Crítica | Babilônia (Babylon)
A indústria do cinema americano adora produções que mostram a época “áurea” de Hollywood de maneira nostálgica. Um bom exemplo disso foi o filme “Mank” de David Fincher, que recebeu diversas indicações ao Oscar em 2021. Em “Babilônia” o diretor Damien Chazelle presta uma homenagem e ao mesmo tempo faz uma crítica à essa indústria.
Em seu novo trabalho o cineasta mostra os excessos dos anos 1920, onde existia uma liberdade sexual e espaço para muitas extravagâncias dentro do mundo artístico e rico de Hollywood. Duas grandes mudanças vieram e alteraram totalmente esse estilo. Primeiro tivemos a chegada do som aos filmes, que fizeram com que muitos artistas perdessem espaço por não se adaptarem ao novo formato. Em seguida veio o Código Hays em 1930, que definia um conjunto de normas morais aplicadas às produções cinematográficas.
Assim o roteiro escrito pelo próprio Chazelle apresenta um grupo de protagonistas e sem definir bem uma trama ele mostra um pouco da vida de cada um deles, fazendo um estudo de personagens através do clichê da ascensão e queda.
Inicialmente temos Jack Conrad (Brad Pitt), um ator de sucesso que luta para se manter relevante; Nellie LaRoy (Margot Robbie), uma aspirante a atriz que está disposta a fazer de tudo para virar uma estrela; e Manny Torres (Diego Calva), um “faz tudo” que também deseja trabalhar na indústria de cinema para desempenhar qualquer função. Por último temos Sidney Palmer (Jovan Adepo), um músico negro que tem a chance de se tornar um astro.
É interessante como Chazelle inclui algumas minorias: um latino, uma mulher e um homem negro, e, se forçarmos um pouco, um homem de idade. O objetivo é criticar a indústria ao mostrar que esses grupos, por mais que lutem, sempre terão maior dificuldade em ser bem-sucedido na indústria. E isso é algo que infelizmente não evoluiu tanto quanto poderia atualmente.
A questão é que dentro do caos criado por Chazelle em “Babilônia” muito da sua crítica fica diluída e, mesmo com mais de três horas de duração, o diretor não consegue apresentar a sua crítica de maneira satisfatória.
O filme inicialmente ironiza esse caos onde, na cena de abertura, vemos uma festa dentro da casa de um figurão de Hollywood em que presenciamos diversos “excessos”. Temos pessoas fazendo orgias, consumindo drogas e até mesmo um elefante solto no meio do evento trazendo medo e risos aos presentes. Chazelle mostra uma Babilônia literal e esse lado cômico obviamente arranca boas risadas do público que não acredita que as coisas apresentadas na tela possam ter acontecido de verdade, explorando muito o humor físico e até escatológico. Tudo bem, “Babilônia” é uma ficção, mas é inspirada em fatos e pessoas da época, então mesmo com exageros teoricamente aquilo tem algum toque de realidade.
Em seguida vemos o caos dentro de um set de filmagens de filmes mudos, onde várias produções são feitas ao mesmo tempo. Mas é um “caos” que funciona, a arte é feita, e é isso que importa. Quando vemos uma filmagem de uma obra sonora, a pegada é totalmente diferente. O momento em que Nellie grava sua primeira cena sonora é hilária e mostra a enorme dificuldade em conseguir captar o som, pois era necessário ficar exatamente no ponto onde o microfone está, além da necessidade do silêncio “mortal” dentro do estúdio.
O que Chazelle insinua é que o som inicialmente acabou com a espontaneidade da arte do cinema. Apesar do momento engraçado, é uma crítica meio vazia e talvez ingênua. A verdade é que “O Artista”, de 2011, mostra de maneira muito mais inteligente e interessante a transição do cinema mudo para o sonoro. Assim, “Babilônia” não acrescenta nada de muito relevante ao tema.
Dessa forma, apesar do caos narrativo proposto por Damien Chazelle, “Babilônia” só demonstra um resultado positivo graças ao seu elenco. Brad Pitt está muito bem e constrói Jack de maneira verossímil, uma situação até meio similar à sua própria carreira, já que o ator está próximo de completar 60 anos. Já Margot Robbie esbanja carisma e talento, demonstrando toda a espontaneidade de Nellie e sem dúvidas a sua personagem é a grande força dentro do filme.
A parte técnica também tem pontos positivos, como o design de produção e figurino que retratam muito bem a época. A fotografia de Linus Sandgren é boa e temos alguns planos longos sem cortes que dão ritmo e fluidez a momentos importantes, como a chegada dos personagens na festa do início do longa-metragem, ou o momento já citado que mostra o caos do set de filmagem de filmes mudos. Outro ponto de destaque é a trilha sonora de Justin Hurwitz, com alguns temas similares aos de “La La Land”, que não por acaso homenageia o jazz justamente do período em que “Babilônia” se passa.
No final Damien Chazelle passa pano para Hollywood, apresentando imagens de diversos clássicos da história do cinema e um personagem indo a uma sala assistir um filme. Talvez ele queira dizer que apesar de tudo, a indústria ainda tem a sua beleza, mesmo com problemas, injustiças e do caos. Por isso a impressão que fica é a de que apesar das críticas ingênuas, o que o cineasta realmente queria era só mesmo fazer uma “homenagem” à chamada “época de ouro” do cinema americano. E isso só faz com que sua obra não tenha o impacto que ele esperava que ela tivesse.
Uma frase: – Nellie LaRoy: “Está escrito nas estrelas. Sou uma estrela.”
Uma cena: Quando Nellie vai gravar a sua primeira cena de cinema com som.
Uma curiosidade: Quando Jack Conrad chega à festa e está falando italiano, sua esposa diz que ele é de Shawnee. Brad Pitt é na verdade de Shawnee, Oklahoma.
Babilônia (Babylon)
Direção: Damien Chazelle
Roteiro: Damien Chazelle
Elenco: Brad Pitt, Margot Robbie, Diego Calva, Jean Smart, Jovan Adepo, Li Jun Li e Tobey Maguire
Gênero: Comédia, Drama, História
Ano: 2022
Duração: 189 minutos