Review | Big Little Lies – 1ª Temporada
Big Little Lies: um compêndio televisivo sobre sororidade
A conquista de cinco prêmios Emmy em 2017 e mais quatro estatuetas do Globo de Ouro em 2018 consagraram a minissérie Big Little Lies, da HBO, como uma das mais bem sucedidas e corajosas produções dos últimos tempos, para televisão, a abordar questões e pautas emergentes da sociedade atual. Um deles, senão o principal, é a sororidade — palavra cujo questionamento sobre o seu significado aparece entre os cinco temas mais buscados no site do Google em 2017. O drama estrelado por Reese Whitherspoon, Nicole Kidman, Shailene Woodley, Zoë Kravitz e Laura Dern traduz e define esse sentimento de empatia, solidariedade e apoio mútuo entre mulheres, com maestria, sensibilidade e qualidade técnica.
A minissérie é dirigida por Jean-Marc Vallée e foi criada e escrita por David E. Kelleyse, baseada no livro homônimo da autora australiana Liane Moriarty, que já vendeu mais de seis milhões de exemplares no mundo todo. A produção conta ainda com a parceria entre as talentosas atrizes Reese Whitherspoon e Nicole Kidman, as quais também dão vida às personagens Madeline e Celeste na trama ambientada na cidade de Monterrey, na Califórnia (EUA). A história narra a vida de mães com vidas aparentemente perfeitas que se aproximam, inicialmente, em razão do início das atividades escolares de seus filhos. Uma acusação de bullying e um assassinato são o fio condutor dos setes episódios.
Durante os primeiros minutos da minissérie, é possível ser tomado pela sensação de estar assistindo a uma espécie de Desperate Housewives, principalmente, porque a trama de Big Little Lies também é centrada em mulheres de classe média alta. Com o passar do tempo, a narrativa surpreende ao aprofundar com muito primor o arco de cada personagem, fator que favorece a identificação com o público. Madeline, Celeste e Jane são mulheres com traços de personalidade muito diferentes entre si, que ao longo da trama compartilham suas experiências de vida e seus conflitos internos. Ao dividir seus problemas, elas somam. São mulheres fortes e independentes que têm consciência da importância de estarem unidas para enfrentarem juntas o cotidiano julgador e violento de uma sociedade machista.
Juntas, as protagonistas não enfrentam apenas questões relacionadas à maternidade e à educação de seus filhos. Elas também se deparam com problemas em seus relacionamentos afetivos e ainda com a gravidade dos traumas impostos pela violência doméstica e pelo estupro. O que predominantemente vemos na minissérie é um retrato do cotidiano de milhões de mulheres de classe média que aparentam uma vida feliz, com uma família de comercial de margarina — cujos dramas da realidade são encobertos por uma fachada de belas casas e sorrisos falsos. A exceção é Jane, curiosamente, a novata na cidade, mãe solo que já no primeiro dia de aula se vê às voltas com a denúncia de que seu filho agrediu uma colega do jardim de infância.
No final da trama e com a revelação sobre o crime que abalou a cidade, as personagens femininas ganham ainda mais protagonismo. O desfecho é carregado de simbolismos sobre a importância da sororidade para o mundo atual, no qual mulheres já são suficientemente violadas e julgadas por homens todos os dias. Nesse contexto, é bom lembrar, rivalidade e inveja não são características essencialmente femininas, como o senso comum costuma impor. É aí que a minissérie ganha ainda mais pontos ao nos tirar da nossa zona de conforto para nos fazer refletir sobre como somos ensinadas pela sociedade machista a rivalizar com as atuais de nossos ex-companheiros; sobre como somos incentivadas desde cedo a invejar e a odiar a vida, o relacionamento e o corpo de outras mulheres.
Time’s Up
Enfim, temos um grande produto narrativo de catarse televisiva, que chegou bem no ano de lançamento da plataforma de streaming da HBO — com a expectativa de ampliar ainda mais sua base de assinantes no mundo todo. Com Big Little Lies — que ganhará uma segunda temporada, a televisão americana suplanta estereótipos e arquétipos femininos que há muito já deveriam ter sido banidos por roteiristas e produtores, para elevar o nível das próximas séries da categoria. Tudo isso num momento decisivo e bastante favorável, justamente durante a onda de protestos protagonizados por atrizes de Hollywood contra o assédio sexual e a desigualdade de gênero na indústria do entretenimento.
Criado pelas atrizes Natalie Portman e Meryl Streep, dentre outras, esse movimento que ganhou o noticiário em 2017 é chamado de Time’s Up — uma síntese concreta do significado da sororidade. A iniciativa é um fundo de defesa legal que já arrecadou milhões para subsidiar o apoio legal a mulheres e homens que foram sexualmente assediados, agredidos ou abusados em seu local de trabalho. Mais de 300 atrizes, roteiristas, diretoras, agentes e outras executivas da indústria do entretenimento fazem parte da campanha para enfrentar o assédio sexual generalizado em Hollywood.
Big Little Lies
Criado por: David E. Kelley
Emissora: HBO
Elenco: Reese Witherspoon, Nicole Kidman, Shailene Woodley, Alexander Skarsgård, Adam Scott, Zoë Kravitz, James Tupper, Jeffrey Nordling e Laura Dern
Ano: 2017
Infelizmente, não tenho HBO, então perdi essa série, mas espero que ela passe em outro formato, tipo Netflix, pois gosto da temática e, principalmente, do elenco de “Big Little Lies”.
Faz a assinatura da HBO GO, eles dão 30 dias de graça e não precisa ter tv por assinatura. Nesse tempo dá pra assistir, são 7 episódios.