Crítica | Red: Crescer é uma Fera

Crítica | Red: Crescer é uma Fera

A menstruação feminina infelizmente ainda é um tabu na sociedade, inclusive no Brasil, e podemos perceber isso no título em português da nova animação da Pixar que em inglês se chama “Turning Red” (Ficando Vermelha) e por aqui foi chamada de “Red: Crescer é uma Fera”, preferindo não citar o nome da cor vermelha traduzida do inglês.

O filme de Domee Shi fala justamente sobre o amadurecimento feminino e usa a figura do panda vermelho como metáfora sobre menstruação para simbolizar a transformação pela qual a protagonista Mei passa. A jovem literalmente se transforma em um animal peludo, vermelho e “fedorento”, representando as mudanças que as mulheres passam durante a puberdade, especialmente após a chegada da menstruação.

Além da mudança corporal podemos ver que os hormônios e as confusas mudanças pelas quais a jovem passa ao se deparar com essa transformação, também influencia nas mudanças de comportamento, e aí vem o simbolismo de um animal grande e sem controle. Desde pequenas elas são ensinadas a controlar suas atitudes para não serem taxadas de “loucas” e coisas do tipo, assim Mei precisa manter a calma para não se transformar no panda vermelho. No entanto, não demora para a jovem perceber o quanto essa modificação também tem o lado positivo.

O roteiro de Julia Cho e Domee Shi explora muito bem a questão do amadurecimento e nos apresenta sobre a lenda oriental do panda vermelho, onde todas as mulheres da família de Mei passam pelo mesmo processo de transformação animal quando chegam numa determinada idade, fazendo analogia a chegada da menstruação. O desenvolvimento da relação da protagonista com a família, especialmente a mãe, e com as amigas, é o ponto forte da narrativa. A jornada do amadurecimento é elaborada de maneira bem humorada, divertida e emocionante.

Domee Shi usa elementos da sua história pessoal para ilustrar “Red: Crescer é uma Fera” de maneira bem interessante. A trama se passa no Canadá, local onde ela nasceu e cresceu, no início dos anos 2000, onde o mundo passava também por uma transformação com a popularização da Internet. Além de colocar referências aos costumes orientais, como o fato de Mei e sua mãe cuidarem de um templo que fala da cultura chinesa, a diretora também usa outros elementos pop na parte visual incluindo detalhes inspirados em animes, como a cor dos olhos e luzes fortes na tela.

Isso faz com que essa nova animação da Pixar se diferencie bastante de outros filmes do estúdio, criando um estilo visual único em “Red: Crescer é uma Fera”. Além disso, esse é o primeiro longa-metragem da Pixar realizado sob comando principal de mulheres (direção, roteiro, produção), mostrando como a importância da diversidade e da representatividade feminina geram novos e interessantes pontos de vista narrativos. 


Uma frase: [sua primeira transformação em um panda vermelho] Mei: – “[chorando] Eu sou um monstro vermelho nojento!” 

Uma cena: A primeira transformação de Mei no panda vermelho. 

Uma curiosidade: O apelido da família para Meilin, “mei-mei”, é mandarim para “irmãzinha”. 


Red: Crescer é uma Fera (Turning Red) 

Direção: Domee Shi
Roteiro: Julia Cho e Domee Shi, história de Domee Shi, Julia Cho e Sarah Streicher
Elenco: Rosalie Chiang, Sandra Oh, Ava Morse, Hyein Park, Maitreyi Ramakrishnan, Orion Lee, Wai Ching Ho, Tristan Allerick Chen e James Hong
Gênero: Animação, Aventura, Comédia
Ano: 2022
Duração: 100 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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