Crítica | Vice (2018)
*Bianca Nascimento foi “vice-colaboradora” desse texto
O diretor Adam McKay acerta novamente em Vice ao utilizar uma linguagem mais pop e dinâmica para contar uma história séria, com grande chances de repetir o sucesso de A Grande Aposta. Desta vez, o tema abordado é um pouco menos complexo, mas não menos desafiador. O filme narra a história de Dick Cheney, político norte-americano do partido Republicano que ocupou o cargo de vice-presidente dos Estados Unidos durante o governo de George Bush, de janeiro de 2001 a janeiro de 2009.
Ao desnudar parte desse período da história política norte-americana, o cineasta imprime com criatividade e ousadia o seu ponto de vista sobre os fatos. É evidente que sua obra-cinematográfica é praticamente um manifesto político, mas a maneira escolhida por ele para narrar a história da vida de Dick Cheney faz com que a trama não pareça panfletária. Ao misturar drama e comédia, McKay encontrou novamente o tom perfeito.
A propósito, a jornada de Dick Cheney é fascinante! Afinal, o que fez um homem ordinário, medíocre e sem ambição conseguir se transformar em um político tão poderoso? Vice responde esses questionamentos de forma criativa, divertida e interessante. Nesse ponto, a decisão de Adam McKay – que também é roteirista do filme, em transformar Cheney em uma figura humana, e não simplesmente um “monstro”, foi muito sábia.
Com a “humanização” de uma figura política tão controversa, o diretor consegue mostrar ao público o quanto da ascensão de um homem comum ao poder é reflexo dos valores exaltados pela própria sociedade americana, bem como resultado do sistema capitalista e político dos EUA que são cultivados atualmente no mundo todo. Afinal de contas, se os Estados Unidos é a nação mais poderosa do planeta, uma pessoa má intencionada no poder desse país é capaz de causar grandes danos.
Grande aposta em Christian Bale
Outro elemento importante da cinebiografia de Dick Cheney é a atuação de Christian Bale. O ator já tinha trabalhado com McKay em A Grande Aposta, porém, em Vice, ele assume a responsabilidade do protagonismo com louvor. Mais uma vez, Bale se entrega totalmente ao papel em uma grande transformação, principalmente física. Ele foge do caricato, entregando uma performance fantástica na qual evidencia os maneirismos, principalmente da voz de Cheney, de maneira natural e impressionante.
O restante do elenco também está magnífico, com destaques para Steve Carell – que faz o empresário e político Donald Rumsfeld – e Sam Rockwell, como o presidente George Bush. Quem rouba a cena de Bale é Amy Adams, que mesmo com pouco tempo em tela, consegue apresentar a importância de Lynne – esposa de Cheney – na vida de Dick. Sem ela, ele não seria nada além de um cidadão americano médio sem ambições.
Narrador
Para contar a história de Cheney, curiosamente, McKay utiliza um narrador, interpretado por Jesse Plemons, que inicialmente parece desnecessário, mas que no final das contas se mostra como um recurso narrativo essencial para a mensagem que o cineasta quer passar com o filme. Qual seria a conexão dele com o protagonista? A resposta é entregue ao espectador de maneira brilhante na conclusão do último ato.
Montagem dinâmica
Além de um roteiro de qualidade e um elenco incrível, Vice também impressiona em sua parte técnica. É na montagem de Hank Corwin que o longa concretiza toda a sua ousadia e criatividade, ao alternar entre o uso de cenas reais, flashbacks e muitos cortes rápidos para deixar a narrativa bastante dinâmica, com o ritmo ágil e agradável.
Os movimentos de câmera também deixam claro a urgência dos fatos apresentados, sabendo o momento certo para dar um close no rosto dos personagens, as quais evidenciam suas reais intenções. A fotografia de Greig Fraser é fundamental para em pequenos momentos apresentar elementos importantes para a definição dos personagens. Dois exemplos precisam ser citados: a cena em que Cheney entra no salão oval da Casa Branca com as luzes apagadas, então no meio das sombras o vemos e de forma visual fica clara a forma como ele chegou até ali; e outro momento, logo no início da carreira política de Dick, onde ele aparece dentro de uma sala bem pequena de escritório. É possível ver que seu poder ainda é pequeno, reflexo do tamanho do local.
A trilha sonora de Nicholas Britell também é interessante por misturar tons grandiosos, reflexos de como o personagem aos poucos ganha poder e importância, com temas mais intimistas e emocionais, retratando o lado humano do protagonista.
Humor ácido
Vice é um filme necessário para os dias atuais, já que os feitos realizados por Dick Cheney durante sua carreira política, principalmente, durante o governo Bush, ainda são sentidos hoje na fracassada luta dos EUA contra o terrorismo. É importante ver um cineasta como Adam McKay apresentar corajosamente o seu olhar sobre a história, utilizando humor ácido e muita ironia, para mostrar sua crítica a respeito do tema. O longa consegue ser extremamente divertido e sério, ao mesmo tempo, sem que essa escolha comprometa a mensagem.
Uma frase: – Dick Cheney para Bush: “Eu creio… que podemos fazer isso funcionar.” (se referindo ao cargo de vice-presidente)
Uma cena: A conversa entre Dick Cheney e George W. Bush sobre os acordos para que Cheney aceitasse ser vice na campanha de Bush para presidente.
Uma curiosidade: Christian Bale e Dick Cheney nasceram no mesmo dia: 30 de Janeiro. Bale em 1974 e Cheney em 1941.
Vice
Direção: Adam McKay
Roteiro: Adam McKay
Elenco: Christian Bale, Amy Adams, Steve Carell, Sam Rockwell, Tyler Perry, Alison Pill, Lily Rabe e Jesse Plemons
Gênero: Biografia, Comédia, Drama
Ano: 2018
Duração: 113 minutos
Graus de KB: 1²! Sam Rockwell e Kevin Bacon estiveram juntos no muito bom Frost/Nixon (2009); Jesse Plemons e Kevin Bacon estiveram juntos no correto Aliança do Crime (2015)
Gostei muito de “Vice”, da linguagem adotada pelo Adam McKay, do tom irônico, da montagem arrojada. Mas o show mesmo é das atuações de Christian Bale e de Amy Adams. Os personagens que eles interpretam são difíceis e eles os defendem com muita dignidade.
Os 2 são excelentes! E já passou da hora de Amy ganhar um Oscar.
O filme de fato é menos complexo que “A Grande Aposta”, mas aqui se torna um filme um tanto quanto ‘chato’ e ‘monótomo. A direção de Adam até acelera um pouco essa monotonia em alguns momentos e a atuação de Bale é simplesmente sensacional.
Gostei do filme mas 5 Bacons é um exagero hehehe
“Chato e monótono”, realmente o senhor chegou num nível de rabugice e rancor inalcançáveis. Vou guardar esse comentário para ser lido na próxima edição do Varacast e vou fazer um print para que cada vez que você ousar me chamar de “amargo”, eu ter sempre esse super trunfo na manga. 🙂