Crítica | Aquaman

Crítica | Aquaman

Sem uma gota de dúvida, Aquaman é o melhor filme da DC produzido pela Warner desde o início da famigerada Era Snyder. O longa, enfim, se mostra leal às histórias produzidas pela editora e há muito tempo cobradas por todos os fãs de super-heróis. Nas mãos de James Wan, o herói atlante, criado por Paul Norris e Mort Weisinger na década de 40, é apresentado ao público do século XXI em um competente longa de origem, que mantém elementos originais do personagem e mais característicos da DC, sem deixar de revitalizá-lo com uma oportuna nova roupagem.

Escrito por Will Beall e David Leslie Johnson, o roteiro bem amarrado do filme proporciona fluidez à narração dos fatos na apresentação da aventura do herói e dos respectivos personagens coadjuvantes de sua história. A trilha sonora de Rupert Gregson-Willian traz a presença dos tons de terror, rebeldia, descoberta e aventura. Figurino e design de produção são muito bem sucedidos em reproduzir com fidelidade e beleza na telona o clima dos quadrinhos. Além disso, cenas de ação marcadas por efeitos especiais utilizados na medida certa, juntamente a cenários fantasiosos bem elaborados e uma empolgante trilha sonora, criam um clima de tensão e diversão entre os personagens que contagia o público.

Aquaman garante ao público um novo olhar sobre o encontro dos pais do herói, desde seu nascimento até a fase adulta. Com um conjunto técnico exitoso, a película mostra que veio para se estabelecer como um importante pontapé inicial no novo caminho traçado pelo estúdio.

Jornada aquática

Inicialmente, o herói reluta em aceitar sua herança atlante e parece ser movido apenas pelo desejo de proteger a superfície. Já no fim da aventura, no entanto, depois de entusiasmantes cenas de conflito, reuniões familiares e singelos momentos de romance, nota-se que a motivação de Arthur muda. Ele, então, busca fazer a coisa certa, não apenas pela sensação de dever para com seu sangue real, e sim por buscar proteger todos aqueles que ama, tanto na superfície, quanto nos oceanos. Mesmo sentimento conduz a jornada da princesa Diana, a Mulher Maravilha, guardada as devidas proporções. É o que expõe o lado humano desses dois heróis da DC.

À medida que o filme avança, Aquaman (Jason Momoa) e Mera (Amber Heard) partem em busca de uma maneira de evitar uma guerra de proporções mundiais – desejada pelo Rei Orm (Patrick Wilson), meio-irmão do herói, e vilão da trama – que busca levantar todos os reinos do mundo submarino da Atlântida contra o mundo da superfície. E, para o sucesso dessa jornada de ação e aventura foi fundamental a adoção de um tom mais jovial no tratamento da história e dos personagens, mérito da direção e do trabalho realizado por atores e atrizes.

Vilania das profundezas

Vale ressaltar o ótimo trabalho de Patrick Wilson e Yahya Abdul-Matten II, que dão vida a inimigos clássicos do herói nos quadrinhos, respectivamente, o Mestre dos Oceanos e o Arraia Negra. O vilanesco e conflituoso meio-irmão do Aquaman apresentado por Wilson é um personagem determinado e com objetivos claros – responsável por fazer a trama se desenrolar. A interpretação do ator confere um importante carisma ao vilão, o que também contribui para a fluidez e o ritmo à película. O personagem Mestre dos Oceanos fica no limite certo do exagero necessário para um personagem oriundo dos quadrinhos. Ele consegue ser cativante e convincente, favorecendo sequências de conspiração e conflito bem desenvolvidas.

O Arraia Negra também não faz feio. O vilão, embora não seja o principal da trama, é o arqui-inimigo mais clássico e icônico de Aquaman. Tanto a direção quanto o trabalho do ator tornaram o personagem – habilidoso no uso da tecnologia, experiente em combates e determinado em vingar a morte de seu pai – um adversário à altura do poderoso e viril herói personificado por Momoa. O excelente trabalho do também ótimo ator Yahya Abdul-Matten II confere credibilidade visceral às motivações vingativas do personagem, pavimentando o caminho para uma rivalidade que promete se desenvolver cada vez mais em outras sequências.

Como uma onda no mar…

“A vida vem em ondas” e “nada do que foi será do jeito que já foi um dia”, já cantava Lulu Santos. E o tsunami que atravessou o filme de Aquaman, engolindo Momoa, surgiu do encontro do herói com a força, o poder e a determinação da interpretação de Amber Heard na pele de Mera. Em meio a disputa atlante pelo trono e pela busca empolgante de caminhos para proteger os que precisam, a personagem faz mais do que guiar o herói em sua jornada.

Mera protagoniza incríveis cenas de luta e ação, assim como Nicole Kidman – que vive o papel da Rainha Atlanna. As duas trouxeram e deram para as personagens femininas uma tempestade marítima de girl power à altura da capacidade e da importância de suas personagens para a história e o universo dos quadrinhos. James Wan, a exemplo do cuidadoso trabalho da diretora Patty Jenkins em Mulher Maravilha, também evita que as personagens sejam objetificadas pela narrativa e sexualizadas por figurinos esdrúxulos.

O canto ogro do sereio

Por fim, mas não menos importante, a interpretação feita por Jason Momoa como Aquaman não rendeu apenas suspiros. O trabalho de atuação materializou a nova imagem do herói, preservando o estilo bad boy que levou o diretor Zack Snyder a escalar o ator originalmente para viver o Aquaman imaginado por ele em A Liga da Justiça. Momoa conseguiu, de forma bastante equilibrada, apresentar um Aquaman jovial e de espírito aventureiro, sem perder a selvageria dos sete mares que Snyder parecia querer conferir ao herói.

Aquaman fisgou os fãs da DC do jeito que eles esperavam e precisavam. Um filme que retrata uma antiga e conhecida história de maneira leve, com sequências marcadas por um tom equilibrado e cenas descontraídas, e ainda piadas que fazem referências à cultura pop, de Game of Thrones, Star Wars até Indiana Jones. As grandes expectativas e incertezas em torno do filme foram atendidas e superadas, aparentemente, desatando finalmente o nó górdio com o qual a Era Snyder havia atado a DC no cinema até então.


Uma frase: “Não devemos julgar um lugar sem antes conhecê-lo”.

Uma cena: Quando o herói aparece no meio da batalha entre os atlantes montado na enorme e lendária criatura com seu uniforme.

Uma curiosidade: Rupert Gregson-Willian é o mesmo produtor musical de Mulher Maraviha.


Aquaman

Direção: James Wan
Roteiro:
David Leslie Johnson-McGoldrick e Will Beall; história de Geoff Johns, James Wan e Will Beall
Elenco: Jason Momoa, Amber Heard, Willem Dafoe, Patrick Wilson, Dolph Lundgren, Yahya Abdul-Mateen II e Nicole Kidman
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Ano: 2018
Duração: 143 minutos

Pérola Lordello

Sou a jovem e empoderada mascote desse site maravilhoso. Moro em Salvador e sou uma estudante bem nerd, amante de tudo relacionado à cultura Geek que há nesse mundão. Também tenho mais duas paixões eternas (além da melhor e mais forte e maravilhosa heroína de todos os tempos): o futebol e os dinossauros.

9 comentários sobre “Crítica | Aquaman

  1. Texto muito bom, só não concordo com a nota que deveria ser 1. HAHAHAHA!!!! (brincadeira? talvez)

    Parabéns, espero que em breve (e se não atrapalhar seus estudos) você possa escrever mais por aqui, ta faltando um ar jovial e fiquei sabendo que você gosta de animes (eu sou totalmente a favor que apareçam mais textos sobre o tema).
    Pense sobre isso.

    Abraços

  2. Gostei muito do texto! Manda ver em mais críticas! Tem talento demais!
    Pra mim, uma das melhores cenas do filme é uma que parece pintura de tão esteticamente perfeita. É a cena em que Arthur e Mera saltam do barco no fosso cercado de criaturas selvagens. Achei incrível!
    Os figurinos desse filme também são sensacionais!

  3. Crítica profunda o suficiente sem revelar muito do filme além do que o espectador conhece pelos trailers e teasers, conhecimento técnico fenomenal, texto envolvente e empolgante e, não menos importante, grande conhecimento da editora e do personagem.
    Esperando as próximas críticas dessa promissora escritora

    P.S: Citou ‘Didi’, que orgulho!

  4. Eu gostei bastante do filme, sem dúvidas é o longa mais ambicioso dessa nova fase da DC no cinema.
    Tenho problemas com o Aquaman “zoeiro”, uma cenas emocionais/bregas da narrativa (por que fazer cenas com o sol de fundo usando efeitos visuais?) e diálogos expositivos.
    Acho que a Mulher Maravilha funciona melhor em apresentar uma heroína de verdade, no entanto tecnicamente Aquaman é bem melhor.
    As cenas de ação são sensacionais, principalmente aquela na Itália.

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