Crítica | Os Cinco Diabos (Les Cinq Diables)
Dirigido por Léa Mysius, “Cinco Diabos” (Les Cing Diables) é um filme que traz consigo ideias interessantes e uma premissa intrigante. A história gira em torno de Vicky (Sally Dramé), uma menina de 8 anos com um sentido olfativo extraordinário. Ela vive uma vida aparentemente feliz ao lado de sua mãe Joanne (Adèle Exarchopoulos, Bem Vindos a Bordo) – a pessoa mais importante em sua vida – e seu pai Jimmie (Moustapha Mbengue), um homem em busca de seu lugar no mundo. No entanto, quando a misteriosa tia Julia reaparece depois de sair da prisão, segredos sombrios do passado emergem e afetam a família de maneira violenta e mágica.
Uma das principais forças do filme é a forma como ele explora o poder único de Vicky. Através de seu super olfato, somos transportados para um mundo sensorialmente rico e fascinante, onde o cheiro é sua linguagem mais forte. Essa abordagem inovadora cria uma atmosfera única e enriquece a narrativa, adicionando camadas de complexidade ao desenvolvimento dos personagens.
No entanto, apesar das ideias interessantes, o filme sofre de uma condução inconsistente. Alguns personagens, como o marido de Joanne, são retratados de maneira superficial. Além disso, os flashbacks são utilizados em excesso, tornando-se um recurso narrativo confuso e cansativo em alguns momentos. Esses aspectos prejudicam a fluidez da história e a imersão do espectador, tornando-se um obstáculo para o pleno aproveitamento das ideias promissoras que “Cinco Diabos” apresenta.
No entanto, mesmo com suas falhas, é uma produção interessante. O longa se destaca por sua atmosfera única e abordagem original de temas cotidianos, explorando os segredos ocultos que podem existir em qualquer dinâmica familiar aparentemente comum. A presença cativante da jovem atriz Sally Drame, interpretando a protagonista Vicky, é outro ponto positivo. Sua atuação convincente traz vida e autenticidade à personagem, tornando-a um ponto central de conexão emocional para o espectador.
O grande trunfo aqui talvez sejam as reflexões apresentadas sobre o poder dos sentidos e os efeitos do passado em nossas vidas (aqui explorado com uma espécie de mais um poder especial da pequena Vicky que parece se transportar no tempo). A combinação desses elementos, juntamente com a atmosfera mágica e misteriosa, cria uma experiência cinematográfica envolvente.
Em suma, “Os Cinco Diabos” apresenta ideias interessantes, porém mal conduzidas. A atuação cativante de Sally Drame e a forma como as relações familiares são exploradas, bem como a metáfora sobre o efeito do passado em nossas vidas são os pontos altos, transformando esta obra em uma experiência cinematográfica bastante curiosa e indicada para aqueles que gostam de explorar produções que fogem do comum.
Uma frase: “Você me ama mais do que ela?”
Uma cena: A origem do incêndio no ginásio.
Uma curiosidade: O filme originalmente girava em torno de uma menina obcecada por odores, assim como a escritora/diretora Léa Mysius em sua infância, mas ela não queria que a trama se concentrasse na indústria de perfumes. Durante o processo de escrita, ela leu diversos autores americanos, como Jim Harrisson, Maya Angelou e James Baldwin, o que resultou em uma história com personagens fortes ambientada em uma área remota com paisagens deslumbrantes. A intenção não era criar uma história fantasiosa, mas a obsessão de Vicky gradualmente se transformou em um poder mágico.
Os Cinco Diabos (Les Cinq diables)
Direção: Léa Mysius
Roteiro: Paul Guilhaume, Léa Mysius
Elenco: Adèle Exarchopoulos, Swala Emati, Sally Dramé, Moustapha Mbengue, Patrick Bouchitey, Daphne Patakia, Hugo Dillon, Antonia Buresi, Noée Abita, Charlotte Bon Bornier, Alain Guillot
Gênero: Drama, Fantasia
Ano: 2022
Duração: 95 minutos
