Review | The Leftovers – 2×08: International Assassin
Quando foi a última vez que um seriado conseguiu realmente te impressionar? Quando você percebeu que estava diante de uma série com um algo a mais? Puxando pela memória, cito Twin Peaks, The Wire, Sopranos, Lost e Breaking Bad. Trabalhos importantes e revolucionários que proporcionam entretenimento de qualidade. Após o exuberante International Assassin, creio ser justo adicionar The Leftovers à lista.
A segunda temporada de The Leftovers mostra o empenho de uma equipe que ousou buscar a perfeição. E está conseguindo. A cada semana somos brindados com uma narrativa inteligente, surpresas, mistérios, simbolismos, mitologia e uma abordagem contundente sobre temas relevantes para o ser humano como o medo, a melancolia e a perda. E os personagens continuam sendo os destaques.
Um pouco de Lost
Não tem como negar a influência de Lost em International Assassin. Como fã de ambos, só tenho a agradecer a Damon Lindelof. O episódio tem início com Kevin acordando submerso em uma banheira. Ele está em um hotel. Lá ele encontra Virgil e recebe orientações. O objetivo é matar Patti e jamais beber água. Como Kevin morreu no episódio anterior, podemos supor que isso é um limbo. A sensação de estranhamento e a inquietação tomam conta. Não conseguimos tirar os olhos da tela. E vários personagens conhecidos aparecem, a maioria deles já mortos. Mary Jamison faz uma aparição rápida. Algo aconteceu com ela? Este limbo é bem semelhante aos polêmicos flash-sideways da última temporada de Lost, não acham? Mas nada impede que o veneno que Kevin tomou seja um alucinógeno e ele esteja pirando. Em que você acredita?
Epiteto
“Primeiro conheça a ti mesmo e então adorna-te de acordo”
Ao escolher a roupa, Kevin selou o seu destino. Provavelmente, se ele tivesse escolhido a roupa do policial teríamos uma história diferente neste episódio. Essa frase vem do filósofo grego Epiteto, um estoico que pregava que os indivíduos são responsáveis pelas próprias ações.
Mitologia Grega
O rio Lete era um dos rios de Hades. Quem bebesse dessa água esqueceria da vida passada. Kevin jamais bebe água neste episódio. Whisky não conta! Perceberam como Virgil mudou de atitude no final do episódio? Culpa da água.
Esse rio se faz presente na Divina Comédia de Dante, assim como o personagem chamado Virgilio, que funcionava como uma guia. As referências que Leftovers usa são incríveis.
International Assassin
Em sua jornada no além, Kevin encontra-se com Gladys, Wayne e Patti. Antes da reunião derradeira com o seu alvo, Kevin passa por um bizarro detector de mentiras. Quando ele diz que fuma para fazer todos lembrarem que o mundo acabou, ele ganha a confiança de Patti. Os dois tem conversas reveladores durante todo o episódio, sendo que uma delas escancara a ideologia dos Remanescentes Culpados. Se milhões desapareceram de uma hora para outra, por que criar laços? Por que amar?
Os detalhes do episódio são inúmeros e todos fazem algum sentido dentro do mundo de Leftovers. Vejam os pássaros, a comunicação com o pai de Kevin que está na Austrália, Neil procurando por uma mulher que satisfaça seu fetiche…
O fato é que essa Patti é uma sósia. Kevin terá que matar a versão criança de Patti, para assim se livrar do fantasma dela. A sequência no poço é daquelas que quem vê, não esquece. Atuações impecáveis, tensão e comoção. The Leftovers mostra porque tem um bom número de admiradores. É arte, é poesia.
Ressurreição?
Se morrer, ser enterrado e se levantar tem outro nome, eu não sei. Na metade do episódio alguém fala para Kevin fazer como Jesus e erguer os braços. Parece que ele entendeu outra coisa! Provavelmente, isso só foi possível no mágico solo de Jarden, o conduto entre o mundo dos vivos e dos espíritos.
The Leftovers mostrou o seu lado sobrenatural e místico aqui, aparentemente. Sempre sou favorável quando um seriado nos deixa livre para pensar e fazer nossas teorias.
Giuseppe Verdi
Que trilha sonora magnífica. International Assassin conta com a opera Nabbuco como trilha, mais especificamente o terceiro ato, chamado Va, Pensiero. Essa escolha aumenta ainda mais a tensão e nosso estranhamento. O episódio chega a ser surreal em alguns momentos.
Outras referências
Senti influências de Sopranos, Poderoso Chefão (explícita), David Lynch, Lars Von Trier e até Stanley Kubrick. Convenhamos, nomes de respeito. Não é à toa que estamos diante de uma obra-prima.
Uma dúvida
O que Virgil ganha por ajudar Kevin? O que ele ganha por se sacrificar? Acredito que ele deve ter se arrependido dos seus erros do passado e antes de partir decidiu ajudar alguém.
Em suma
Eis um momento único da televisão em 2015. Este foi um episódio perturbador, poderoso e fascinante. Mais questões foram levantadas, mas percebemos que os roteiristas tem tudo sob controle. Esperamos que eles tenham tempo para desenvolver tudo da maneira mais adequada. Ainda não temos confirmação sobre uma possível terceira temporada. Há material para mais umas duas, pelo menos.
Excelente temporada, excelente episódio e um excelente review. Parabéns a todos os envolvidos.
Só consegui pensar uma coisa durante todo o episódio: Eta porra, eta porra, eta porra!
Assistiu o 2×09?
Holy Shit!
sua review foi a MELHOR de todas as que li! Show! Depois vou postar minhas teor i as!
valeu, simon!!! abraços
Seguem minhas impressões, Bruno! (também postei no Maníacos)
1) Sobre a Mary… Ficou bem claro que ela pode estar no outro mundo sim. Aliás, ELA VIVE EM OUTRO MUNDO. Faz todo o sentido ela e o filho estarém lá. De quebra, já ficamos sabendo que será um menino, pelos balões que chegaram de presente.
2) A primeira Patti, para mim, era a Patti sim. A Patti mentirosa. Ou a falsa Patti. A que engana. A criança TAMBÉM era a Patti. Porque todos nós temos uma criança dentro de nós. E a do fundo do poço também era. Porque bem lá no fundo, bem lá no fundo, é onde estão as verdadeiras emoções, esta quem somos realmente. Também foram descobertas em camadas, como uma cebola!
3) Kevin estava no hotel com um nome de farsante. Não completamente. Seu sobrenome é Harvey, estava como Garvey. POrtanto…. Não tão diferente de Patti. Estava dizendo ser quem não era.
4) Para quem era o coração perdido no hotel?
5) Patti não conseguia se afastar de Neal. Bem, reforça a teoria de que os desaparecidos não eram desejados. Secretamente, até. Uma mãe que não queria o filho, uma mulher que não queria o marido, um homem que não queria uma amante… Realmente, quem foi não era muito querido!
6) A música gospel no final: I´ve been buked an I´ve been scorned: most done travelling. Em uma tradução livre: fui roubado, sacaneado, precisei continuar viajando. Uau. Kevin ainda tem lenha para queimar!
5 bacons e meio para esse epi!
1 – é verdade, o coma pode explicar a presença de mary naquele mundo. mas e a criança?
2 e 3 – esqueci desse detalhe do sobrenome do kevin, faz sentido! mas se aquela primeira patti realmente fosse a verdadeira, o trabalho do kevin não teria terminado já?
4 – será que vamos saber?
5 – 100%. todos que sumiram eram um estorvo pra alguém, como vc mesmo disse!
6 – leftovers consegue usar a trilha sonora como poucos. no episódio de ontem não foi diferente. é difícil não se emocionar,
esse episódio foi brilhante, como toda a temporada… 2×09 foi ótimo tb, mesmo focando uma personagem não tão bacana, não é?
1) A criança também está entre a vida e a morte. A gravidez é de risco!
2 e 3) Não terminou porque dentro de nós existem vários de nós… Complicado, né? Mas dentro do Bruno tem vários Brunos: a criança. O adulto. O adolescente. São vários. Já viu aquele o desenho “O Castelo Animado”? Lá tem bem essa idéia!
5) kkkkkk Eu te disse, eu te disse!
6) What a hell. Como conseguem? Se superam a cada epi! Mais ainda acho que vai tocar living on the Edge, do Aerosmith, em algum momento!
Eu achei, Bruno, de boa… Que… Foda, foda, foda. Vai ser difícil ter um melhor. Vamos ver hoje!!!
Bruno, não achei a review do 2×09, então postarei aquimesmo!
São os comentários que também compartilhei no Maniacos:
São tantos detalhes, mas tantos… Detalhes simples, idéias simples, que transformam a série em uma obra prima de complexidades. Vira arte, cada cena é rica demais.
Porém, o que mais me chamou atenção foram as músicas do episódio. Numa análise simples, são cheia de significados.
1) As músicas são, no geral, do Arkansas e região ou de Nova Iorque. Jarden fica em Texas. Mapleton, NY. Arkansas é uma região de lagos. Água. De novo. Tudo a ver.
3) Waden in the water. Música abolicionita, gospel. Classificada como “spiritual” por sua raiz cristã. Ande pelas águas, e Deus as “sacudirá”, tocará. Além da conexão regional, agregam-se as referências espirituais e, novamente, a água. Ao ressurgimento pela água. A fuga pela água. Esse é o meio para a transformação.
3) Promisse: músico de Arkansas, Sturgill Simpson. Música sobre amizade entre duas pessoas que não são amigas “at all”. Aliás, a música alerta:
“If you need a friend
Don’t look to a stranger”
“Se você precisa de um amigo
Não procure um estranho”
Pois é, Tom. #ficaadica
4) Let the Mistery Be. What a surprise… Arkansas, again! Iris Dement é de lá. E a música é, digamos… Agnóstica. Sobre religião, mas agnóstica. “Todos querem saber da onde vieram e para onde vão. Eu não sei ao certo. Eu acho que… Deixe no mistério”
5) White Lines (DOn´t Do It): A música diz. Não faça isso. Desde o início. Mais um sinal? Além disso, a música é sobre cocaína (white lines). 1983 “White Lines ( Não Do not Do It ) ” foi a música de partida (departure, saca?) do compositor nascido dos anos 70 Grandmaster Flash, do disco ” The Message ” (a mensagem)
6) Magic, com Olivia Newton-John. Vem do lp Xanadu. Sim, Xanadu. A terra mágica, prometida. Ou Shang Du. São dois os significados mais antigos:
a)Xanadú, Xanadu, Zanadu ou Shangdu (Shàngdū em pinyin) era a capital de verão do Império Mongol de Kublai Khan, império que chegou a ocupar grande parte da Ásia. Achados arqueológicos concluíram que a cidade estava situada na atual província da Mongólia Interior, na China. A cidade era dividida em três: a «cidade exterior», a«cidade interior» e o palácio, onde Kublai Khan permanecia durante o verão. Acredita-se que o Palácio de Xanadu era parte da Cidade Proibida, em Pequim. Os restos atuais mais visíveis são as muralhas em terra bem como a plataforma circular de azulejos no centro da cidade interior. (fonte wikipedia)
b)Um sonho dos jovens poetas
(Embaixo desse solo jaz um poeta, ou o que restou dele. Ergam um pensamento em favor de Samuel Taylor Coleridge, foi ele quem durante muitos anos, arfando, encontrou a Morte em Vida, enquanto tentava encontrar Vida na Morte.)
S. T. Coleridge, 1834
Numa estrada para Gales, em junho de 1794, o jovem Samuel Taylor Coleridge, então estudante de Cambridge, encontrou-se com Robert Southey, um outro poeta como ele, que também mal ultrapassava os 20 anos. Amigaram-se a primeira vista. Não demorou para que os dois rapazes, que recém haviam lido Platão, imaginassem partir para a Am�rica para irem construir a sua república: uma pantisocracia, uma sociedade totalmente igualitária, chamada Xanadú. Nela, durante o dia, todos lavrariam as terras, e ao cair da tarde, banhados e vestidos, se dedicariam a reproduzir naquelas pradarias selvagens, o banquete plat�nico. Os poetas e suas companheiras passariam as noites em tert�lias, lendo, discutindo alta filosofia e os destinos da humanidade. Chegaram at� a escolher o local exato desta l�rica sociedade: seria instalada na beira do Rio Susquehanna, na Pensilv�nia.
fonte: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/index_cultura.htm
Bem, são tantos detalhes… Meg querer engravidar deTom (havia escrito isso quando ele foi estuprado, aqui mesmo, na review Série Maniacos)… Enfim. MOstram detalhes que muita coisa não acontece por acaso em Leftovers. E muitos são os sinais.
Primoroso.