Crítica | Logan

Crítica | Logan

“There’s no living with a killing…”

Gostaria de começar informando que essa crítica não contém spoilers. Então, pode ler a vontade. Também adianto a avaliação e anuncio logo que Logan (Logan, 2017) é um filme excelente. Pode assistir sem se preocupar e preparado para suar muito pelos olhos.

Já tendo anunciado o que mais interessa, me sinto a vontade para passar a mais um de meus famigerados textões. Mas não sem me sentir na obrigação de apresentar uma pequena justificativa por fazer um texto ainda maior do que meus textões costumam ser. Como vocês perceberão, Wolverine é um personagem muito importante para mim e o filme de James Mangold, mais do que tocaria qualquer outra pessoa, mexeu comigo de maneira particularmente especial também por conta disso. Mas principalmente por apresentar um filme profundamente relacionado com a essência de seu personagem. Talvez então o mais apropriado seja, inicialmente, falar um pouco desse personagem.

O Wolverine foi criado na década de 70, mas ainda levaria alguns anos para Logan surgir. Quando Len Wein escreveu a primeira história do personagem, ele era apenas um coadjuvante do Hulk. Coube a dois autores principalmente, durante a década de 80, fazer de Wolverine aquilo que ele é hoje.

Barry Windsor-Smith e a Frank Miller estabeleceram as bases daquele que viria a ser Logan, o anti-herói atormentado entre a selvageria e uma estranha disposição de buscar sempre fazer o bem, talvez justamente pela necessidade de se provar mais humano do que a maioria dos que o rodeavam estavam dispostos a aceitar. Logan logo se tornou uma espécie de síntese do super-herói da década de 80, e nesse sentido também uma espécie de projeção do ser humano.

Foi esse personagem que eu conheci quando tinha cerca de 8 anos. Logo Wolverine se tornou um dos meus personagens favoritos. Sua selvageria, sua força de caráter, sua densidade e sua bruta franqueza tão dura e cortante quanto suas garras de adamantium, ouso dizer, influenciaram a formação de boa parte de minha adolescência. Sim, eu sou um fã raiz de Wolverine.

Se havia quem queria ser o Superman quando criança, eu queria ser o Wolverine. Durão, baixinho, bom de briga, mas ainda assim dotado de um peculiar senso de honra e de um coração que sempre o levava a fazer e assumir o fardo da escolha necessária para proteger os inocentes, ainda que isso implicasse em fazer o que é moralmente errado.

Enfim, foram precisos trinta anos para que eu pudesse assistir ao filme de Wolverine que eu sempre sonhei em ver.

Em Logan (Logan, 2017), o diretor James Mangold explora como poucos a linguagem da violência[i] para entregar uma obra que sem dúvida alguma transcende o que poderíamos chamar de gênero de super-heróis no cinema.

Não é que a violência seja um fator que deva ser apreciado fora do contexto. Longe disso. A linguagem da violência faz parte das nossas vidas e delineia um curioso aspecto do ser humano; de forma recorrente nos lembra de uma de nossas mais atávicas dualidades: a separação entre homem e natureza. O Wolverine sempre foi um personagem que como poucos percorreu o fio dessa navalha.

Através dele éramos capazes de ver a selvageria humana exposta de forma catártica e – em uma lúdica conveniência maniqueísta que reconheço como tal, mas que nem por isso me é menos atraente – usada como uma força em favor do “bem”. Esse é o contexto da violência do personagem Logan. Uma violência que, acima de tudo, é uma projeção de um conflito interno do homem consigo mesmo. E como a violência sempre foi um elemento determinante de Wolverine, sempre nos causava uma incômoda estranheza ver a sua versão clean apresentada na telona.

Claro, com um pouco de suspensão de descrença, conhecendo a indústria de Hollywood, nós aceitávamos. Mas ainda assim, não era ainda exatamente aquilo que queríamos, não é? Afinal, Logan usa garras de um metal indestrutível capaz de cortar qualquer coisa. É muito estranho vê-lo em ação sem ver o sangue – dele e dos inimigos – jorrar aos borbotões.

É como se um samurai urbano corresse pela cidade enfrentando vilões usando não apenas uma, mas seis katanas, sem derramar uma gota de sangue sequer. Haja habilidade de Battousai! Imagine assistir a Kill Bill sem uma gota de sangue e amplie esse problema à sexta potência: é mais ou menos isso que um fã raiz de Wolverine como eu sentia ao assistir suas encarnações no cinema.

O tempo passou, super-heróis passaram a fazer muito dinheiro no cinema e, mais recentemente, graças a fenômenos como Deadpool – reconheço esse grande mérito desse filme agora, para o deleite de Márcio Melo -, aos diretores e produtores foi permitido ousar e abandonar a tão famigerada classificação PG-13 – que nos EUA equivale a filmes sem sangue ou violência explícita, algo como nossa censura livre. Enfim, estava criado o cenário ideal para que alguém fizesse o filme de Logan que ele merecia. Bastava apenas aparecer alguém com coragem suficiente para tanto.

E que seja louvado James Mangold.

Mangold já havia dirigido o filme solo prévio de Wolverine. Wolverine: Imortal (sai pra lá Sandyjunior!) não é exatamente um filme ruim, mas também não é um filme bom. No máximo um filme legal, mas que os fãs do mutante mais famoso da Marvel adoraram quando comparado com o desastroso X-Men Origens: Wolverine de 2009, esse último, com certeza, a prova de que o retcon é um remédio amargo, porém às vezes necessário[ii].

Quando se analisa a filmografia de Mangold percebe-se que provavelmente o resultado final de sua primeira incursão no universo mutante foi significativamente prejudicada pela famigerada mão do produtor[iii]. Além do premiado Johnny & June (2005), Mangold dirigiu uma das melhores refilmagens de um clássico de Western: Os Indomáveis (2007) é uma refilmagem de Galante e Sanguinário (1957); e nesse filme ficou claro para mim que o diretor conhecia como poucos a essência de um bom Western e dominava de forma bastante competente a linguagem narrativa da sétima arte.

Enfim, Mangold acreditava em Logan e sabia que poderia fazer melhor. E com a confiança de Hugh Jackman – sem dúvida o grande astro e, assim como seu personagem nos quadrinhos[iv], praticamente onipresente na franquia mutante no cinema – foi capaz de convencer o estúdio a bancar mais um filme do carcaju sob a sua direção.

Não apenas isso, ele conseguiu liberdade criativa – o que significa manter os malditos produtores fora do projeto até depois de assistirem a montagem final -, uma classificação etária R – equivalente a 18 anos – e ainda a honra de contar o que foi anunciado como a aposentadoria de Jackman no papel do mutante. O filme que vemos então é provavelmente exatamente o filme que Mangold visualizou. E sua visão de Wolverine é sem dúvida determinante para o sucesso retumbante do resultado final.

Mangold sabia que a dor e a violência são elementos determinantes da constituição de Logan. Desculpe se me repito demais nesse ponto, mas isso é algo que merece ser repetido. Essa percepção foi fundamental para que o diretor soubesse traduzir Logan através do cinema como poucos.

Assim como Barry Windsor-Smith entendeu que a Arma-X era um homem que lutava desesperadamente contra sua selvageria atávica para ser reconhecido em enquanto homem, e Frank Miller entendeu que Wolverine era um Ronin que buscava na disciplina uma forma de conter sua ferocidade e se adequar ao mundo que o rodeava, Mangold entendeu que Logan era um homem que por toda a sua vida encarou morte de frente, sempre pagando um preço alto em seu corpo e sua alma por isso.

Enfim, o diretor entendeu que a história que ele precisava contar era, antes de mais nada, uma história sobre a decadência e a morte; sobre o envelhecer e a luta para ainda assim se manter vivo; sobre o que significa o enorme fardo de se tirar uma vida, ainda que possa parecer que há uma algo como uma morte justificada.

Por conta disso tudo a grande sacada de Mangold foi perceber que ele não estava fazendo um filme de super-heróis. E graças a isso talvez tenha entregado um dos melhores produtos do “gênero”. Logan, como disse antes, é o filme do Wolverine que sempre sonhei em ver. Selvagem, brutal e intenso e mergulhando sem medo em um personagem atormentado e profundamente marcado pela violência.

Logan, por tudo isso, é na verdade um Western.

A opção pela linguagem de Western talvez tenha sido uma das escolhas mais felizes feitas pelo diretor, e algo que determina o tom de todo o filme. Isso ficou bem evidente desde o primeiro trailer da produção. Um trailer com uma música de Johnny Cash e com uma série de cenas empoeiradas que diziam muito pouco sobre história, mas que enfatizavam o clima de Western. Não por acaso, reunindo dois dos elementos marcantes da carreira de Mangold.

Não é preciso dizer mais que isso com um personagem como Wolverine, claro. As pessoas irão assistir não importa o que se faça. E Mangold, que também desenvolveu a história e é um dos roteiristas, sabe usar isso muito bem a seu favor. Há muito poucos diálogos expositivos[v] e a história engata quase desde o primeiro frame. Não como um filme de ação. Logan até tem bastante ação, mas não é um filme de ação, como já disse, muito menos de ação ininterrupta.

A opção por esse ritmo não deixa de cobrar seu preço. Não chega a comprometer, mas a transição entre o segundo e o terceiro ato se desenvolve de forma um pouco mais lenta do que o resto do filme. Ainda assim o resultado geral é de altíssima qualidade. Além de um ótimo roteiro, com excelentes diálogos, Logan se beneficia de uma fotografia acertada e de uma edição que favorece a clareza das coreografias de luta e acentua o importante aspecto da violência no filme. Tudo isso contribui para a altíssima qualidade da obra.

Não é, porém, um filme sem falhas. Além do ritmo, já mencionado, a opção de recorrer a uma nêmese encarnada que deve ser enfrentada por Logan na forma de uma ameaça física é dispensável. O maior inimigo de Logan, nesse filme, é ele mesmo, e não havia necessidade de se explorar isso da forma que foi feito.

Teria sido melhor recorrer apenas aos vilões como Donald Pierce (interpretado de forma competente e carismática por Boyd Holbrook, de Narcos) e seus Carrascos – famosos antagonistas dos mutantes nos quadrinhos e traduzidos para essa fita de forma muito feliz – que funcionam mais como obstáculos que servem para mover a trama adiante. E é claro, para nos prover ótimas cenas de combate onde vemos o bom e velho “Snikt!” das garras de adamantium serem finalmente honrado como merecia. Mas, como disse, não vá esperando um filme de ação para não se frustrar.

Logan não é sobre ação, mas sim sobre as marcas da violência.

É um filme, sim, profundamente melancólico, duro e belo. Um filme que corta fundo nas pessoas. Corta mais profundamente fãs de Logan, sejam eles raiz ou nutella. Isso porque a narrativa aposta nas relações entre Logan e Xavier, e entre Logan e Laura. Não entrarei aqui em muitos detalhes da história, para evitar spoilers, mas o filme tem muito de road movie; uma jornada através da qual aqueles personagens irão de alguma forma sofrer a dor de se reencontrar e de encontrar uns aos outros.

E nesses momentos é que o filme cresce. Os diálogos entre Xavier e Logan talvez sejam o mais bem escritos e tocantes de toda a franquia mutante. Talvez até sejam os mais bem escritos entre os filmes de super-herói. Patrick Stewart nos lembra o tamanho do ator que ele é, interpretando um Xavier fragilizado e lidando com o seu sensivelmente mais difícil processo de envelhecimento.

Mas sem dúvida o grande destaque do filme é a pequena e selvagem Laura[vi]. A atriz Dafne Keen é sem dúvida alguma um achado. Sua performance é intensa e sua presença em tela lhe permite dividir a cena com os experientes astros sem qualquer constrangimento.  Graças a isso as cenas em que Jackman contracena com ela são ainda melhores do que as cenas nas quais ele e Stewart contracenam.

A dinâmica entre Laura e Logan funciona muito bem na tela que e, inclusive, evoca inúmeros elementos de outra importante referência, o mangá Lobo Solitário de Kazuo Koike e Goseki Kojima. E isso se acomoda perfeitamente com tudo que Logan sempre foi, e com toda a construção de seu personagem ao longo das décadas; da mesma forma como o tom do Western parece ter caído como uma luva para contar a história de Wolverine no cinema.

Logan é inclusive construído a partir de outra famosa obra do gênero de Western: “Os brutos também amam” (Shane, 1953). Em determinado momento Laura e Xavier assistem ao filme juntos, particularmente à famosa cena final que serve como um ótimo foreshadowing para o fim de Logan.

“Não se pode viver com uma morte. Certo ou errado, é uma marca. Uma marca que permanece. Não há retorno”, em determinado momento Shane fala para o pequeno Joey. Ante a recomendação de Xavier acerca da importância do filme, Laura assiste àquilo tudo com olhos atentos – talvez o primeiro filme que ela vê em sua vida -, mas as palavras não parecem fazer muito sentido para ela. É apenas quando Logan explica o mesmo conceito para ela, com suas próprias palavras, que ela parece começar a alcançar uma compreensão que será enfim coroada com um emocionante texto ao fim do filme.

E o que Logan fala para Laura, diz muito sobre o filme, porque diz muito sobre o próprio Logan e sobre a violência que vemos – dessa vez enfim, com as cores fortes que são tão importantes para esse personagem – acompanhar toda a sua vida. Como o próprio Shane explicou pra Joey, Logan explica a Laura a imensidão do fardo que tristemente ela também terá que suportar. Cada morte, cada vida tirada, é uma marca indelével na alma de matador.

“Mas eles eram maus.”, argumenta Laura. Ao que Logan dolorosamente responde “Bom ou mau. Isso não faz a menor diferença”. Uma morte é sempre uma morte. E ao mostrar que reconhece isso, o filme e o próprio Logan ganham toda uma outra dimensão e significado. A violência, qualquer violência, sempre traz dor e um alto custo. E por mais que muitas vezes alguns homens, sedentos de sangue, querem esconder sua selvageria sob uma frágil máscara de civilidade defendendo que em alguns casos o assassinato de um homem “mau” pode ser legítimo, Logan sabe a verdade: uma morte é sempre uma morte, bom ou mau, não há diferença; e não é possível jamais apagar essa marca.


[i] Poucos diretores sabem trabalhar bem a estética da violência. Tarantino talvez seja o mais famoso de nossa geração; Verhoven é outro que me ocorre agora. O triunfo de todos eles é usar a violência como um componente com relevância artística. A todo momento, através da lente desses autores, a violência expressa algo e nunca é gratuita.

[ii] O próprio Deadpool que o diga!

[iii] É sabido que a Fox não tem sido muito competente no desenvolvimento das franquias da Marvel que se encontram em suas mãos. Isso parece ser o resultado de uma estranha combinação de absoluta falta de compreensão do produto que eles têm em mãos com desconhecimento do que a audiência deseja com relação a esses filmes. Qualquer que seja o motivo é indiscutível que sempre que os produtores e executivos da Fox metem o dedo no projeto, ele desanda de vez.

[iv] É uma piada recorrente nos quadrinhos que, dada a quantidade de super-equipes da qual faz parte (Wolverine ao mesmo tempo já integrou os Vingadores, Vingadores Secretos, os X-men e a X-Force), e ainda tendo tempo para aventuras solo em títulos próprios, um dos poderes de Logan seja o dom de se teleportar ou de simplesmente estar em múltiplos lugares ao mesmo tempo.

[v] Inclusive, é bom ficar atento à cena do vilão contando seu plano ao mocinho. A forma como é conduzida e resolvida é bastante emblemática de tudo que o filme representa.

[vi] Observadores atentos e fãs dos quadrinhos já sabem que trata-se da personagem X-23, uma clone de Wolverine, que, recentemente, assumiu o manto de seu “pai” genético.


Uma frase: “There is no living with a killing.”

Uma cena: O vilão tenta contar seu plano maligno.

Uma curiosidade: A empresa que caça Laura no filme é a Alkali, em referência ao Lago Alkali, lugar onde se desenvolveu o projeto Arma-X que transformou James Howlett no Wolverine.

 

 


Logan (Logan)

Direção: James Mangold
Roteiro: James Mangold, Scott Frank e Michael Green.
Elenco: Hugh JackmanPatrick StewartDafne KeenBoyd HolbrookStephen Merchant e Richard E. Grant.
Gênero: Drama, Ação, Western.
Ano: 2017
Duração: 137 minutos.
Graus de KB: 1! Kevin Bacon e Hugh Jackman estiveram juntos em X-Men: Primeira Classe (2011).

 

 



 

Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

13 comentários sobre “Crítica | Logan

  1. Gosto muito do James Mangold, um diretor que consegue transitar bem em diversos gêneros. Assistiria “Logan” única e exclusivamente por causa dele.

    1. E o filme tem mesmo a cara dele. Me lembrou muito 3:10 to Yuma. Pode assistir! Você não vai se arrepender!

      E obrigado por ter lido e comentado. Abraços.

  2. Filme fantástico. Um Western de super-heróis muito humanos. Eu, que não sou muito fã do gênero de supers, achei que Logan passou o Capitão América 2 como meu filme preferido dessa safra.

  3. Ótimo texto, gostei das justificativas para um “textão”.
    Para mim, o maior destaque é o próprio Jackman.
    A relação de Wolverine com Xavier é muito boa, já com a garotinha tem alguns pequenos problemas.
    Um filme realmente muito bom, mas que em mim não bateu “tanta onda” assim e não me emocionou como achei que iria.

    1. Valeu, Ramão. E como a falta de água do Planalto Central lhe afetou, viu! Que secura! Márcio Melo é #amargo. Você é #árido agora.

  4. Cara, não seria possível nessa existência concordar mais contigo do que após ler essa sua carta de amor ao filme.

    Até mesmo as partes que “não curti muito” no filme são as mesmas que você. Nunca fui tão fã do personagem como você nos quadrinhos pois li muito poucos, mas tenho um carinho pelo personagem que vem da época do desenho que passava na tv.

    Não é um filme perfeito e sem falhas, mas é sem dúvidas uma homenagem fabulosa para um ator (sim, ele também merece) e personagem que mereciam (vale repetir) uma homenagem como esta que foi feita em forma de filme.

    Ps: Que bom que reconheceu a grandeza de Deadpool finalmente hehehe.

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