Crítica | Pantera Negra (Black Panther – 2018)

Crítica | Pantera Negra (Black Panther – 2018)

“Em tempos de crise o homem sábio constrói pontes enquanto tolos criam barreiras”

Pantera Negra é o décimo quarto filme da Marvel Studios, o primeiro mainstream com elenco quase todo negro da história do cinema. Elenco negro, diretor negro, escritores negros, atitude negra, evidenciando uma África (ficcional) que não é vítima do colonialismo branco e com mulheres negras por todos os lados, sem serem sexualizadas e assumindo um papel que já é comum dentro da sociedade: protagonismo.

O filme foi anunciado em 2014 e estava previsto para ser lançado em 2017, mas após alguns ajustes do MCU foi decidido que passaria a ser exibido em 2018. O filme conta com um grande elenco (talvez o melhor elenco que a Marvel já teve) e um diretor que já é conhecido por filmes como Fruitvale Station e Creed (ambos com a parceria do diretor Ryan Coogler e o ator Michael B. Jordan).

A principal questão dentro de Pantera Negra vem a ser o retorno do príncipe T’Challa para tomar posse como Rei de Wakanda e decidir como governar a nação mais avançada da Terra após a morte de seu pai, como em um dos eventos mostrados em Guerra Civil.

Com isso ele precisa resolver dois problemas: Capturar o único estrangeiro que sabe a localização de Wakanda – e responsável pelo tráfico de Vibranium – Ulysses Klaue (também acusado pelo assassinato de nobres wakandanos). E ainda tem o segundo obstáculo: Um primo que chega pra causar e mostrar que a família real tem podres que não podem permanecer escondidos (eles não aparecem só no Natal).

Legado e Representatividade

Apesar da história centralizar no contexto da origem e apresentação desse novo universo, Pantera Negra não deixa de fazer o que é esperado desde o início: discutir as questões sociais envolvendo Etnocentrismo.

O longa veio nos apresentar características que tem muito mais a ver com a raça negra em geral e não especificamente com o afro americano. Isso quer dizer que o filme vem nos apresentar uma Wakanda como terra generalista de todos os negros que são filhos de África e não sabem com certeza de onde é a sua origem, por exemplo.

Temas como ancestralidade e legado estão muito mais em evidência do que outros problemas sociais ocidentais. Em outras palavras: Pantera Negra não vai falar sobre violência policial, marginalizados e nem sobre o megalomaníaco presidente americano (não explicitamente) e isso pra mim é um acerto. Explorar um caminho que trata mais da força e riqueza do povo negro, da força da mulher que está lutando para se afirmar e ser representante da revolução igualitária, que o feminismo negro está buscando, é uma atitude nobre.

A mulher negra é responsável pela continuidade da memória desse povo, contando nossas histórias, educando e mantendo até a tradição religiosa desde os ancestrais até os dias de hoje.

 Em algumas cenas é perceptível o quanto o companheirismo entre casais é evidenciado e nisso assistimos homens que abaixam suas cabeças por respeito e não por submissão – sabemos que existe um alto índice de violência contra a mulher negra e muito disso é pela falta de respeito dos homens para suas companheiras – assim como vemos mulheres em posições de poder e representando a experiência através da idade.

Wakanda para sempre!

Temas como a abertura de fronteiras e a questão armamentista são abordados de maneira sutil. A noção de que o negro deve ajudar seu irmão de cor é  a principal motivação de alguns personagens, mas ao mesmo tempo é questionado se a maneira correta de buscar a revolução é se tornando cada vez mais fechado para o mundo ou fazendo limpeza étnica, assuntos como estes que estão sendo debatidos há quase uma década.

Durante essas conversas ouvimos algumas falas que remetem às discussões de King, Malcolm X, James Baldwin e Huey Newton em vários momentos da história afro americana em que buscavam, acima dos ideais de como o negro deverá se fortalecer, a conscientização e postura de que o negro precisa ocupar o lugar que merece e pensar suas questões.

Não é um filme sobre negros feito para que o “homem branco” se sinta culpado pelos males que duram até hoje – essa crítica infelizmente é a única forma que é valorizada para um filme negro estar constantemente na lista de indicados ao Oscar – por isso também acredito que Pantera Negra é o primeiro passo para uma constante mudança conjunta aos esforços de muitos artistas sem notoriedade por serem das minorias.

A representatividade é importante, ela não deve escolher quem merece ser incluso e sim agregar para fortalecer, é também fazer parte do legado. Ainda por cima Pantera Negra confirma que os melhores filmes de heróis são os filmes solo e é possível sim estar consciente da luta, fazer parte dela e ainda assim se divertir.

Pantera Negra busca engajamento social ao mesmo tempo que diverte a platéia com cores, disputas, músicas e poucas piadas. Com um problema ou outro como a inútil participação do Agente Ross (o agente da CIA surge numa cena ao estilo de Cassino Royale) que assume uma função proporcional a do Negro Mágico.

A superprodução tem um tom sério sem ser sombrio (chupa DC) e deixou uma pegada enorme na história de Hollywood, quem for inteligente vai seguir esse rastro.


Uma frase: “Em tempos de crise o homem sábio constrói pontes enquanto tolos criam barreiras”.

Uma cena: A cena em que Shuri apresenta o novo uniforme para T’Challa.

Uma curiosidade: O filme adaptou novas personalidades e tramas para muitos personagens não terem conflitos que gerassem problemas raciais, como o nome original de M’Baku e as relações de alguns personagens para o universo cinemático.

 


Pantera Negra (Black Panther) 

Direção:  Ryan Coogler
Roteiro:  Ryan CooglerJoe Robert Cole 
ElencoChadwick BosemanMichael B. JordanLupita Nyong’oDanai GuriraMartin FreemanDaniel KaluuyaLetitia WrightWinston DukeSterling K. BrownAngela BassettForest WhitakerAndy SerkisFlorence KasumbaJohn Kani
Gênero: Ação, Aventura, Sci-Fi
Ano: 2018
Duração: 134 minutos

 


Junio Queiroz

Sou bonito, sou gostoso, jogo bola e danço. Psicólogo humanista. As vezes edito algum podcast da casa.

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