Review | Cobra Kai – 3ª Temporada

Review | Cobra Kai – 3ª Temporada

A série Cobra Kai obteve uma sobrevida na Netflix e ganhou uma 3ª temporada no serviço de streaming, após um sucesso razoável no YouTube. Na nova casa o seriado alcançou um público maior e já é possível ver uma clara diferença nos novos episódios. O principal fator talvez seja financeiro, dessa forma nota-se que o programa criado por Josh Heald, Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg teve um orçamento superior para a nova leva de capítulos. O problema é que agora em “proporções” maiores, a narrativa não conseguiu dar conta de tantos personagens.

[button-red url=”#” target=”_self” position=””]Aviso de SPOILERS[/button-red]

Os comentários a seguir falam sobre acontecimentos narrados na terceira temporada de Cobra Kai.

Na 3ª temporada acompanhamos o desenrolar dos fatos da briga entre o dojo Cobra Kai e os alunos de Daniel LaRusso, só que neste instante os discípulos de Johnny Lawrence sofreram um racha e uma parte está sob o comando de John Kreese. O problema da narrativa começa justamente por causa de Kreese, já que a série agora tem um novo “vilão”. Na tentativa de manter algo similar ao visto nos episódios anteriores, o seriado aposta no passado de John para assim, ao vermos o seu ponto de vista, entendermos suas motivações para ter se tornado quem é.

Infelizmente isso não funciona, principalmente graças à “canastrice” de Martin Kove, mas também a uma história bem irregular que não consegue apresentar um personagem verossímil e interessante. É um erro tentar repetir a mesma dinâmica existente entre Daniel e Johnny, assim Kreese continua sendo um vilão caricato e suas atitudes no presente provam isso.

Seguindo com os problemas em torno dos personagens, um bom exemplo é Tory Nichols. A jovem tem um ensaio de um arco narrativo interessante envolvendo seus problemas familiares, mas com pouco tempo em tela não sobre espaço para um mínimo desenvolvimento, então seu potencial é desperdiçado na superficialidade. Algo similar acontece com Samantha LaRusso, a diferença é que ela até aparece na história, mas o seu trauma em relação à temporada anterior é usado de maneira banal e pouco aprofundada.

Para compensar, Cobra Kai investe mais na nostalgia e traz de volta outros personagens dos filmes Karate Kid. Um dos destaques é a passagem de Daniel LaRusso por Okinawa, onde encontra com pessoas do seu passado como o ex-interesse romântico Kumiko e o ex-inimigo Chozen. Esse arco é com certeza um dos pontos altos da temporada e funciona muito bem para fechar esse ciclo de LaRusso com seu passado, além de proporcionar ao espectador um ótimo passeio pelo interior do Japão.

Outra volta nostálgica importante é a presença de Ali Mills, interpretada por Elisabeth Shue. O episódio onde ela se reencontra com Johnny talvez seja o melhor da temporada. A química entre os atores é muito boa e a personagem também contribui para que Lawrence continue sua jornada para encontrar paz com o seu passado. Ela também serve para mostrá-lo o quanto ele tem em comum com LaRusso.

Dito isso, é preciso afirmar que não existiria Cobra Kai se não fosse William Zabka. Ele é a alma do seriado e todos os momentos em que ele está em cena são sempre os melhores. É interessante acompanhar a sua jornada enquanto tenta se adaptar aos tempos atuais, como se estivesse sempre preso no passado. Com todos os seus problemas ele se torna o personagem mais verossímil e humano do programa.

Outro destaque em relação a Johnny é a sua relação com Miguel Diaz. A reaproximação deles é emocionante e divertida, por mais absurda que ela seja. A cena em que eles vão no show do Twisted Sister é uma ótima maneira de fazer a conexão do mundo dos anos 1980 de Lawrence com o presente de Diaz, tornando-se a chave para a recuperação do jovem.

Falando em Miguel, é preciso citar o racha no dojo Cobra Kai. Novos integrantes se juntam ao grupo de Kreese, enquanto Johnny tenta criar uma nova escola de caratê. Enquanto isso, Daniel faz o mesmo ao reunir novamente os seus alunos, assim ficamos com 3 grupos. É uma forma de criar uma nova dinâmica para a série, mas que infelizmente não é bem desenvolvida. Isso fica claro no último episódio, onde o programa repete a fórmula da temporada anterior ao investir em uma grande cena de luta, só que dessa vez ela não faz muito sentido dentro da narrativa. Mesmo sendo bem coreografado, o momento expressa mais uma falta de criatividade do que um elemento importante para o desenrolar da trama. Principalmente graças ao seu desfecho, onde o conflito entre os ex-amigos chega ao fim de maneira abrupta e sem muita coerência.

Para finalizar, talvez o maior erro da temporada esteja na figura de Robby Keene. Sem dúvidas ele é um dos personagens principais mais “perdidos” na narrativa. Já que a trama resolveu dividir a história em 3 “núcleos”, onde em cada um temos uma figura paterna e um aprendiz, então Keene se junta a Kreese para o gancho da próxima temporada. Isso é construído de maneira preguiçosa e sem sentido, refletindo o que já foi dito sobre como Cobra Kai não sabe o que fazer com seus personagens. A relação entre pais e filhos é um dos temas do programa, mas agora talvez tenham ido longe demais na intenção de criar novos conflitos para os futuros episódios.

Mesmo com problemas, o saldo da 3ª temporada de Cobra Kai é positivo. Sem dúvidas personagens como Johnny e Daniel tem carisma suficiente para atrair a atenção do público. Contudo, fica o sinal de alerta de que a fórmula da série demonstra sinais de desgaste. Talvez quase tudo em torno da nostalgia já tenha sido explorado e o conflito entre os protagonistas ganha um novo vilão, que é extremamente caricato, fazendo com que a dinâmica da série perca um de seus principais atrativos que era justamente a mudança do ponto de vista, onde um herói pode ser um vilão, e vice-versa. Vamos torcer para que na próxima (ou próximas) temporadas os criadores encontrem um rumo mais interessante e assertivo para o programa.



Cobra Kai – 3ª Temporada

Criado por: Josh Heald, Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg
Emissora: Netflix
Elenco: Ralph Macchio, William Zabka, Courtney Henggeler, Xolo Maridueña, Tanner Buchanan, Mary Mouser, Jacob Bertrand, Gianni DeCenzo, Martin Kove, Vanessa Rubio e Peyton List
Ano: 2021

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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