Review | House of the Dragon – S01E03 – Second of his Name

Review | House of the Dragon – S01E03 – Second of his Name

Onde um rei vacilante e um pai distante da filha faz uma promessa muito difícil de ser mantida.

As agruras do trono e da paternidade são o principal tema do terceiro episódio de House of the Dragon, que se concentra agora na já bastante estremecida relação entre Viserys e sua filha, Rhaenyra.

[button-red url=”#” target=”_self” position=””]Aviso de SPOILERS[/button-red]

Os comentários a seguir falam sobre acontecimentos encontrados em Second of his Name, o terceiro episódio da primeira temporada de House of the Dragon.

Desde que o rei tomou como esposa sua melhor amiga, Alicent Hightower, Rhaenyra se afastou de ambos, se retraindo em sua solidão e tristeza. Tudo piora quando Alicent dá um filho homem a seu pai, e esse é nomeado Aegon, em homenagem ao primeiro rei Targaryen a conquistar Westeros. Para Rhaenyra, sequer é preciso dizer: ela é um passado que foi descartado. E na festa de dois anos do dia do nome do pequeno Aegon, comemorada com uma caçada real que será “abençoada” pela aparente presença de um cervo branco, a nobreza de Westeros cercará seu pai para que esse descarte se concretize. Enquanto alguns, como Otto Hightower, querem que ele nomeie o pequeno Aegon seu herdeiro, no lugar de Rhaenyra, outros querem o poder e a influência que deve vir do casamento com a princesa, como Jason Lannister. Esse parece ser, afinal, o desenrolar mais natural e evidente para o destino de Rhaenyra.

Porém, o vacilante Viserys, não está tão certo disso. Diante da realização de seu sonho de ter um filho homem ele não se sente em nada realizado. A decisão deveria ser fácil para Viserys, mas ele se mostra pouco ou nada impelido a fazer o que se espera dele (e o que seria até mesmo mais lógico, de uma perspectiva política) e declarar Aegon seu herdeiro para o trono. É como se algo – além da profecia que afirma que apenas uma rainha será capaz de salvar Westeros da escuridão final – em seu íntimo insistisse que se ele não der o trono a Rhaenyra estará cometendo um grande erro; mais ainda, ele sabe que ao confirmar a retirada do status de herdeira do treino de Rhaenyra, ele perderá sua filha para sempre. Os nobres de Westeros, porém, são o seu maior obstáculo para seguir seu coração.

Em Second of his Name vemos um Viserys claramente atormentado e vacilante, e falhando então tudo que se espera que um rei deveria fazer. Diante da fogueira, perdido em sua lamentações, mais uma vez o texto recorre ao expositivo, que seria melhor se, nesse momento, fosse evitado. Aparentemente House of the Dragon está mais preocupado em nos dizer e reserva o mostrar para os belos efeitos, figurinos e cenários. A inabilidade de roteiristas, e principalmente da direção, de recorrer ao uso de imagens para mostrar e construir o contexto que o episódio precisa ter acaba reduzindo o que poderia ter sido uma experiência muito mais interessante e de melhor qualidade.

O cervo branco, e como ele é utilizado, aliás, é um grande exemplo disso. Não é difícil compreender, ainda que não necessariamente conscientemente, que o animal é um símbolo real e imponente de nobreza. O roteiro não deveria nos dizer isso com palavras, como ocorre no episódio, mas sim apresentar isso com belas imagens construídas com bons efeitos, fotografia e montagem. Isso daria muito mais força a tudo que experimentamos ao assistirmos ao episódio. Enquanto um Viserys segue caçando o cervo branco – a majestade – apenas pela insistência de sua comitiva, Rhaenyra, como é evidente, é encontrada por ele. Um auspício sem dúvida portentoso acerca da rainha que ela poderá ser. Enquanto Viserys vacila em abater um cervo substituto ao cervo branco, com a ajuda de seus caçadores, e ainda falha em fazê-lo mesmo com o animal imobilizado, Rhaenyra, horas antes de ser encontrada pelo cervo branco, mata, com pouca ajuda de Ser Cristan Cole, um javali selvagem que a ataca na noite. Sua força, selvageria e impetuosidade são dignas da majestade que a persegue. Se Rhaenys é a rainha que não foi, o roteiro aponta que ela é a rainha que deve ser.

Ao fim, farto de se sentir manipulado – pois o plácido Viserys sabe, ainda que não se importe – decide prometer à desafiadora Rhaenyra, após uma conversa franca de pai para filha, que ela não perderá o título de herdeira. Uma promessa difícil de ser cumprida, ele sabe, e que pode custar ao reino muito mais do que ele imagina.

No fim de Second of his Name, quando tudo já parecia se resumir a embates políticos, temos uma das mais empolgantes sequências que Game of Thrones ou House of the Dragon já apresentou. Daemon Targaryen, após receber a notícia de seu irmão de que enviara tropas para ajudá-lo, decide não dar esse prazer aos Lordes de Westeros. Ao recorrer a uma tática nada honrosa – essa já antecipada de forma também bastante expositiva pelo roteiro, apenas minutos antes – e forjar uma rendição, ele consegue retirar o “Engorda Caranguejos”, Craghas Drahar, de sua toca. Daemon chega a lutar sozinho, brandindo sua espada, Dark Sister, com extrema fúria e habilidade, contra diversos dos homens de Drahar antes que ele se exponha.

O banho de sangue é completado por um banho de fogo quando Laenor Velaryon (filho de Lorde Corlys) surge cavalgando Seasmoke, o dragão que ele encontrou e domou durante anos, completando o massacre. Daemon aproveita para avançar e enfim abater o Engorda Caranguejo. Em uma cena final catártica, digna da melhor tradição Game of Thrones, Daemon retorna da caverna arrastando por um dos braços metade do torso decepado de Drahar, se exibindo para seu exército banhado de sangue. A mensagem é clara: Daemon Targaryen não precisa de ninguém para vencer. House of the Dragon segue, assim, com consistência e qualidade. Infelizmente a opção do roteiro em ser por vezes didático de tão expositivo segue também como um traço consistente da série. Por outro lado temos sangue, fogo, intrigas políticas, combates empolgantes e dragões, muitos dragões.

Se House of the Dragon ainda está longe de ser um clássico indiscutível, já é, sem sombra de dúvida, entretenimento da melhor qualidade e, talvez, uma das melhores coisas, até aqui, já realizadas em termos de cenários de fantasia medieval. Isso, associado à recente estreia do deslumbrante “Os Anéis do Poder”, e da futura estreia da série de “Willow“, me ter certeza de que jamais estivemos em um momento tão bom para ser fã de fantasia medieval. Meu jovem eu, sem dúvida, não poderia estar mais satisfeito.



House of the Dragon

Temporada:
Episódio: 03
Título: Second of his Name
Roteiro: Gabe Fonseca e Ryan Condal
Direção: Greg Yaitanes
Elenco: Paddy Considine, Matt Smith, Emma D’Arcy, Rhys Ifans, Steve Toussaint, Eve Best, Sonoya Mizuno, Fabien Frankel, Milly Alcock, Emily Carey e Graham McTavish
Exibição original: 04 de setembro de 2022 – HBO

Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

Um comentário em “Review | House of the Dragon – S01E03 – Second of his Name

  1. Achei esse episódio fantástico tanto do ponto de vista da intriga como da ação. Os diálogos expositivos estão lá de fato e as vezes acabam incomodando, mas nada grave. Ainda é cedo para claasicifica-lo como clássico, mas particularmente estou experimentando sensações muito próximas daquelas que experimentava vendo Game of Thrones. House of the Dragon ainda tem muito para crescer.

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