 12)

Segundo o UOL, o Brasil registra um feminicídio a cada 6 horas. Esse número é assustador! Na França os números são bem menores, mas também existem muitos casos de violência contra as mulheres. O fato é que isso é um problema em todo o mundo. Assim, o filme “A Noite do Dia 12” de Dominik Moll tinha potencial para explorar esse tema de forma relevante, mas ao abordar essencialmente o ponto de vista masculino, o longa-metragem perde um pouco do seu impacto.

O filme é inspirado em fatos e narra a história do policial Yohan que é encarregado da investigação da morte da jovem Clara, de 21 anos, que foi queimada viva em uma cidade do interior da França. O crime é brutal e chocante, tendo impacto psicológico no homem que enquanto investiga o ocorrido se dá conta da complexidade do delito. A conclusão é de que algo está errado em geral na relação entre homens e mulheres.

Inicialmente o que ocorre é um julgamento moral da vítima, pois a jovem tinha uma vida sexual ativa e se relacionou com diversos homens. Felizmente, apesar do machismo existir também na França, ele ocorre em menor grau. Assim Yohan chega à conclusão frustrante durante a investigação de que de alguma maneira todos que passaram pela vida de Clara contribuíram de alguma forma, indireta ou diretamente. O interrogatório dos suspeitos é estarrecedor, pois todos teriam “motivo” para matá-la. O problema é conseguir provar quem é o culpado.

A questão é que ao invés de explorar melhor o problema existente na humanidade na relação entre homens e mulheres que faz com que eles as agridam tanto, “A Noite do Dia 12” opta por fazer um estudo de personagem de Yohan, e em menor grau de outros policiais em torno dele também envolvidos na investigação.

O perfil psicológico dele é apresentado de forma metafórica através da maneira como ele pratica exercícios físicos. O homem gosta de pedalar e treina em uma pista de corrida circular. Assim percebemos que ele é metódico e obcecado por regras, do tipo que não gosta de fugir da linha. Além disso, é uma pessoa de poucas palavras e se mostra extremamente racional. Contudo, esse caso o abala, fazendo com que demonstre emoções em alguns momentos.

Esse foco em Yohan tem o ponto positivo em mostrar as limitações dentro da força policial francesa. Aqui no Brasil nós sabemos dos problemas, mas é interessante ver que na França também existem muitas questões. Uma delas é financeira, que é representada no fato de que a impressora da delegacia estar com problemas e eles não terem verba para comprar outra. Isso se mostra, no desenrolar da trama, ser mais um fator complicador na investigação do caso da morte de Clara.

O roteiro escrito pelo próprio diretor Dominik Moll em parceria Gilles Marchand segue então uma cartilha de filmes policiais, mas no terceiro e último ato “A Noite do Dia 12” apresenta um diferencial importante. É quando surgem duas mulheres na trama após um salto temporal na narrativa. Uma delas é uma juíza, que determina que as investigações sejam retomadas. A outra é uma policial que entra para o grupo de Yohan, que através do seu ponto de vista feminino acrescenta elementos interessantes à apuração do assassinato.

Assim, apesar de apresentar algumas reflexões interessantes sobre a relação entre homens e mulheres, “A Noite do Dia 12” segue mais o formato padrão de um filme policial. No seu último ato finalmente o longa-metragem apresenta um diferencial que o tira do lugar comum, mas ainda é pouco considerando o potencial narrativo existente na trama.


Uma frase: – Yohan: “Algo está errado entre homens e mulheres.”

Uma cena: Quando os policiais chegam na casa de Clara para contar aos pais dela sobre sua morte.

Uma curiosidade: Na principal premiação do cinema francês, o César, o filme ganhou seis prêmios, entre eles Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Ator Coadjuvante (para Bouli Lanners), além de receber outras quatro indicações.


A Noite do Dia 12 (La Nuit du 12)

Direção: Dominik Moll
Roteiro: Gilles Marchand e Dominik Moll
Elenco: Bastien Bouillon, Bouli Lanners, Anouk Grinberg, Théo Cholbi, Johann Dionnet, Thibault Evrard, Julien Frison, Paul Jeanson, Mouna Soualem e Pauline Serieys
Gênero: Policial, Drama, Mistério
Ano: 2022
Duração: 114 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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