Review | The Flash 2×02: Flash of two Worlds
O segundo episódio da segunda temporada de The Flash segue preparando a audiência para um mergulho profundo no Multiverso, sem deixar de prestar a devida deferência a seus grandes ícones e seus fãs.
O título do episódio já não deixa qualquer dúvida aos desavisados. Estamos lidando com dois mundos paralelos onde dois indivíduos distintos adquiriram a extraordinária capacidade de acessar a misteriosa força da velocidade. Na Terra-1 – assim batizada pelo Dr. Stein (Victor Garber) para deleite dos fãs mais apaixonados – Barry Allen foi o escolhido, enquanto que na Terra-2 esse homem foi Jay Garrick.
Dois Flashs. Um Multiverso.
Jay Garrick, nos quadrinhos, para quem ainda não sabe, foi o primeiro velocista a assumir o nome de Flash. Jay fazia parte da Sociedade da Justiça e atuou na década de 40 durante a chamada Era de Ouro dos super-heróis nos quadrinhos. Na década seguinte Barry Allen foi criado e assumiu como o novo Flash, e logo se tornou o mais famoso de todos. Foi um dos principais personagens da Era de Prata dos quadrinhos e um dos maiores heróis da mitologia da DC Comics, tendo inclusive salvo o Multiverso inteiro durante a famosa Crise nas Infinitas Terras da década de 80. Em 1961 na revista de número 123 do Flash, o Scarlet Speedster Barry Allen encontrou-se pela primeira vez com Jay Garrick o Crimson Comet (perdoem-me colocar os epítetos dos personagens em inglês, mas a tradução tiraria a beleza das aliterações tão característica do mundo dos quadrinhos de super-heróis). A capa dessa revista é homenageada nesse episódio em uma cena que a reproduz com imensa riqueza de detalhes.
Capa de The Flash nº 123, de 1961.
Aliás esse episódio está recheado de enigmas, homenagens, referências e easter eggs que farão qualquer fã mais atento incapaz de segurar o brilho nos olhos e o risinho de satisfação: as 52 brechas dimensionais espalhadas por Central City; a já referida citação direta ao Multiverso e o batismo às Terras-1 e 2; o elmo de Jay Garrick e sua origem na Guerra das Duas Américas; e botânica Woodrue abandonada; e é claro, Patty Spivot (Shantel VanSanten), uma outra personagem dos quadrinhos que deve funcionar como um novo interesse romântico para Barry.
Mas o foco do episódio mesmo é o início da relação entre Barry e Jay. Jay surge como um velocista mais velho e experiente, disposto ensinar o jovem Flash a usar suas habilidades melhor para salvar seu mundo. É evidentemente a mesma situação que envolveu Barry e Harrison Wells. O Flash, assim, seria um completo idiota se simplesmente confiasse nas palavras de um estranho que se diz o Flash de outra dimensão e quer ajudá-lo. Barry terá que superar mais algumas marcas deixadas pelo Flash Reverso para avançar em sua desconfiança recém adquirida.
E a desconfiança de Barry não é ajudada pelo conveniente e peculiar bom-mocismo de Jay Garrick. Mas essa característica funciona muito bem no personagem. Como o Garrick dos quadrinhos é bem mais velho que Barry e mais experiente, ele funciona como uma espécie de mentor e se refere a todo tempo ao segundo Flash como “garoto”; sua postura e atitude também lembram alguém que saiu da década de 40, similar a um Steve Rogers, o que mais uma vez faz justiça ao personagem original. E a solução dele vir de uma terra paralela acaba fazendo com que aceitemos naturalmente seu comportamento aparentemente anacrônico como um potencial traço cultural da Terra-2. Mas logo que as dificuldades iniciais são superadas – com um empurrãozinho da ameaça da semana, claro – Jay Garrick logo diz a que veio, ensinando Barry novos truques e demonstrando heroísmo mesmo sem poderes – pois, por um motivo ainda desconhecido, desde que chegou à Terra-1 o Cometa Escarlate não consegue mais acessar a Força da Velocidade.
Tudo por uma donzela em perigo.
Demônios de Areia da semana…
A série de TV de Flash segue, enfim, conseguindo um sucesso de homenagens, referências e adaptações que dificilmente uma adaptação para o cinema da Warner Bros conseguirá. Sem sombra de dúvida segue sendo uma das melhores adaptações do gênero de super-herói já produzidas. E com uma cara toda própria. Receita de sucesso, sem sombra de dúvida. Mas se há um ponto negativo na série é a sua estrutura de “monstros da semana”. Cabe a pergunta de até quando será possível recorrer a essa estrutura sem que a mesma fique repetitiva e desgastada, e acabe por comprometer toda a série.
Andaria – ou correria – melhor a série se os produtores olhassem para a opção feita por Agentes of Shield, principalmente em sua segunda temporada que, ao optar por uma narrativa serializada e não focada em episódios “enlatados” acabou ajudando a tornar a série da Marvel um dos maiores sucessos do gênero na TV. Na primeira temporada a origem dos meta-humanos era a explosão do acelerador que espalhou matéria negra por Central City. Na segunda temporada os produtores foram mais espertos e decidiram recorrer a uma outra fonte de meta-humanos, a Terra-2. A fórmula do monstro da semana pode, enfim, ser dosada ou reinventada, como se vê, ainda assim, mais cedo ou mais tarde, essa fórmula deve cansar.
Nesse episódio, a exemplo, o inimigo é o Sand Demon (curiosamente um inimigo de Nuclear, o Ronnie Raymond, no original dos quadrinhos) que francamente não funciona como um elemento que inspire qualquer tipo de ameaça, tampouco identificação capaz de gerar interesse pelo público. Ficamos apenas aguardando pelo momento que o Flash irá usar seus poderes para vencê-lo. E convenhamos, por mais que os roteiristas se esforcem em explorar a inexperiência de Barry, não é difícil para o homem mais rápido vivo derrotar um homem de areia. Um vento mais forte resolve o problema. A verdade é que o Flash necessita de vilões a sua altura para que o recurso a um embate com um oponente seja um elemento realmente envolvente da trama.
E já que falamos de vilões que realmente fazem a diferença, não podemos nos esquecer de Zoom. Logo no início Jay conta a Barry como seu maior inimigo, um outro velocista muito mais poderoso – provavelmente o equivalente ao Flash Reverso na Terra-2 – apenas não o matou em seu último duelo pois a singularidade que se abriu em Central City também surgiu em seu mundo, o o sugou para a Terra-1. Segundo ele o misterioso e homicida Zoom tem sido o responsável por trazer meta-humanos da Terra-2 para matar o Flash na Terra-1. É fácil pensar que Zoom possa ser o Harrison Wells do mundo de Jay Garrick, mas não podemos nos esquecer que esse foi apenas um disfarce de Eobard Thawne que, na verdade, veio do futuro distante para destruir Barry. E em se tratando de um mundo paralelo, assim como se deu com o Flash, podemos esperar que a origem de Zoom seja um pouco diferenciada.
Flash vs Zoom (dessa vez sem trapaças de matar o ancestral).
De qualquer forma fique atento para algumas surpresas no fim do episódio, e não se deixe enganar pelas aparências. Nesse ponto é indiscutível que os produtores de Flash são bem sucedidos: eles têm sabido como poucos construir episódio por episódio um excelente ritmo de tensão com revelações bem dosadas, que fazem a diferença no seriado, e ajudam a contrabalancear com bastante sucesso a fórmula desgastada do monstro da semana.
Série: The Flash
Temporada: 2ª
Episódio: 02
Título: Flash of two Worlds
Roteiro: Aaron Helbing e Todd Helbing
Direção: Jesse Warn
Elenco: Grant Gustin, Candice Patton, Jesse L. Martin, Carlos Valdes, Danielle Panabaker, Victor Garber, Teddy Sears, Shantel VanSanten e Tom Cavanagh.
Exibição original: 13 de Outubro de 2015 CW
Acabei de assistir o episódio e gostei!!!! Já quero Jay Garrick como personagem regular pra ontem… sem contar a aparição do Wells no final… Tbm concordo que deveriam mudar essa forma de “monstro da semana”… No mais, acho The Flash espetacular!!!