A Nostalgia Era Melhor Antigamente: Batman — O Retorno (parte final)
Continuação desse post aqui, no qual eu comentei a segunda parte do filme Batman — O Retorno. Nele, nós descobrimos que ser lambida por gatos de rua ensinou a Mulher Gato a costurar vinil, que o Pinguim tem pautas bem progressistas na sua campanha para prefeito e que Bruce Wayne descarta documentos ultrassecretos na privada.
Hoje nós vamos descobrir que a água de Gotham é extremamente gelada, perceber que o Pinguim precisa investir mais no seu marketing de campanha e confirmar que bilionários não se importam nem um pouco com vidas humanas.
Batman: O Retorno
(parte final)
No dia seguinte ao caos e destruição perpetrados pelo Pinguim, pelo Batman e pela Mulher-Gato, os dois últimos casualmente voltam a se encontrar na rua, agora em suas identidades secretas de Bruce Wayne e Selina Kyle, e põem-se a discutir as notícias do dia, repercutindo justamente suas ações na noite anterior.
Como bom bilionário que é, Bruce defende que o Batman evitou muitos danos à propriedade, sem contudo mencionar o capanga com temática circense que assassinou a sangue frio com uma bomba relógio.
Enquanto isso, o Pinguim põe em prática a etapa seguinte do seu plano, que envolve sequestrar a modelo responsável por acender as luzes da árvore de Natal da cidade e deixar na cena do crime o bumerangue tecnológico do Batman, assim incriminando o herói.
De minha parte, não vejo por que seria incriminador encontrar na cena do crime um objeto pertencente a um sujeito conhecido por estar em inúmeras cenas de crimes, inclusive com o aval das forças policiais. O batarangue poderia no máximo indicar que o Batman esteve lá, mesmo porque naquela época não dava para fazer check in no Foursquare.
Nosso herói então decide então ir à cerimônia de acendimento da árvore natalina para salvar a modelo sequestrada que ele não tem nenhuma indicação de que estaria lá. Trata-se, no entanto, de uma cilada, pois enquanto o Batman confronta os dois vilões, os asseclas do Pinguim aproveitam a distração para hackear o Batmóvel.
Na verdade, é uma cilada dupla: o Pinguim atira a modelo do alto do prédio, o que parece ser um tema bem recorrente nesse filme, e solta uma revoada de morcegos sobre o público, para que o crime seja associado ao Batman.
O homem morcego se vê então diante de um dilema triplo, tendo que, ao mesmo tempo: confrontar dois perigosos vilões, socorrer a população aterrorizada pelos morcegos e prestar socorro à modelo defenestrada. Apenas um herói com extrema tenacidade, coragem e inteligência seria capaz de enfrentar tantos problemas ao mesmo tempo!
Já o Batman decide apenas ir embora mesmo.
Ao chegar no Batmóvel, nosso herói descobre que o veículo foi hackeado e está sob controle do Pinguim e sua cadeira gamer, que então o utiliza para atropelar pessoas e criar ainda mais terror pela cidade.
Impotente dentro do carro, Batman tem o insight de gravar as falas do vilão usando um CD que casualmente tinha à mão, muito embora arrumar mídia virgem em 1992 fosse tão difícil quanto comprar plutônio em 1985.
É uma ideia muito boa em teoria, mas os últimos anos nos ensinaram que certas pessoas podem ter inúmeros registros em vídeo das mais absurdas declarações criminosas sem que isso prejudique sua carreira política.
O homem morcego então descobre que o controle do Pinguim é feito por meio de um dispositivo instalado sob o Batmóvel. Para retomar o controle do veículo, ele então soca o assoalho até abrir um buraco e retirar o objeto.
De volta à Batcaverna, o Batman transmite durante um comício do Pinguim a gravação com as declarações ultrajantes que o vilão fez enquanto controlava o Batmóvel, o que causa a sua imediata derrocada política, afinal trata-se de um filme ficcional.
Ocorre que a exposição não agrada nem um pouco o ex-candidato e ainda maníaco homicida Pinguim, que, para surpresa de absolutamente ninguém, age como um, bem, um maníaco homicida, saca o guarda-chuva metralhadora que sempre tem à mão e dispara contra a multidão.
O vilão então empreende uma fuga espetacular que consiste em… pular no rio, o que é suficiente para que os policiais desistam de persegui-lo, algo que eu não julgo porque a água realmente devia estar fria pra cacete.
Volta então o cão arrependido ao esgoto de onde saiu, reencontrando seus pinguins e o que restou da gangue circense.
Com sua carreira política enterrada, o vilão então decide retomar seu outro plano, que consiste em sequestrar cada um dos primogênitos de todos os casais de Gotham City e afogá-los no esgoto.
Para isso, ele pretende aproveitar a noite em que os adultos estarão se divertindo em uma festa oferecida por Max Shreck para invadir suas casas e raptar as crianças, um plano que me parece conter alguns problemas de ordem prática: todos os pais da cidade estarão na festa? Como uma gangue de meia dúzia de palhaços conseguirá entrar em cada uma das milhões de casas de Gotham? A certidão de nascimento que indicava ser ou não primogênito também tinha endereço atualizado? As crianças serão deixadas em casa sozinhas, sem nem sequer uma babá?
Embora não tenha filhos, Bruce Wayne decide ir para a festa apenas porque presume que Selina Kyle estará lá, e de fato ela está, afinal quem deixaria de ir numa festa apenas porque o anfitrião lhe atirou pela janela alguns dias antes?
O encontro dos dois é, contudo, interrompido pela chegada do Pinguim, anunciando que o sequestro dos primogênitos está em execução naquele momento e se retirando sem objeção de qualquer dos presentes, inclusive de Bruce Wayne, e levando Max Shreck como seu refém.
Pela primeira vez fazendo algo heroico no filme, o Batman até impede o sequestro das crianças, mas em vez de ir imediatamente ao covil do vilão, decide primeiro dar um pulo na Batcaverna buscar um novo veículo, para que a Warner Bros. tenha mais um brinquedo para vender — mesmo que o atraso coloque a vida de Max em risco.
Isso dá tempo para que o Pinguim arme um imenso exército de pinguins com foguetes, que serão então despachados para bombardear Gotham City, matando todas as crianças independente de sexo, idade ou ordem de nascimento.
Quando enfim o homem morcego se digna a ir ao esgoto enfrentar o vilão, parece ser tarde demais: os pinguins-bomba já estão na praça de Gotham, prontos para explodir toda a cidade. A tragédia só é impedida porque, usando os computadores da Bat-Caverna, o mordomo Alfred consegue fazer com que as pequenas aves retornem ao esgoto.
Não, sério mesmo. ELE. HACKEIA. OS. PINGUINS.
À medida que o Batman se aproxima do covil do vilão, a gangue circense que até bem pouco tempo atrás estava disposta a literalmente se suicidar pelo Pinguim subitamente adquire consciência de classe, então eles pedem as contas e vão embora, presumivelmente para sacar o FGTS e requerer o seguro desemprego.
Com isso, o embate entre Batman e Pinguim se dá só entre os dois mesmo, sem interferência de terceiros, e termina com o vilão — adivinhe só — caindo do alto de um prédio.
A exemplo dos policiais de Gotham, Batman também não tem nenhuma pretensão de entrar na água gelada do inverno gothamita, então a queda do vilão fica por isso mesmo e o homem morcego retorna ao esgoto, onde a Mulher Gato está prestes a matar seu ex-chefe e conhecido defenestrador Max Shreck.
Nosso herói tenta então convencê-la a não matar Max, mas sim levá-lo à prisão, afinal assassinato é um crime muito grave e toda vida é sagrada — exceto se você for membro de gangue circense, aí é ok matar explodindo seu corpo com requintes de crueldade.
Para mostrar que o negócio é sério mesmo, o Batman tira a máscara e revela sua identidade secreta para Selina — e por tabela para Max, que, sem entender bem a gravidade da situação, aproveita o momento para demitir a secretária que tentara matar apenas alguns dias antes.
Não satisfeito com apenas demitir, Max também dispara quatro tiros em Selina, que contabiliza cada um como uma morte distinta e, somadas com as três vezes que foi atirada pela janela, resultariam em sete óbitos.
Para sua sorte, os gatos estadunidenses são atrelados ao dólar e por isso não têm sete, mas sim nove vidas, de modo que ela ainda consegue provocar um curto circuito na estação elétrica que, imagino, fornece ar condicionado ao esgoto, suicidando-se ao mesmo tempo em que mata Max.
Ao se aproximar, no entanto, Batman encontra apenas o corpo terrivelmente carbonizado de Max Shrek, sem rastro da ladra, que certamente sobreviveu graças à última vida que ainda dispunha por não ser uma gata de país emergente.
Ou talvez a roupa que nós o tempo todo presumimos ser vinil era, na verdade, feita de fita isolante.
Sensacional, queria que o Burton fizesse mais um péssimo filme do morcegão apenas para ser descascado pelo melhor Lionel em atividade.
Rapaz, cuidado com o que você deseja, hahahah
Considerando essa leva de reviver produções e atores de antigas obras, é bem possível da Warner chamar esse diretor de videoclipe para mais filmes, urgh.
Nessa época, pelo visto, não era ok ser um bat-emo e deixar os olhos esfumados à mostra
Lionel, que tal revisitar os X-men para sua coluna?
O filme?
Tenho vontade de fazer com algum episódio do desenho, negócio é ter que assistir tudo para escolher um bem carregado de absurdos.
Analise algum arco da antiga série mesmo, tipo o arco de Apocalipse, pode render algo bom.
Boa. Vou dar uma olhada, valeu mesmo.
Lionel, que tal revisitar a franquia Blade para sua coluna?
Tem tanto tempo que eu vi que nem lembro da trama. Fazer com filme é sempre tenso, tem que ver e rever algumas vezes heheheh.