Crítica | Manchester à Beira-Mar (Manchester by the Sea)
É possível se recuperar de um trauma? Como lidar com o sentimento de culpa? Essas são apenas algumas das questões levantadas pelo filme Manchester à Beira-Mar.
Lee, interpretado por Casey Affleck, segue uma vida comum como porteiro de um prédio. Ele passa o dia consertando coisas para os moradores. Uma rotina simples, essa foi a forma que ele escolheu para seguir a vida. Mas, o personagem terá que enfrentar novamente o passado ao retornar para sua cidade natal (do título do filme) por causa da morte do irmão.
O comportamento do personagem deixa claro que ele ainda não conseguiu superar algum trauma. Seu jeito meio calado e pacato muda de repente para algo explosivo e violento. De onde vem essa raiva?
O roteiro escrito por Kenneth Lonergan, que também dirige o filme, constrói o personagem aos poucos. Utilizando flashbacks a história mostra o passado de Lee, alternando com momentos do presente, em montagem muito bem realizada. A diferença da fisionomia do protagonista é visível. E a fotografia diferencia o momento atual do passado com a utilização de cores. O passado com cores mais quentes e alegres, enquanto o presente é mais melancólico e cores frias.
O filme poderia se tornar facilmente um grande dramalhão cheio de clichês, mas o roteiro constrói algo natural. Equilibra o drama quando foca no lado humano, com leves toques de bom humor. A chave para isso funcionar é o elenco, com destaque para o incrível trabalho de Casey Affleck.
Lee torna-se o responsável legal do sobrinho após a morte do irmão. O jovem absorve a perda de forma tranquila, ao contrário do tio. A última coisa que Lee deseja é ser pai. Entretanto, os dois têm um relacionamento afetuoso e conseguem superar os conflitos, muito embora o momento seja complicado para ambos. A dinâmica entre Lee e seu sobrinho Patrick (Lucas Hedges) é o elemento principal do filme.
Manchester à Beira-Mar é basicamente um filme sobre humanidade e perdas. Mesmo que saibamos que a vida nos reserva surpresas, é impossível estarmos prontos para enfrentar o luto. O mais importante é compreender que cada um de nós lida com a morte de formas diferentes. Muitas vezes conseguimos seguir em frente ainda que continuemos convivendo com a dor.
Volto à questão inicial deste texto: é possível se recuperar de um trauma?
Nem sempre. Mas a vida tem que continuar.
* Texto revisado por Elaine Andrade
Uma frase: – Lee Chandler: “Eu não consigo superar. Eu não consigo superar. Me desculpe.”
Uma cena: O encontro na rua entre Lee Chandler e Randi Chandler.Uma curiosidade: A cidade foi chamada Manchester até 1989, quando o residente Edward Corley conduziu uma campanha altamente controversa para mudar formalmente seu nome para Manchester by the Sea. A ação foi aprovada pela legislatura estadual naquele ano..
Manchester à Beira-Mar (Manchester by the Sea)
Direção: Kenneth Lonergan
Roteiro: Kenneth Lonergan
Elenco: Casey Affleck, Lucas Hedges, Kyle Chandler, Michelle Williams, Susan Pourfar, Gretchen Mol, Tom Kemp, C.J. Wilson, Stephen Henderson, Tate Donovan, Kara Hayward e Matthew Broderick
Gênero: Drama
Ano: 2016
Duração: 137 minutos
acho que já passou da hora do casey affleck levar um um Oscar, hein?
Ator muito acima da média.
pretendo assistir neste final de semana. belo texto ramon e importantes reflexões.
A atuação dele é fantástica, mas não sei se ele vai conseguir vencer o “hype” de La La Land.
Esse eu consegui assistir antes de você, que tá frenético em 2017. kkk
Cara, uma das melhores críticas suas. Sério.
Acho que captou muito bem o que é o filme tanto tecnicamente quanto “emocionalmente”. Achei fantástico também e realmente, cada um lida de um jeito com traumas e perdas.
hihihihihi…
Obrigado pelo elogio.